Polícia



Porto Alegre

Depois do clima de guerra, Restinga começa a voltar à normalidade

Moradores viveram intensos tiroteios há 12 dias. Para autoridades de segurança e comunidade, melhora da situação ocorreu por reforço no policiamento e detenção de suspeitos

12/04/2019 - 19h12min


Hygino Vasconcellos
Hygino Vasconcellos
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Na manhã da última quarta-feira, as filas avançavam pela calçada em frente à Unidade Básica de Saúde da Restinga (UBS)

Uma espécie de "termômetro informal" ajuda a medir a situação da criminalidade na Restinga, na zona sul de Porto Alegre. Ruas abarrotadas, com crianças brincando e pessoas nas calçadas, refletem calmaria  no bairro. Quando a situação é inversa — como ocorreu há 12 dias, quando houve intensos tiroteios — os moradores temem pela própria vida, mesmo entocados em casa. 

— Se a rua está muito vazia, a comunidade está sabendo de algo. Se tem patrulha demais na rua, é que a polícia também sabe de algo — conta uma funcionária de um posto de saúde.

Episódios recentes de tiroteios fecharam um posto de saúde por dois dias. Escolas também não tiveram aulas no começo do mês. Passados 12 dias, o bairro parece estar voltando à normalidade. Na manhã da última quarta-feira (10), as filas avançavam pela calçada em frente à Unidade Básica de Saúde da Restinga (UBS). Moradores aguardavam para buscar medicamentos, fazer vacinas e ser atendido em consulta médica. 

Apesar disso, o medo ainda paira pelos corredores do posto e de diferentes esquinas do bairro.

— Anteontem (segunda-feira) teve tiroteio aqui. As pessoas estão saindo de casa, mas com um pé atrás — conta uma moradora de 47 anos.

O temor pela violência fez as filas por atendimento, que costumam começar a se formar na madrugada, diminuírem no posto. Quem antes chegava às 5h, antes do sol nascer, agora pensa duas vezes antes de se dirigir para a unidade. 

— Tem de se cuidar. Eu ainda continuo ouvindo tiros — conta uma moradora de 74 anos, que mora há 53 anos no bairro.

A Restinga é o 2º bairro com maior número de homicídios na Capital desde 2011. Foram pelo menos 326 crimes. São 209 casos a menos que o líder do ranking, Rubem Berta.

Viatura em frente a escola

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
O comandante do 21º Batalhão da Polícia Militar, Alex Severo, afirma que há policiamento 24 horas por dia na região

Apesar da aparente tranquilidade, uma viatura da Brigada Militar permanece em frente à Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Carlos Pessoa de Brum. Há 12 dias, a escola manteve as aulas, mesmo com metade dos alunos presentes. Próximo dali, outros dois policiais militares acompanham o movimento da rua.

— Os tiroteios diminuem porque tem a Brigada Militar. Tendo a BM, intimida a ação desses criminosos — entende uma moradora de 74 anos.

— Mas é só sair a Brigada daqui que já dá alguma coisa — rebate outra mulher, de 47 anos.

O comandante do 21º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Alex Severo, garante que há policiamento 24 horas por dia na região, que tem mais de 60 mil habitantes — população superior a 454 municípios gaúchos. O oficial salientou que a BM acompanha a movimentação da criminalidade na região e que, por enquanto, o reforço será mantido.

— No momento que tirar os olhos, algo vai acontecer — salienta o comandante.

Nos últimos dias, a Brigada Militar recebeu denúncias de tiroteios na região conhecida como Quinta Unidade — próxima ao Hospital Restinga. Viaturas foram mandadas para o local, mas a situação não foi confirmada e ninguém foi encontrado ferido. 

Prisão, mais policiamento e retração dos criminosos

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Para o delegado, a intensificação do policiamento ostensivo é outra razão apontada para a queda da violência no bairro

O delegado Rodrigo Garcia Pohlmann, da 4º Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), atribui a aparente calmaria a três fatores. Um deles é a prisão de um homem de 21 anos em 8 de abril e da apreensão de um adolescente de 14 anos no final de semana passada pelo homicídio considerado estopim para a guerra entre dois grupos criminosos rivais que atuam em locais próximos. 

Para o delegado, a intensificação do policiamento ostensivo é outra razão apontada para a queda da violência no bairro. Por último, a própria visibilidade atraída para a região — da imprensa e da polícia — teria freado a rivalidade entre grupos rivais. 

— O que eu enxergo é que tanto atividade da comunicação e das forças de segurança foram importantes para a diminuição nos homicídios. Pelo menos a gente notou ruptura. Ambos os grupos criminosos pisaram no freio porque a situação estava chamando muito a atenção. Isso acabou levando a polícia para ambiente deles e outras atividades criminosas foram afetadas (como o próprio tráfico de drogas) — observa o delegado. 

O conflito resultou em pelo menos oito assassinatos e cinco tentativas de homicídio desde 30 de janeiro. No cálculo da polícia não está um triplo homicídio de 3 de abril, também com ligação com o tráfico de drogas. Um dos corpos foi encontrado parcialmente carbonizado. Segundo o delegado, o crime foi cometido por um grupo que não atua na região. As vítimas foram identificadas como Kainan Willian Duarte Silveira, 23 anos; Cristiano Oliveira Moreira, 40 anos; e Rodrigo Nunes Infantino, 20 anos.


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