Novos caminhos
Sobreviventes do incêndio na boate Cromañon prestam solidariedade em Santa Maria
Familiares de vítimas da tragédia argentina falaram sobre a luta para que os responsáveis não ficassem impunes

Familiares de vítimas e sobreviventes do incêndio na discoteca República Cromañon, ocorrido há quase dez anos na cidade de Buenos Aires, na Argentina, estiveram presentes em Santa Maria na manhã deste domingo, 26, para falar sobre a luta por justiça que empreenderam na última década para que os responsáveis por aquela tragédia não ficassem impunes.
Eles foram convidados pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) para participar do I Congresso Internacional Novos Caminhos - A vida em transformação, que começou ontem e segue até segunda-feira, no Centro Universitário Franciscano (Unifra).
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- Primeiro lutamos pela prisão dos responsáveis e só depois começamos o luto. É inconcebível pensar que alguém possa passar por esse momento. Se você está vivo, faça algo. Só a Justiça dá paz, e nosso trabalho nos anima a seguir - disse a argentina Nilda Gomez, que perdeu o filho Mariano Alex Benítez, de 20 anos, no incêndio de 2004.
A atuação da ONG Familias por La Vida, criada por ela e outros pais em virtude da tragédia, ajudou na responsabilização de 15 (todos atualmente presos) dos 20 processados após o incidente. Entre eles, quatro funcionários da discoteca e todos os músicos da banda. O representante do governo à época, Aníbal Ibarra, foi destituído do cargo após sofrer um processo político que entendeu ter havido responsabilidade dele no caso. Os outros cinco não punidos, entre eles o dono do estabelecimento, estão condenados em primeira instância e aguardando a decisão dos recursos.
Para Lila Tello, que também atua no ONG, e perdeu o genro no incêndio, a vinda dos argentinos para o evento irá criar laços entre os familiares dos dois países e ajudar os santa marienses para que o incêndio na boate Kiss, que matou 242 jovens no dia 27 de janeiro de 2013, tenha um desfecho no âmbito penal.
- Já que estamos unidos na dor, vamos também nos unir na luta contra a corrupção e a impunidade, para que isso não aconteça mais.
Bombeiros afirmam que aumentou a prevenção após a tragédia
Mais cedo, o tenente-coronel Luis Marcelo Gonçalves Maya, comandante do 4º CRB, de Santa Maria, afirmou que o Corpo de Bombeiros está dando mais ênfase nas vistorias e aumentou o efetivo no setor de prevenção após a tragédia. Quando uma força-tarefa foi criada na cidade, havia 1,8 mil edificações aguardando vistoria na região. Questionado se a corporação está preparada para atuar em situação semelhante, ele defendeu a atuação dos bombeiros no combate ao incêndio.
- O que aconteceu em janeiro, se tivéssemos hoje o dobro da estrutura teríamos perdas de vidas igual. A resposta dos bombeiros foi rápida. Se acontecesse hoje, precisaríamos igualmente da ajuda de outros órgãos para mobilizar mais pessoas, pela dimensão do que aconteceu. O trabalho de combate ao incêndio foi feito de forma correta, por isso a importância do foco na prevenção.
Atualmente, apenas 94 dos 497 municípios gaúchos têm corpo de bombeiros, e a corporação consegue atender 89% da população. Se fossem cumpridas as recomendações estabelecidas pela Organização das Nações Unidas, seriam necessários cerca de 11 mil bombeiros para o Estado. O Rio Grande do Sul possui apenas 2,9 mil.