Guerra do tráfico
Medo comanda nas ruas da Maria da Conceição
Moradores da vila do Bairro Partenon, na Capital, estão vivendo sob o toque de recolher
Dois assassinatos ocorridos na Vila Maria da Conceição, no Bairro Partenon, em Porto Alegre, em menos de 72 horas, entre os dias 5 e 8 de maio, fizeram ressurgir o toque de recolher entre os mais de 20 mil moradores da região. Desde quinta-feira da semana passada, as pessoas têm evitado andar nas ruas da área a partir das 20h. Escolas e creches liberam alunos mais cedo. BM pede calma à comunidade.
Os moradores dizem que a decisão teria partido da própria vizinhança.
Na quinta e na sexta-feira, uma creche e uma entidade social localizadas na Rua Mário de Artagão fecharam as portas antes do horário previsto, com a justificativa de que temiam tiroteios entre traficantes. Já na Escola Estadual de Ensino Médio Otávio Rocha, na Rua Guilherme Alves, uma professora confirmou que os alunos do turno da noite abandonaram as aulas mais cedo nas duas noites.
No sábado, foi adiada por tempo indeterminado a festa de Dia das Mães que ocorreria numa creche da vila. Ontem, a creche voltou a liberar as crianças mais cedo.
Todos evitam sair à noite
- Eu não via esse clima de tensão na vizinhança há tempos. Como os moradores já viveram outras situações parecidas, eles não esperaram um aviso e decidiram evitar a rua depois das 20h - contou um auxiliar administrativo, que vive há 40 anos na Vila Maria da Conceição.
Viaturas não dão tranquilidade
Nem mesmo as duas viaturas do 19º BPM, que estão permanentemente na vila, dão tranquilidade a quem voltou a conviver com o medo. Morando há quase 50 anos no coração da região, uma moradora afirmou temer a volta dos tiroteios constantes.
- Estávamos tranquilos, sem problemas. Só espero que essas duas mortes não sejam o início de um novo inferno por aqui. Ninguém consegue acabar com isso - desabafou.
Na madrugada de domingo, por volta das 2h30min, policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) foram acionados para desarmar uma granada abandonada numa das ruas da vila. A polícia ainda não sabe quem teria deixado o explosivo.
BM monitora a vila
De acordo com o comandante da 1ª Cia do 19º BPM, major Marco Antônio dos Santos Amaral, o monitoramento da região é constante. Pelo menos, 20 prisões por tráfico são feitas mensalmente na Maria da Conceição. Somente entre a noite de quinta e a tarde de sexta-feira passada, a Brigada Militar prendeu três homens por traficarem nas vielas estreitas da comunidade.
No sábado, por volta das 20h, um suspeito tentou atirar contra uma viatura e foi baleado na barriga. Ele foi socorrido pelos PMs e encaminhado para o HPS.
Com ele, foi apreendido um revólver calibre 38.
"Fumaça maior do que o fogo"
Na noite de ontem, pelo menos 20 PMs fizeram abordagens e barreiras no entorno da Vila Maria da Conceição, com a missão de garantir a segurança.
- Onde a incidência de tráfico é considerável, como é o caso da Maria da Conceição, quando morre um traficante, os moradores ficam temerosos de represálias. Mas, neste momento, a fumaça está maior do que o fogo. É preciso manter a tranquilidade. Estamos dentro da vila 24 horas, e a população não está desprotegida - garantiu o comandante.
O confronto
- Na noite de 8 de maio, Carlos Maurício Silva Rabelini, o Boquinha, 21 anos, foi morto com mais de dez tiros em uma casa, na Rua João do Rio. Boquinha era enteado do traficante Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição, que, mesmo preso, é apontado pela polícia como o patrão do tráfico da vila e um dos traficantes mais antigos ainda em atividade na Capital.
- Em 5 de maio, por volta das 19h30min, Bruno Bicca, 22 anos, foi executado com três tiros na cabeça, na frente de casa, na Rua Paulino Azurenha. Ele também faria parte do grupo de Paulão.
- A polícia suspeita que haja acordo entre os traficantes da Conceição e um grupo da Restinga para barrar o avanço da facção dos Bala na Cara na vila.
- A 1ª DHPP investiga as duas mortes ocorridas na Vila Maria da Conceição.