Polícia



Justiça feita

De volta ao lar após provar a inocência

Polícia admitiu falha, e metalúrgico Sérgio Alexandre da Silva livrou-se da cadeia. Ele foi preso suspeito de integrar gangue

06/07/2012 - 06h21min

Atualizada em: 06/07/2012 - 06h21min


Pai e filho aliviados após o equívoco

Nos primeiros minutos da madrugada de ontem, o metalúrgico Sérgio Alexandre Costa da Silva, 39 anos, abraçou sua mulher. Entrou em casa, no Bairro Intersul, em Alvorada, e pediu desculpas à companheira, embora soubesse não ter culpa por passar dois dias preso em Santa Maria. A Polícia Civil admitiu que a prisão dele, em Alvorada, na manhã de terça, foi por engano.

O depoimento dele na DP da cidade da Região Central, horas antes, havia durado cinco minutos. Foi o tempo para que um álibi confirmasse o erro policial. Ao ouvir que era suspeito de dois furtos em restaurantes de Santa Maria nos dias 23 de março e 12 de abril, respirou aliviado:

- Então estou fora, senhor. Pode me liberar.

O delegado Marcos Vianna não entendeu. De imediato, o metalúrgico deu o número do telefone da área de recursos humanos da siderúrgica na qual trabalha, em Alvorada. E a confirmação veio pelos registros do ponto eletrônico. Sérgio trabalhou naquelas datas.

Ele guarda comprovantes

Em casa, ele guarda comprovantes de presença ao trabalho. É o costume de quem tem de provar inocência há sete anos.

O metalúrgico esteve envolvido de forma errada na ação contra a Gangue das Gordas. Tinha prisão temporária contra si, mas aparentemente teve o seu nome usado por criminosos. Em 2005, ele teve documentos furtados.

A agonia do pequeno Bruno

Foram quase dois dias em uma cela do Presídio de Santa Maria, usando um colchão e um cobertor molhados. Sérgio Alexandre não conseguiu comer, nem dormir. Pensava na esposa, que tem problemas cardíacos e foi surpreendida por policiais na terça. Também lembrava do filho, Bruno, de seis anos, que perguntava pelo pai a todo momento.

- Dissemos que o pai tinha viajado para trabalhar. O problema era não saber quando ele voltaria - conta Juliana, tia de Bruno.

O trauma de ser preso fez o metalúrgico refletir sobre a "má sorte" em concursos públicos. Desde que teve os documentos furtados, já teria passado em cinco seleções - INSS, Corsan, Dmae e duas vezes para a prefeitura de Cachoeirinha. Nunca foi chamado.

Prejudicado por traficantes

Sérgio lamenta:

- Só soube em 2008 que traficantes usaram meu nome. Depois de provar que era engano, acho que continuam fazendo isso.

Agora, Sérgio teme perder o emprego, em função da confusão gerada pela polícia de Santa Maria.

Dúvida já na chegada a prisão

A primeira constatação de equívoco policial e judiciário ocorreu na chegada de Sérgio à cadeia de Santa Maria. Como identidade e digitais não coincidiam, a funcionária na portaria ficou confusa.

A única vez em que esteve na cidade foi em 2005, antes de perder os documentos. Era encarregado de consertos de caixas eletrônicos.

Ainda assim, Sérgio foi colocado em uma cela. Só na tarde de quarta foi à DP e, já na chegada, agentes tiveram a certeza de que ele não era o homem investigado por atuar com as Gordas.

- Vi as imagens que a polícia tinha. Tem uma filmagem em que o ladrão aparece falando com o celular do lado esquerdo. Eu nem escuto desse lado! - revelou Sérgio.

A mulher apontada pela polícia como líder da gangue também confirmou que não conhecia Sérgio Alexandre.

Delegado fala em semelhança física com o suspeito

De acordo o delegado Marcos Vianna, a confusão não aconteceu só pelo uso indevido da documentação. Ele acredita que o erro foi decorrente de uma semelhança física.

- Tínhamos imagens de um furto a restaurante e cruzamos informações com as pessoas que agiam com a gangue. Uma das mulheres conhecia o irmão do Sérgio, que em 2002 foi preso no Litoral. A partir daí, chegamos a ele (metalúrgico).

Em depoimento, as duas mulheres presas corretamente deram o nome do homem que agiu no restaurante. Segundo o delegado, muito parecido com Sérgio.

Histórico

* Em 2005, Sérgio teve seus documentos furtados. Dias depois, um traficante foi preso usando sua identidade.

* O falso Sérgio foi liberado da prisão no final daquele ano, mas o processo continuou.

* Em 2008, Sérgio foi intimado a responder pelo crime de tráfico e apresentou álibis (requeria novos documentos quando da prisão do falsário).

* Em 2010, foi novamente chamado a depor. Voltou a provar o equívoco. Agora, o falso Sérgio pode estar envolvido com as Gordas.


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