Polícia



Guerra do tráfico

Mortes e fogo expulsam moradores da Vila das Laranjeiras, em Porto Alegre

Conflito entre traficantes deixa um morto e seis casas destruídas em incêndios criminosos no final de semana passado

11/06/2013 - 07h22min

Atualizada em: 11/06/2013 - 07h22min


Com medo da violência, pessoas abandonam a região

O cheiro forte de fumaça impregnava o trecho final da Vila das Laranjeiras, no alto do Morro Santana, Zona Leste da Capital, ainda durante a manhã de ontem. Ao menos três moradias - em uma delas funcionava um bar -, na Rua Cinco, também conhecida entre os moradores como o Beco da Morte, haviam sido destruídas pelo fogo horas antes.

Um homem conhecido apenas como Cabana foi arrancado de uma delas e executado com cinco tiros. Outro, de 57 anos, atingido por um disparo no rosto, segue internado em estado grave no HPS.

Mas, ao redor dos destroços de eletrodomésticos e da madeira retorcida dos casebres, não se encontravam familiares lamentando a perda ou exigindo justiça. Todos ali sabem do poder dos traficantes e estão amedrontados.

Na madrugada de sábado, outras quatro casas haviam sido incendiadas na vila.

Fugindo da violência

Silenciosamente, um casal passou a metros das casas incendiadas, por volta das 10h, carregando o que podiam. A mulher, levando três malas, e o homem, puxando uma carroça com botijão de gás e todo o resto de um lar. Perguntados para onde iriam, desconversaram.

- A gente nem mora aqui, estamos tirando as coisas da minha mãe. Ela vai sair daqui por causa dessa violência, para morar com uma tia - explicou o rapaz, deixando transparecer que eram eles, na verdade, que abandonavam um dos casebres escondidos pela vegetação da área ocupada irregularmente.

Muitas casinhas naquela parte da vila já estão fechadas, provavelmente vazias. Os moradores que insistem em resistir armam estratégias para preservar o pouco que têm.

Casas estão à venda

- Hoje (ontem) nem eu, nem minha mulher, fomos trabalhar porque não dormimos a noite toda. Faz uma semana que a gente não sabe se vai conseguir dormir tranquilo. Se eu tivesse para onde ir, já tinha ido - desabafa um pedreiro de 42 anos, que vive há dez na vila com a esposa, doméstica, e os seis filhos pequenos.

Ontem, além das casas fechadas, ao menos cinco residências tinham placas de "vende-se".

Em janeiro, o tráfico impôs o toque de recolher na Vila das Laranjeiras. A briga entre os dois bandos fez sete mortos em 42 horas.

Invasão de encapuzados

A suspeita da polícia é de que tenha se acirrado a disputa, iniciada no final do ano passado, entre traficantes locais e seus rivais, ligados aos Bala na Cara, da Vila Safira, Bairro Mario Quintana. Há uma semana, Sidnei dos Santos, o Chicão, 24 anos, apontado como o principal líder do tráfico na Vila das Laranjeiras, foi executado com tiros na cabeça.

Os domínios da quadrilha já estavam restritos aos altos da vila e, com a morte de Chicão, os Bala tratam de expulsar os rivais que sobraram.

Conforme os moradores, durante toda a semana passada, ao anoitecer, entre quatro e cinco homens encapuzados e usando camisetas com a identificação da Polícia Civil invadiam a vila e até entravam em algumas casas. A ordem era para que os moradores saíssem dali.

A guerra

No final do ano passado, com a prisão do principal traficante local, um dos gerentes do tráfico na Vila das Laranjeiras teria traído a quadrilha e se aliado aos Bala na Cara, da Vila Safira, no Bairro Mario Quintana.

Em janeiro, a quadrilha resolveu vingar a traição. Foram seis mortes em sequência entre ataques de ambos os lados da Avenida Protásio Alves, que divide as duas regiões. Alguns envolvidos foram presos, mas o clima continuou tenso.

No final da noite do domingo, 2 de junho, Sidnei da Silva, o Chicão, 24 anos, apontado pela polícia como o líder do tráfico na Laranjeiras, foi atingido por tiros na cabeça durante um confronto que terminou na Rua Cinco. Ele morreu dias depois, no HPS.

A queda de Chicão, que tinha antecedentes por tráfico e homicídio, abriu caminho para a invasão dos Bala no último final de semana.

Brigada promete reforço na vila

De acordo com o comandante do 20º BPM, major Alexandre Beiser, a partir da noite de ontem o policiamento estaria reforçado na Vila das Laranjeiras.

- É o horário mais tenso para os moradores, então vamos agir para dar essa tranquilidade enquanto os casos são investigados. Estamos deslocando todo o nosso efetivo do Pelotão de Operações Especiais (Poe) para esta comunidade - explica o oficial.

Os casos são apurados pela 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa. A suspeita é de que as mortes sejam consequência da guerra entre quadrilhas que é investigada desde janeiro.

Na sexta passada, um jovem de 18 anos foi preso na região, apontado como autor de duas das seis mortes em sequência nas primeiras semanas do ano.


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