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Feminicídio

Caso Paola: réus seguem presos um ano após execução filmada de jovem de 18 anos

Imagens do assassinato de Paola Avaly Corrêa circularam pelas redes sociais e ajudaram polícia a identificar criminosos

27/05/2019 - 21h59min


Renato Dornelles
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Seis adultos e um adolescente foram apontados como responsáveis pela morte da jovem de 18 anos

A cena é chocante: com as mãos e as pernas amarradas, a jovem deita na cova, aberta em meio a um matagal. Parece resignada e já conhecendo seu destino. Na sequência, dois tiros são disparados contra a sua cabeça. As imagens do crime na Vila Tamanca, bairro Agronomia, na zona leste de Porto Alegre, registradas em 13 de maio de 2018, circularam pelas redes sociais e acabaram ajudando a polícia a identificar a vítima e os criminosos. Um ano depois da morte da jovem Paola Avaly Corrêa, 18 anos, os seis réus do caso seguem presos.

São eles: Nathan Sirângelo, 24 anos, Bruno Cardoso Oliveira, 24, Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 35, Thaís Cristina dos Santos, 21, Paulo Henrique Silveira Merló, 36, e Vinicius Matheus da Silva, 21. Um adolescente envolvido segue internado na Fundação de Assistência Socioeducativa (Fase). O processo referente ao caso tramita na 2ª Vara do Júri da Capital e, atualmente, está na fase de instrução.

A trágica e criminosa morte de Paola começou a ser escrita em 2017, quando ela, aos 17 anos, se aproximou, via redes sociais, de Sirângelo, que já estava recluso por tráfico de drogas. Já nos primeiros contatos, ela obteve autorização para visitá-lo no Presídio Central. Conforme apontaram as investigações, foi o início de um relacionamento "tumultuado".

Até então, Paola levava uma vida normal, como a maioria das adolescentes de sua idade. Era vaidosa, gostava de frequentar shoppings centers. Era a caçula de três irmãos. O envolvimento com Sirângelo acabou mudando o seu comportamento. Na época do crime, sua irmã, que pediu para não ser identificada, disse à reportagem que a jovem "começou a se envolver com amizades erradas e não queria mais escutar a família".

O início do namoro representou também a entrada da jovem na facção criminosa que tem o bairro Bom Jesus como berço e da qual, de acordo com a Polícia Civil, Sirângelo faz parte. No final daquele ano, ao completar 18 anos, Paola interrompeu os estudos, abandonou o emprego e anunciou que iria embora de casa. Disse à família que iria morar com algumas amigas. As investigações mostraram que, na verdade, ela foi morar inicialmente com familiares do namorado e, depois, em uma casa que seria bancada pela facção.

O relacionamento que já se iniciou "tumultuado" chegou ao ápice da crise em maio do ano seguinte. As redes sociais novamente tiveram papel decisivo. Em 9 de maio, uma quarta-feira, dia de visita, Paola foi ao Presídio Central e terminou o relacionamento com Sirângelo. Dois dias depois, eles travaram uma pesada discussão por telefone.

No domingo, Dia das Mães, por volta das 4h, Paola fez postagem insinuando que estaria se relacionando com outra pessoa. Durante o dia, por ordem de Sirângelo, Vinicius e Carlos Cleomir levaram a jovem até um matagal na Vila Tamanca. Neste local, onde Thais e Merló os aguardavam, foi aberta uma cova.

Por telefone, Paola implorou por sua vida ao ex-namorado, que, irredutível, determinou o que cada um dos envolvidos deveria fazer. Às 17h30min, a jovem foi executada na cova. Seu corpo só foi localizado no dia 17, depois de o vídeo da morte ter circulado nas redes sociais. Com as investigações, a polícia chegou ao nome de Oliveira, que também estava no Presídio Central. Todos respondem por homicídio triplamente qualificado (feminicídio, motivo torpe, meio cruel ou que dificultou a defesa da vítima), sequestro e organização criminosa.

Reprodução / Reprodução
Jovem foi obrigada a entrar em cova, onde foi executada

Feminicídio com a marca do tráfico

As investigações sobre do crime foram iniciadas pela 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, que apura casos de desaparecimento, a partir de uma ocorrência feita pela família da jovem, registrando o seu sumiço. Depois, com a descoberta do vídeo, passou a ser considerado um crime por questões relacionadas ao tráfico de drogas. Mas logo que foi identificada a verdadeira motivação, o inquérito passou à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da Capital.

— Os traficantes também cometem feminicídios. Eles têm uma forma de execução muito própria e característica do tráfico de drogas. Quando não matam, cortam o cabelo, estupram, ou seja, usam métodos de descaracterização do feminino — explica a delegada Tatiana Bastos, da Deam.

O Ministério Público, responsável pela denúncia, não se manifesta, alegando segredo de Justiça. A Defensoria Pública, que representa os réus, por meio da assessoria de comunicação, informou que "está atuando no caso, que segue em fase de instrução processual, havendo nova audiência para oitiva de testemunhas em junho".


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