Estelionato
Como agiam mulheres presas por suspeita de aplicar golpe do bilhete que lucraram R$ 405 mil em Porto Alegre
Grupo foi alvo de operação da Polícia Civil na manhã desta terça-feira
Era na Avenida Salgado Filho, no centro histórico de Porto Alegre, que um grupo de cinco mulheres fazia suas vítimas. Foram pelo menos cinco alvos de estelionato desde o dia 19 de fevereiro, quando houve o primeiro caso de golpe do bilhete que a polícia conseguiu confirmar a participação das detidas. O perfil dos alvos era sempre o mesmo: idosas, com idade média de 70 anos, e aparentando ter boas condições financeiras. O modo de agir das suspeitas de golpe também não mudava. A atuação estava bem ensaiada pela quadrilha, desarticulada em operação da Polícia Civil na manhã desta terça-feira (7).
A trapaça começava com uma das estelionatárias abordando uma vítima em potencial para pedir informações sobre a localização de uma tinturaria. Era assim que a conversava se iniciava, segundo o delegado Juliano Fereira. A mulher dizia ser do Interior e estaria procurando o dono da empresa que lhe ajudaria a trocar um bilhete premiado.
Três integrantes do grupo se revezavam nesse papel: Gabriela Correa Carpes, 19 anos, Larissa Oliva Moraes, 22, e Maria Vitória Reimundo Varante, também de 22. Todas foram presas preventivamente nesta manhã e confessaram participação nos golpes. Elas foram detidas em suas moradias, no bairro Restinga, na Zona Sul.
Segundo o delegado, enquanto a vítima e a estelionatária conversavam, aparecia uma segunda golpista. Esta função, conforme Ferreira, seria exercida pela líder do grupo, Janaína Cruz Oliva, 39 anos, também presa preventivamente na operação. A mulher se aproximava, supostamente querendo ajudar. Simulava uma ligação para a Caixa Econômica Federal na qual confirmava os números sorteados. O prêmio seria de R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões.
— A segunda estelionatária que tinha a função de induzir a vítima a cair no golpe — explica o delegado Ferreira.
Ao confirmar que o suposto bilhete estaria mesmo premiado, a primeira estelionatária fingia não ter interesse no prêmio. Dizia ser religiosa e que não se envolveria com jogos de azar. Mas deixava claro que precisava de R$ 200 mil. Em um dos casos, o valor seria usado pra comprar uma casa pra sua mãe e, no outro, para a filha.
Em um dos golpes, a estelionatária chegou a falar que queria fazer uma doação para um asilo. Era neste momento que a líder do grupo induzia a vítima a cair no golpe: sugeria que elas comprassem o prêmio. Ou seja, dariam o valor que a suposta ganhadora queria e, em troca, ficariam com a premiação.
O delegado conta que o trio seguia até uma agência bancária. Ali, a idosa transferia o valor para as estelionatárias e entregava a elas o comprovante. A Polícia Civil apurou que a conta dada pelas suspeitas para a qual o dinheiro deveria ser transferido pertencia a Aline Gomes Maciel, 25 anos. Ela também foi alvo de mandado de prisão preventiva nesta terça-feira, mas não foi encontrada e é considerada foragida.
Conforme o delegado, as detidas por estelionato sempre tomavam o cuidado de não entrar na agência bancária para não serem flagradas pelas câmeras de segurança. Nos cinco casos investigados, conseguiram o total de R$ 405 mil — R$ 130 mil, R$ 95 mil, R$ 85 mil, R$ 80 mil e R$ 15 mil em cada um dos golpes.
Por fim, segundo o delegado, as estelionatárias diziam à vítima que para trocar o valor do prêmio era necessário ter um comprovante de residência. Para isso, acompanhavam a idosa até o local onde ela mora para que pegasse o documento. Neste momento, as mulheres escapavam.
— No primeiro caso que investigamos, a vítima nos procurou constrangida, envergonhada por ter caído no golpe. Ela perdeu R$ 130 mil. A partir disso, fomos para as redes sociais e buscamos fotos de possíveis envolvidas no golpe. Mostramos para a vítima, que nos ajudou a fazer a identificação — explica.
Pelo menos outros quatro casos semelhantes foram registrados, na mesma área, nas quais as vítimas descreviam as estelionatárias com as mesmas características. A Polícia Civil conseguiu identificar que tratava-se do mesmo grupo. Segundo o delegado, a suspeita é de que as mulheres tenham começado a aplicar os golpes há cerca de um ano e seis meses.
Operação
A operação Conto do Bilhete teve participação de 45 policiais que cumpriram quatro mandados de prisão preventiva — uma quinta procurada não foi localizada e é considerada foragida.
Em depoimento, Janaína negou envolvimento nos golpes. As demais, confessaram. Disseram ainda que aprenderam a modalidade com outra mulher, que também será investigada. Nenhuma delas tinha antecedentes.
Segundo o delegado, as mulheres devem ser indiciadas por estelionato e formação de quadrilha. A investigação continua, de acordo com ele. A Polícia Civil pediu quebra de sigilo bancário para tentar restituir os valores às vítimas.