Polícia



Boletim de Ocorrência

Renato Dornelles: "O coração de Gisele"

17/08/2015 - 11h58min

Atualizada em: 17/08/2015 - 11h58min


Uma familiar de Gisele Santos confidenciou-me que a jovem sente-se triste, muitas vezes, ao ler comentários feitos em publicações acerca de seu caso. Para quem não lembra, Gisele, há três semanas, teve as mãos e os pés decepados pelo ex-companheiro, em São Leopoldo, e ficou quatro dias entre a vida e a morte.

Os comentários que incomodam Gisele são os que a criticam por afirmar que perdoa o agressor, mas que quer sua prisão e condenação, ao mesmo tempo em que acredita na "justiça de Deus". Ou seja: a jovem não quer vingança. Pede apenas o cumprimento da lei dos homens, depositando toda a fé em um julgamento divino.

"Perdoo, mas quero que ele fique preso", diz jovem que teve as mãos decepadas pelo companheiro

Na sociedade violenta em que vivemos, não é de se estranhar que Gisele receba críticas por pensar assim. E não estou falando somente da violência da criminalidade que a cada dia nos surpreende, mesmo tendo se tornado corriqueira. Refiro-me ao ódio nada mascarado que tem imperado nas ruas e nas redes sociais pelos chamados "cidadãos comuns" ou "pessoas de bem".

Querem prova maior do que o acirramento das discussões no cenário político? Como sempre ocorre em nosso país, os debates (se é que assim podemos chamá-los) estão polarizados. Mais do que isso, extremados. E cada um que demonstra um pensamento contrário é visto como um inimigo real. Inclusive os que "ousam" optar pela neutralidade ou a buscar uma terceira via. Coisa do tipo: "se não seguir a minha cartilha é porque joga no time contrário".

Jovem que teve as mãos decepadas responde a questionamentos feitos por internautas

Aos adversários, cada vez mais, vemos sugestões em tom de graves ameaças. De um lado, cartazes nas ruas ou posts nas redes sociais pregando tortura e morte de rivais. Do outro, a defesa de que se recorra até a armas para enfrentar os oponentres.

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Então, num país com alto índice de criminalidade (e muitos desses crimes cometidos com requintes de crueldade), onde se prega e se chega a praticar violência em discussões políticas e de futebol, e que muitas vezes a intolerância se apresenta nas formas de racismo, machismo ou homofobia, não é de se estranhar que Gisele seja criticada por não manifestar o desejo de vingança. Pessoas justas e desprovidas de ódio são corpos estranhos por aqui.


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