Crime organizado
Tráfico de maconha torna Chuy o município mais violento do Uruguai
Nos últimos 16 meses, município registrou oito de 23 assassinatos na fronteira e, proporcionalmente, é o que tem mortes no país vizinho
Visto como um paraíso pelos jovens adeptos à liberação do consumo da maconha, o Uruguai lida agora com efeitos colaterais dessa decisão. Foram cometidos 23 homicídios — sendo oito no país com a droga legalizada — nos últimos 16 meses nas cidades fronteiriças de Chuy (Uruguai) e Chuí (Brasil), o que tornou o município vizinho o mais violento do território uruguaio, proporcionalmente ao número de habitantes. E as autoridades atribuem os assassinatos a um motivo: disputa pelo controle do envio da erva aos uruguaios.
É permitida há mais de dois anos a venda controlada de maconha em alguns estabelecimentos uruguaios, mas não há produção da droga em quantia suficiente para a demanda. É necessário importar para atender o consumo. O maior fornecedor, pela proximidade, é o Paraguai. E o fornecimento é feito de forma ilegal, por traficantes, inclusive com uso do território gaúcho como rota de passagem.
Não por acaso são gaúchos os envolvidos por trás da onda de assassinatos, sem precedentes naquela região. É para conter essa escalada de violência que a PF desencadeou, nesta terça-feira (13), a Operação Strike. Mais de 60 agentes federais cumpriram 14 mandados de prisão preventiva e 11 de busca e apreensão, em Santa Vitória do Palmar, Chuí e Rio Grande.
Na ação, foram presos 10 envolvidos em tráfico e homicídios. Outros quatro estavam abrigados no Uruguai — dois deles, já presos, os outros dois serão procurados agora pela Policia Nacional daquele país.
Para isso, a PF já colocou os nomes dos foragidos na Difusão Vermelha da Interpol (Polícia Internacional). Só desta forma, as autoridades uruguaias já poderão realizar as prisões, até porque o crime de que são suspeitos é internacional.
Os presos não estão envolvidos com nenhuma facção gaúcha conhecida. Já os foragidos do lado uruguaio pertencem a uma quadrilha que domina o tráfico na região litorânea daquele país.
Ao longo da investigação, que resultou na Operação Strike, os federais apreenderam 1,3 tonelada de droga. Desse total, 30 quilos são de cocaína e o restante, mais de uma tonelada, maconha.
— Apreendemos três toneladas de maconha desde 2016, entre Rio Grande e Chuí. Antes disso, as apreensões eram insignificantes — informa o delegado David Peixoto Ferreira, que comandou a Operação Strike.
Isso comprova, no entender dele, que a demanda represada para consumo de erva no Uruguai é o motor por trás da onda de crimes envolvendo os traficantes.