Publicado no Diário Oficial
"Problema de comunicação" faz governo homenagear policiais investigados por propina
Renato Almeida Bejoso e Adalberto Azambuja Flores respondem por participação em esquema de telentrega de drogas
Dois policiais investigados por suspeita de receberem propina de traficantes aparecem em uma lista de homenageados pelo governo gaúcho. Os nomes dos comissários Renato Almeida Bejoso e Adalberto Azambuja Flores constam no Diário Oficial do Estado (DOE) desta sexta-feira (30).
Os dois foram investigados pela Corregedoria da Polícia Civil (Cogepol) e acabaram presos em agosto deste ano. Azambuja obteve habeas corpus e responde em liberdade. Já o outro segue detido.
O corregedor Marcos Meirelles classificou a situação como um "problema de comunicação", sem especificar em que momento isso aconteceu. A definição dos nomes a receber a medalha de mérito de investigação criminal foi decidida em reunião no Conselho de Administração Superior da Polícia Civil, em data não revelada, com a participação dos diretores dos departamentos.
Meirelles, que participou do encontro, explica que foram escolhidas as investigações mais relevantes. Na época, segundo o corregedor, já havia sido definida a retirada dos nomes de Azambuja e Bejoso da lista dos que receberiam a medalha.
— Ninguém pretendeu premiar dois policiais que estão sendo processados — salienta Meirelles.
Em entrevista a GaúchaZH, o subchefe da Polícia Civil, Leonel Carivalli, observou que a votação dos trabalhos ocorreu antes da prisão dos dois comissários, ocorridas em agosto deste ano.
— Na época, eles não tinham situação criminal de hoje.
O delegado observou que a corporação, ao identificar a homenagem equivocada na manhã desta sexta, pediu à Casa Civil que fosse feita a correção.
— A Polícia Civil não quer e não vai homenagear os dois — salientou o subchefe.
No fim da tarde, o Diário Oficial do Estado foi republicado, sem os nomes de Bejoso e Flores entre os homenageados.
Telentrega de drogas
Os dois policiais são investigados por participação em um esquema de telentrega de drogas para frequentadores de "médio e alto poder aquisitivo" de bares da Cidade Baixa e Moinhos de Vento. O Ministério Público (MP) apresentou denúncia contra os dois, que acabaram virando réus no final de outubro.
O sistema de telentrega de drogas tinha cadastrado 6,4 mil clientes. Os pedidos vinham por Whatsapp e as entregas eram feitas por motoboys.
Segundo denúncia do MP, Bejoso teria recebido por mês entre R$ 3 mil a R$ 5 mil do tráfico de drogas, entre 2015 e março de 2018. Como contrapartida, faria "vistas grossas" para o telentrega de drogas.
"Em razão dos pagamentos, o denunciado repassava informações acerca das investigações, informava antecipadamente sobre diligências policiais que seriam realizadas, informava acerca de equipes responsáveis por determinadas investigações (inclusive sobre a viabilidade de com ela negociar a não evolução da investigação), barrava investigações, evitava prisões, e, ainda, repassava informações quanto a atuação de concorrentes ou de pessoas que lhe prejudicaram a associação de modo a que fossem investigados ou presos", detalha a denúncia.
Além disso, foram encontradas drogas no carro de Bejoso e uma pistola escondida em um compartimento oculto. No mesmo dia, também foi localizada outra pistola em um veículo discreto utilizado pelo policial.
Azambuja é apontado, junto com Bejoso, por exigir dinheiro de dois homens para evitar que fossem presos. Deles foi exigido entre R$ 80 mil a R$ 100 mil para "morrer a investigação" e um pagamento mensal de R$ 5 mil. Segundo a denúncia, os valores acabaram não sendo pagos.
Contrapontos
Arima da Cunha Pires, advogada de Renato Almeida Bejoso, afirma que a homenagem prestada pelo governo gaúcho comprova que seu cliente sempre foi uma pessoa correta e dedicada ao serviço público, e que, até que se prove o contrário, Bejoso é inocente.
— Ele não foi condenado, está respondendo aos processos. Desde o primeiro momento em que eu falei com a imprensa, expliquei que o meu cliente é uma pessoa que dedicou 25 anos ao serviço público. Esta homenagem reforça a minha colocação, e demonstra que, independentemente de ele estar sendo processado agora, era um dos melhores policiais que a Polícia Civil tinha — disse.
Marcilene Novo, advogada de Adalberto Azambuja Flores, afirma que a homenagem é justa, pois há mais de 30 anos seu cliente presta serviços à segurança pública (primeiramente como policial militar e depois como policial civil).