Polícia



Elos da criminalidade

Das bombas para as bocas

Polícia admite: dinheiro levado de postos é usado no tráfico. Maior incidência de roubos coincide com regiões da Capital onde há mais pontos

04/04/2013 - 07h22min

Atualizada em: 04/04/2013 - 07h22min


Frentistas ficam à mercê dos criminosos

Abril começou com ritmo acelerado nos roubos a postos de combustíveis na Capital. Foram cinco ataques em dois dias, mais do que o dobro da média de março, de um por dia. Em breve, a Secretaria de Segurança deve apresentar aos donos de postos um estudo do serviço de inteligência da Brigada sobre os crimes.

Uma das constatações é de que os "saques rápidos" servem como capital de giro do tráfico.

- Observamos que a maioria dos roubos acontece em locais próximos a concentrações de pontos de tráfico. A maior parte dos roubos, com baixos valores, são praticados por usuários para comprar drogas, mas é possível que roubos em série estejam servindo para fazer caixa para as quadrilhas envolvidas na venda - afirma o chefe do setor de inteligência do Comando do Policiamento da Capital (CPC), major Leandro Luz.

Na noite de terça, um trio de criminosos, provavelmente do Bairro Bom Jesus, fez no intervalo de pouco mais de uma hora um "saque" superior a R$ 1 mil. Em um Vectra roubado, os jovens, aparentando entre 17 e 20 anos, atacaram, por volta das 21h20min, o posto da esquina entre a Avenida Ipiranga e a Cristiano Fischer. Levaram R$ 490.

Automóvel foi achado na Bonja

Cerca de uma hora depois, o mesmo carro foi identificado no roubo de R$ 150 no estabelecimento da esquina entre a Avenida Protásio Alves e a Ary Tarragô, no Bairro Protásio Alves. Outros 20 minutos se passaram e eles roubaram R$ 460 no posto da esquina entre as avenidas Protásio Alves e Antônio de Carvalho.

Por volta das 2h de ontem, o Vectra foi encontrado pela BM, abandonado na Rua 12 do Bairro Bom Jesus.

Dinheiro vai para o caixa de quadrilhas

Uma boca de fumo, de certa forma, segue a lógica do comércio. Para se manter, precisa de capital de giro, o dinheiro para troco ou para a reposição de drogas. Em geral, pequenos valores em notas trocadas. Este seria o ganho imediato dos traficantes com os roubos a postos.

Para o major Leandro, o caso da noite de terça-feira é um exemplo de como as ações estariam mais organizadas. Já não seriam só assaltos isolados, mas um planejamento de quadrilhas para arrecadar dinheiro e financiar outros crimes.

Grana até para advogados

- Na Bom Jesus estamos agindo de maneira incansável para conter uma facção - os Bala na Cara - cada vez mais estruturada. Roubos a postos podem servir para fazer "o caixa" do bando. Tanto para a manutenção das bocas quanto para custos como advogados para os criminosos que acabam presos ou, então, para aluguel de armas. O fato é que eles estão se capitalizando - argumenta o oficial.

Incidência nas áreas de tráfico

Desde o início do ano, o Diário Gaúcho faz o levantamento dos roubos a postos de combustíveis na Capital. A constatação é de que os cerca de 88 ataques de 2013 se concentram onde também estão as maiores estruturas do tráfico. São três eixos: Partenon, Bom Jesus e Rubem Berta. Juntas, respondem por 56,8% dos assaltos a postos.

- A ordem é agir com força máxima para conter essa onda de assaltos. Não nos limitamos mais às barreiras nos horários de maior incidência. Elas acontecem em todos os turnos, nos postos e nas entradas para as regiões onde sabemos que há pontos de tráfico - aponta o major Leandro Luz.

"É uma rede muito grande"

Segundo ele, a cada dia materiais apreendidos, como armas, drogas e carros roubados, impressionam.

- É uma rede muito grande e que precisamos sufocar - diz.

Sequência de assaltos

Os roubos em sequência escancaram como o crime age em cadeia na Capital. Tudo começou por volta das 18h, quando três jovens roubaram um Vectra, prata, na Avenida Nonoai, Zona Sul. Esse tipo de crime está entre os que mais crescem em Porto Alegre, com uma característica peculiar.

- O assaltante, em geral, não age na região em que mora, para evitar ser reconhecido - aponta o titular da Delegacia de Roubo de Veículos, Juliano Ferreira.

Três horas depois, iniciaram a série de roubos a postos. O "passeio" só terminou de madrugada, no Bairro Bom Jesus. É o berço da facção dos Bala na Cara e, em 2013, se configura como uma das áreas de maior concentração de homicídios na cidade, junto com o Rubem Berta e vilas do Bairro Partenon - as mesmas onde há maior incidência de roubos a postos.


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