Segurança



Chacina em Penha

Um ano depois, irmãs de Liquinha contam que perdoaram o irmão, mas sentem medo que ele saia da cadeia

Carminha, Silvia e Maria Sueli receberam a reportagem de "AN" na tarde de quarta-feira

07/12/2013 - 11h24min

Atualizada em: 07/12/2013 - 11h24min


A busca constante pelo por que e a necessidade de superar a ausência e a dor são a herança que a chacina de Penha deixou para a família Flores há exatamente um ano. Desde que Luiz Carlos Flores, o Liquinha, confessou à polícia ter matado a marretadas a mãe e a marteladas a irmã, o sobrinho e o pai na noite de 7 de dezembro do ano passado, as irmãs Carminha Carmem Flores, 47 anos, Silvia Carmem Flores dos Santos, 44 anos, e Maria Sueli Flores, 40 anos, tem de enfrentar a saudade que sentem de Carmem Cunha Flores (Carminha), Leopoldina Carmem Flores (Preta), Luiz Nilo Flores (seu Lica) e Pedro Henrique Flores. 

- Foi uma perda que machucou demais, ainda mais sabendo por quem foi - diz Silvia.

As três, que continuam morando em Penha, são unânimes ao dizer que nunca imaginaram que o irmão pudesse matar parte da família, como é acusado pela Polícia e pela promotoria. Elas sabiam, assim como os outros cinco irmãos, que ele usava drogas e tinha problemas com bebida, e, por conta disso, não tinham uma relação próxima com Liquinha.

Maria Sueli conta que era comum reunir a família em sua casa nos fins de semana, mas que não convidava Liquinha porque ele acabava bebendo demais. 

- Teve uma vez que a gente estava fazendo uma pizza aqui em casa e ele ficou incomodando todo mundo, não deixou o pai e a mãe comer direito. Ficava dizendo que amava todo mundo, que iria parar de beber - lembra.


Perdão

Cerca de um ano antes da chacina, Maria Sueli conta que Liquinha estava na Praia Vermelha, em Penha, e que uma família acabou escorregando no costão e caindo no mar revolto. 

- Ele se atirou na água e salvou o menino - lembra, parecendo não acreditar que estava falando sobre a mesma pessoa.

Apesar das irmãs dizerem que o perdoaram e que não sentem raiva, após ele ter sido preso, elas só o viram em uma das audiências do processo e também não cogitam visitá-lo na prisão. Apenas desejam que ele pague pelos assassinatos dos quais é acusado.

- Na verdade não foram quatro, foram cinco que morreram - diz Maria Sueli, que admite sentir medo de um dia Liquinha sair da cadeia. 


Semana difícil

Maria Sueli conta que desde que ocorreu a chacina, uma angústia passou a fazer parte da vida dela, um medo constante de que algo ruim aconteça. Sensação que aumentou nesta última semana.

- Até estava comentando com a Silvia que quero que essa semana passe rápido - disse.

Ela também decidiu não fazer a unha neste sábado, já que quando recebeu a ligação sobre o crime, um ano antes, estava com uma amiga manicure na casa dela. 

- A minha prima me ligou e disse: corre lá na casa da tua mãe que tem Polícia e bombeiros lá. Nunca passou pela minha cabeça que estavam todos mortos - recorda, ela que se despediu dos pais, sem saber, uma hora e meia antes de serem mortos ao falar com eles por telefone.   


As lembranças boas que ficaram 

Silvia conta que ainda não se acostumou com a ausência dos pais, da irmã e do sobrinho. Nos fins de semana ela ainda se pega pensando em Preta e Pedro Henrique, que costumavam frequentar a casa dela. Lembra das brincadeiras entre o menino e a filha, de idade parecida, e que Pedro Henrique "gostava de comer sucrilhos com leite bem gelado". 


- Dá aquela angústia, aquela vontade de falar, de ouvir a voz da Pepê (como carinhosamente chamava a irmã, Leopoldina) - disse.

Ela revela que ainda não apagou os telefones da mãe, salvo como "vovó Carminha" e da irmã, salvo como "Pepê", como carinhosamente chamava a irmã, do celular. Para tentar amenizar a saudade, ela e Maria Sueli costumam ir todo dia 7 ao cemitério visitar os túmulos dos familiares. Além de assistir vídeos e ver fotos deles.

- Nós ficamos órfãos da noite para o dia em questão de segundos - desabafa Silvia.

Carminha, que ia todos os dias a casa da mãe, sente falta de conversar com ela e, inclusive, de fazer companhia para ela até altas horas à espera de Liquinha, já que ela não dormia enquanto o filho não chegasse em casa. 

- Nada, nada vai preencher esse vazio e vai curar essa ferida que a gente tem dentro do peito. Cada dia a saudade fica maior. Sinto falta de ouvir aquela benção dela, de ouvir o meu sobrinho, a minha irmã - conta Carminha, enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto.

Está marcada para hoje às 19h30 uma missa em homenagem a dona Carminha, Preta, Pedro Henrique e seu Lica, na Igreja São Judas Tadeu no bairro de Armação, em Penha.


Detido em Florianópolis 

Após o Tribunal de Justiça manter a decisão de submeter o réu Luiz Carlos Flores, o Liquinha, à juri popular na Comarca de Balneário Piçarras, em setembro deste ano, a defesa dele contestou a decisão do desembargador do TJ Ricardo Roesler, que negou a internação de Liquinha em uma clínica para dependentes químicos e que o processo voltasse a tramitar em segredo de justiça. Mas esse recurso também foi negado em novembro deste ano.

Nos próximos dias, o processo deve retornar a Comarca de Balneário Piçarras e, se a defesa de Liquinha não recorrer mais uma vez, o processo ainda pode tramitar no Superior Tribunal de Justiça, o juiz da 2ª Vara de Piçarras, Alexandre Schramm, vai conceder cinco dias para a acusação nomear as testemunhas arroladas para o júri e depois mais cinco dias para a defesa. Em seguida ocorre o sorteio dos jurados e é definida a data do julgamento. 

Atualmente, Liquinha está detido no Complexo Penitenciário de Florianópolis.


Contraponto

A advogada de Luiz Carlos Flores, o Liquinha, Débora Salau do Nascimento, foi procurada pela reportagem e disse que está em licença maternidade e não respondeu se irá ou não recorrer da decisão do Tribunal de Justiça para levar o processo para o Supremo Tribunal Federal.  

Carminha, Silvia e Maria Sueli visitam o túmulo dos familiares todo dia 7 de cada mês

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