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Pasc se mantém como central do crime
Volta de Maradona à Pasc pode agravar um problema não solucionado desde sua transferência, há mais de dois anos. Celas continuam sendo escritórios do crime
A preocupação das autoridades a partir da volta de Paulo Márcio Duarte da Silva, o Maradona, a uma das galerias da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), para o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais (VEC), não é o maior problema. É apenas mais um deles.
- O Maradona foi afastado do Estado há mais de dois anos porque mantinha as suas articulações com o uso de telefones e de outras formas de contato. A cela dele era um escritório. Ele voltou, e algo mudou? - questiona o juiz.
Entre as justificativas usadas para a transferência do líder das facção Os Manos à Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) estava a dificuldade do Estado, naquele momento, de controlar as articulações do criminoso, mesmo dentro de uma penitenciária considerada de alta segurança.
Realidade ainda é crítica
- Não tínhamos e continuamos não tendo uma penitenciária deste padrão. O Estado ganhou tempo para fazer melhorias, mas a realidade ainda é crítica. Não é só o Maradona. Qualquer articulação que se faz dentro da cadeia, se reflete nas ruas. Enquanto o sistema continuar assim, não teremos nenhum avanço significativo - diz Sidinei Brzuska.
Em abril de 2011, quando Maradona embarcou para o Paraná, o juiz enviou um ofício à Susepe perguntando quais projetos estavam em andamento para aumentar o controle na Pasc. O órgão estadual pediu tempo e prometeu melhorias.
Falta o bloqueio de aparelhos
Há duas semanas, com a volta do criminoso, Brzuska voltou a questionar. Ao Diário Gaúcho, o Departamento de Segurança da Susepe informou, por e-mail, quatro medidas que teriam sido tomadas nesse período: a implantação de circuito interno de videomonitoramento; instalação de detectores de metais; intensificação nas revistas; aperfeiçoamento do sistema de ingresso de todas as pessoas.
Desde o começo de 2012, porém, o sistema de bloqueio de celulares na área da Pasc não passou da fase de testes. Neste período, como confirmam investigações policiais, mortes, redes de tráfico e até guerras continuam sendo articuladas a partir das celas individuais de Charqueadas.
A central do crime
Fugas e morte
- Maradona foi transferido em abril de 2011. Até aquela data, somente um criminoso, Papagaio, havia conseguido fugir da Pasc.
- Em junho de 2011, Sandro Alexandre de Paula, o Zorelha, fugiu usando uma corda de lençóis para escalar o muro. Em fevereiro do ano seguinte, o detento Michel Bonotto trocou de lugar com o irmão Richely, escapando pelo portão da frente.
- Em março de 2012, o detento Fabiano Rosa Pereira, o Tcheco, foi encontrado morto, enforcado com uma corda, na galeria A.
O "escritório" continua ativo
- Em maio de 2011, uma apreensão de maconha mostrou ao Denarc que Néri José Soares, considerado um dos maiores traficantes do RS, controlava a entrega de dentro da Pasc.
- Em junho de 2011, o advogado Edmundo Corrêa Alves Júnior, 43 anos, foi executado em Cachoeirinha a mando de um detento da Pasc.
- Em maio de 2012, o Ministério Público revelou um esquema de negociação de armas, por celular, que envolvia policiais de Cachoeirinha e Gravataí para "clientes" presos na Pasc.
- Em maio de 2012, uma investigação do Denarc mostrou como Lúcio Dobronaldo Subtil Simões, o Velho Lúcio, dava as cartas no comando do tráfico em Viamão e na Zona Sul da Capital, de dentro da Pasc.
- Em julho de 2012, a polícia desarticulou uma quadrilha de traficantes no Litoral Norte, coordenada a partir da Pasc.
- Em outubro de 2012, foram presos dois homens apontados como matadores em Alvorada. Eles agiam a partir do comando dos Bala na Cara, presos na Pasc.
- Desde o começo de 2013, o traficante Minhoca, líder dos Bala na Cara no Bairro Mario Quintana, na Zona Norte da Capital, daria as ordens a partir da sua cela para que os comandados imponham o terror na Vila das Laranjeiras.
Até metralhadora no Central?
Foto: Reprodução, facebook
A facilidade com que presos usam celulares foi escancarada, mais uma vez, na tarde de ontem. O detento do Presídio Central Vanderson Ferreira dos Santos, 26 anos, postou, no facebook, no dia 31 de julho, fotos dele - e de duas metralhadoras e uma pistola.
Há postagens de fotos ao menos desde outubro de 2012. O preso aparece fazendo poses na cela e no pátio do Pavilhão D.
O que as autoridades ainda não sabem é se as fotos das armas foram feitas pelo preso.
- Acho difícil que esse armamento pesado tenha passado lá para dentro, mas é uma página em rede social visivelmente mantida pelo detento - afirma o juiz Sidinei Brzuska.
A denúncia chegou na tarde de ontem à Vara de Execuções Criminais (Vec) de Porto Alegre, e pegou a Susepe de surpresa. Ainda ontem, Vanderson foi ouvido. Admitiu ter postado as fotos e entregou um celular à direção do presídio. Ele alegou, no entanto, que as fotos das armas foram copiadas da internet.
Apesar disso, foi solicitada a abertura de inquérito policial para investigar se armas teriam ingressado no Presídio Central.
Vanderson cumpre pena por latrocínio (roubo com morte).