Polícia



Drama em alta

Crime passionais contra mulheres aumentam 66,6% na Região Metropolitana

Em nove meses deste ano, 30 vítimas foram mortas por ciúme na Região Metropolitana. Em 2011, foram 18 casos no período. Para a polícia, solução passa por mudança cultural

03/10/2012 - 07h28min

Atualizada em: 03/10/2012 - 07h28min


Scheila: dor pela perda da filha

Às 22h30min do sábado passado, um aperto no coração foi sentido por Scheila Oliveira Dornelles, 47 anos. Completaram-se oito meses da perda brutal de sua filha Priscila, aos 21 anos, vitimada a tiros diante de uma escola de samba, em Canoas.

- Ela estava concretizando parte de seus sonhos, queria fazer faculdade. Mas esse rapaz nunca aceitou o fim do namoro - diz a mãe.

Priscila morreu pelo ciúme do ex-namorado - o suspeito apontado pela polícia, um taxista da Capital, foi assassinado quatro meses depois.

Isso que o tema é prioritário

Outro caso trágico foi o de Vanessa dos Santos, 20 anos, em Guaíba. Depois de um mês desaparecida, em abril o corpo foi encontrado enterrado no Horto Municipal da cidade. O suspeito foi preso em maio: um ex-namorado, inconformado com o fim da relação.

Desde 2006, com a Lei Maria da Penha, casos como esses viraram prioridade policial, mas os números estão longe da reversão.

Estatística que abala

Pelo levantamento do Diário Gaúcho, até o final de setembro morreram, ao menos, 30 mulheres na Região Metropolitana - vítimas de ciúme ou o sentimento de posse do companheiro. Representa 66,6% a mais do que no mesmo período de 2011: foram 18 casos.

- Dados como esse abalam até a gente, que milita na causa da proteção das mulheres - diz a titular da Delegacia para a Mulher da Capital, Nadine Anflor.

É preciso meter a colher nessa briga

A partir dos registros oficiais, que confirmam a tendência, o assunto foi tema de uma reunião do Conselhão do governo estadual. A intenção é agilizar as próximas ações da campanha "Basta de Violência contra a Mulher".

Para a delegada, a explicação para o drama não se resume à insuficiência da rede de proteção. É questão de machismo.

- Seis em cada dez vítimas nunca haviam procurado a polícia. Não pode mais existir o pensamento de que, em briga de marido e mulher, não se mete a colher - avalia.

Números da violência

Dados do DG - na Região Metropolitana e no Vale do Sinos:

Neste ano, pelo menos 30 mulheres foram assassinadas por motivos passionais. Aumento de 66,6% em relação aos 18 casos ocorridos até o final de setembro de 2011. Em todo ano passado, foram 21 crimes do tipo.

No total, incluindo outras causas, foram mortas 12,5% mais mulheres neste ano em relação ao mesmo período de 2011: saltou de 72 para 81 casos.

Dados da Secretaria de Segurança - no Estado:

Em 2012, 77 mulheres foram assassinadas por ciúme ou sentimento de posse. Em todo o ano passado, foram 46 casos. Aumento de 67%.

Entre 2006 e 2011 (cinco primeiros anos da Lei Maria da Penha), foram 327 casos, o equivalente a 65,4 mortes por ano.

Seis em cada dez vítimas jamais haviam procurado a polícia para denunciar um agressor.

A lei protege, mas...

A determinação judicial para que o ex-companheiro não se aproximasse de Eunice Cavalheiro Medeiros, 43 anos, em julho, não foi suficiente para impedir que ela fosse morta com um tiro na cabeça, no Bairro Ermo, em Guaíba. Em seguida, o homem se matou.

Com um histórico de dez anos de violência doméstica, Eunice havia tomado coragem e o denunciado. Levou o caso adiante, a Justiça a atendeu, mas quem controlaria o cumprimento deste afastamento do ex?

- É claro que falta controle das medidas protetivas, mas o problema é garantir o tratamento ao agressor. Muitas vezes cumprem as medidas, e até são punidos por descumprimento. Daqui a pouco reaparecem na DP suspeitos de agressão a outra companheira - conta Nadine Anflor.

Só em Porto Alegre, em 2011, foram 306 prisões em flagrante de agressores e 96 foram presos por desrespeito à medida protetiva. Ainda assim, 80% das mulheres não dão continuidade a processos ligados à Lei Maria da Penha.

Marcada pela violência

O assassinato de Taís Regina dos Santos, 35 anos, em frente a uma lavanderia do Bairro Moinhos de Vento, em abril, foi o final de uma trajetória de violência. Acostumada a ser vitimada, ela pode ter cometido o que é considerado pela polícia o maior pecado.

- Quando a violência se torna quase natural, a mulher não crê em ameaça de morte. Tem que acreditar sempre - comenta a delegada Nadine.

Desde 1996, Taís tinha registros como vítima de quatro parceiros diferentes, como se essa fosse uma rotina normal.

Quando foi morta, Taís estava morando em um abrigo e foi aconselhada a não ir trabalhar por um tempo. Mesmo recebendo ligações ameaçadoras do ex, ela manteve a rotina no serviço. E lá foi executada com quatro tiros. O assassino se matou em seguida.

Na porta dos agressores

A partir deste mês, o Estado anuncia medidas. Territórios da Paz serão projetos pilotos para as "Patrulhas Maria da Penha" da Brigada. O projeto da nova comandante do 19º BPM, tenente-coronel Nádia Gerhard, prevê emprego de PMs especializados em conflitos familiares.

Já a Polícia Civil intensificará palestras em escolas e empresas. A delegacia móvel da mulher irá aumentar a presença nos bairros.

Quando o tráfico é agente

Além dos crimes passionais, a polícia vive em alerta para o fato de mulheres se envolverem cada vez mais com o tráfico. Pelo levantamento do Diário Gaúcho, quase 40% dos assassinatos de mulheres têm relação com o tema.

- A consequência da entrada das mulheres na criminalidade é a reprodução ainda maior da violência. São famílias que já tinham o pai ausente. Agora, as mães também são ausentes - avalia Nadine.


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