Polícia



Cidade ameaçada

Tráfico faz crimes explodirem em Alvorada

Sete pessoas assassinadas em 13 dias. Os índices poderiam ser de uma metrópole, mas representam a situação de Alvorada, na Região Metropolitana, em 2014

14/01/2014 - 10h19min

Atualizada em: 14/01/2014 - 10h19min


Considerada há anos como uma das mais violentas cidades da Região Metropolitana, Alvorada se mostra indefesa ao avanço do tráfico. Que traz consigo o aumento dos homicídios, roubos, ataques a ônibus e outros crimes. A Brigada Militar mapeou 340 bocas de fumo no município de pouco mais de 72km quadrados e 195 mil habitantes. Significa uma média de um ponto de venda de drogas para cada 600 pessoas. Ou uma boca de fumo a cada 20 quadras.


Como resultado, a população vive refém da violência e da insegurança. A Polícia Civil e a Brigada Militar reconhecem o problema e traçam estratégias para conter o avanço dos traficantes.


- De 2012 para 2013, conseguimos fazer baixar de 137 para 96 o numero de homicídios. Em conjunto com a Polícia Civil, prendemos quadrilheiros e homicidas. Fazemos nosso serviço, mas a droga é um problema social, cuja conta cai toda para cima da Brigada Militar - defende-se o subcomandante do 24º BPM, major Marcelo Couto.


Ataques a ônibus são "caixa-rápido"


Outro crime que desafia a polícia este ano é o roubo em ônibus. A 3ª DP, que atende o Centro e é responsável por cerca de 50% da cidade, desde dezembro registra uma média de três ataques por dia.


- Estamos tentando identificar os responsáveis, mas precisamos do apoio da comunidade para que denunciem. Já temos algumas características dos criminosos - informou o chefe de investigações da delegacia, Edson Santos da Trindade.


O policial não tem dúvida: os roubos são, na sua imensa maioria, praticados por usuários de drogas. O chefe do serviço de inteligência do 24º BPM, sargento Renato, concorda:


- Temos catalogados 15 homens, presos diversas vezes por ataques a ônibus. Os roubos ao transporte coletivo e a pedestre são os caixas-rápidos dos drogados.


E as consequências desse clima de violência e insegurança tiveram uma prova concreta ontem: um assaltante acabou morto depois de uma briga com o cobrador e o motorista de um coletivo (leia na página ao lado).


FALTAM PMS. E TENDE A PIORAR


Para tentar minimizar a onda de violência na cidade, o 24º BPM mandou para as ruas a maior parte do contingente administrativo. Foi instituída em algumas regiões a presença do policial de bicicleta. O problema é o caminho inverso: neste começo de ano, o batalhão perdeu pelo menos 30 PMs, a maioria destinados para a Operação Verão, que reforça as patrulhas no Litoral. Eles só devem retornar ao final do veraneio.


E o ano promete ser de trabalho intenso. Os destacamentos do Pelotão de Operações Especiais (Poe) vão passar dois meses (entre treinamento e serviço) destinados a cobrir a Copa do Mundo. Em março, no Carnaval, e e entre outubro e novembro, devido à eleição, nenhum soldado poderá sair de férias. O subcomandante Couto evita falar em falta de policiais, mas deixa claro:


- Não há como fazer milagres. Temos menos meses para remanejar as férias dos PMs. Em algum momento, isso tem de ocorrer.


O grande "empregador"


No ano passado, o 24º BPM começou a fazer um mapa da distribuição de drogas na cidade. O resultado surpreendeu os PMs. São pelo menos 340 bocas de fumo, boa parte delas na região dos bairros Umbu e Salomé.


- Em 2013, fizemos 120 prisões nesses locais. Mas o contingente de operadores do tráfico, temos certeza, é muito maior - diz o sargento Reinaldo.


Mais de 3 mil detidos no ano passado


O número de detidos por posse de drogas na cidade, em 2013, superou 3 mil pessoas.


- Temos o caso de uma mãe que procurou um traficante para pagar a dívida do filho, mas o criminoso disse que ele morreria de qualquer maneira, para se tornar um exemplo. Quando a mulher veio nos procurar, dois dias depois, o rapaz havia sido assassinado horas antes. É o tribunal do tráfico - relatou o major Couto.


Pelos cálculos da BM, cada ponto de tráfico emprega pelo menos dez pessoas, entre olheiros, vapozeiros, soldados e patrões. Isso transforma a venda de drogas, de longe, na maior maior "fonte de emprego" da cidade.


Ladrão morre em assalto a ônibus


A Polícia Civil de Alvorada aguarda pelas imagens das câmeras de segurança do ônibus da linha L2 para apurar o que aconteceu durante um assalto na noite de domingo. O ladrão, que morreu após lutar com o cobrador e o motorista, não havia sido identificado até ontem.


- Ainda não sabemos se ele morreu em razão das agressões ou se de um mal súbito - disse o delegado André Anicet, da 3ª DP.


Por volta das 22h, o homem embarcou no ônibus. Na Avenida Salomé, no Bairro Maria Regina, ele anunciou o assalto, utilizando uma arma falsa, feita com pedaços de cano e fita isolante. O cobrador e o motorista teriam percebido o truque e entrado em luta com o ladrão.


- Segundo o relato da ocorrência, eles teriam impedido o homem de sair do ônibus porque pedestres ameaçaram linchá-lo do lado de fora - disse André.


MÉDIA SUPERA CINCO ASSALTOS POR DIA


Embora a polícia tenha conseguido conter o avanço das mortes, não teve como segurar o aumento dos roubos em 2013.


- É o caminho lógico do usuário de droga, que, de pessoa de bem, passa a assaltante para sustentar o vício - diz o major Couto.


Em 2012, entre estabelecimentos comerciais, residências, pedestres e outras vítimas, a Brigada Militar registrou 1.410 roubos. Em 2013, o número saltou para 1.902 - aumento de quase 35%.


Na semana passada, a reportagem acompanhou um turno do Poe, em patrulhas pela cidade.


- Esse aqui já é nosso cliente. Revistamos ele agora há pouco e sentimos o cheiro de droga nas mãos dele, mas nada tinha em seus bolsos. Agora, pegamos com isso aqui - apontou o sargento Oliveira, mostrando duas pedras de crack tiradas dos bolsos de um rapaz de 23 anos.


A prisão ocorreu no Beco do Natal, na Vila Americana, considerado pela BM um forte ponto de consumo de drogas. No final da rua de chão batido, os PMs encontraram 11 cachimbos de crack próximos a um barracão abandonado - segundo os moradores, todas as noites, usuários da droga se encontram no local.


"Sensação é de enxugar gelo"


- Fazemos a nossa parte, mas a sensação é a de enxugar gelo. É muito criminoso envolvido com o tráfico, não tem como dar conta - relatou um soldado.


O sargento Oliveira assegurou que as incursões no beco são "praticamente diárias".


- Eles tinham de vir mais vezes ainda. Depois que os traficantes começaram a disputar cada pedacinho de chão, cada usuário, isso aqui virou um inferno. E quase toda a cidade está assim - relatou um morador.


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