Polícia



Golpe contra aposentados

Dados pessoais de idosos estão à venda em grupos de WhatsApp

Corretores negociam informações que depois são usadas em fraudes contra beneficiários do INSS

18/06/2019 - 09h57min


Carlos Rollsing
Carlos Rollsing
GaúchaZH
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Jonas Campos
RBS TV
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O assédio comercial a idosos, procurados diariamente por correspondentes bancários via mensagens de texto, cartas e ligações telefônicas feitas até de madrugada, é consequência da atuação do mesmo mercado de crédito consignado e de seguros que, por vezes, inclui descontos não autorizados nos contracheques dos aposentados. 

Agência RBS / Agência RBS

— Vocês vão ter de comprar base de clientes — orientou uma executiva de contas da Sabemi Seguradora à reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI), sem saber que estava sendo gravada, ao tratar de suposto interesse em atuar no ramo. 

Adquirir uma base de clientes é ter acesso a uma lista de milhares de aposentados, com nomes, telefones, endereços e valor do benefício. Há sistemas de informação em que documentos sigilosos, como extratos de pagamentos dos aposentados junto ao INSS, são acessados por terceiros de qualquer computador. Alguns negociadores vão além e vendem carteiras de clientes, o que inclui cópias dos documentos pessoais — isso facilita a ação de falsificadores de assinaturas. 

A compra das informações no mercado paralelo é opção para quem é novo no ramo e não dispõe de histórico próprio de contatos. Agenciadores e representantes bancários que desejam ampliar negócios também recorrem à prática. 

O passo seguinte é montar sistemas de disparo de mensagens e ligações em massa. A atualização das informações é tão veloz que alguns beneficiários ficam sabendo que estão aposentados pelos correspondentes bancários em vez do INSS, trazendo consigo a oferta de crédito consignado e seguros.

— É um pouco velado quem abastece esses sistemas de informação. Geralmente, não se tem contato ou acesso a essas pessoas. Mas temos essas informações no mercado — diz a executiva de contas da Sabemi.

A reportagem entrou em seis grupos de WhatsApp de corretores, ambientes onde cadastros são negociados. "Super promoção. Saiu listagem Siape (servidores federais) folha de maio de 2019. São mais de dois milhões de registros. De R$ 350 por apenas R$ 149,99. Mas é só hoje", anunciou um telefone do Espírito Santo no grupo Tops Consignados. "Vendo minha carteira de documentos, preço de banana...R$ 500, mais de dois mil documentos para se trabalhar os clientes", divulgou um número de Minas Gerais no grupo Corretores Consignados.

Um indivíduo com telefone do Rio de Janeiro oferece diariamente suas listagens em vários grupos de WhatsApp de corretores. A reportagem questionou se ele conseguiria a relação dos entrantes (os que se aposentaram recentemente) do INSS do Rio Grande do Sul. Após alguns minutos, a resposta: "97.100 entrantes por R$ 560". Para o país, a oferta era 558 mil nomes por R$ 760. 

Nos grupos, também são recorrentes as reclamações de corretores que não compactuam com as fraudes. Eles acusam colegas de serem "pilantras", "fraudadores", "caloteiros", entre outras definições.

Como apuramos esta reportagem?

Desde o início de 2019, recebemos dezenas de contatos de leitores informando sobre descontos não autorizados nos contracheques de aposentados. Em março, iniciou-se a apuração. Se passando por um interessado no negócio fraudulento, o repórter obteve acesso a seis grupos de WhatsApp integrados por corretores de seguros de todo o Brasil. Nestes grupos, eram compartilhados relatos explícitos de como as fraudes eram realizadas. Passamos a contatar representantes bancários pelo país e verificamos junto a eles como eram feitas as falsificações de assinaturas para incluir no contracheque de aposentados descontos por seguros que eles jamais autorizaram. Ainda sem nos identificarmos como jornalistas, também nos aproximamos de executivos de contas, que confirmaram e deram mais detalhes das fraudes que lesam idosos.

Quais cuidados tomamos?

Nos grupos de WhatsApp, não fizemos manifestações, nos limitando à observação. Todos os contatos que fizemos foram individuais com os corretores e representantes. Quando tivemos acesso ao software da Sabemi Seguradora em que são incluídas propostas fraudadas contra aposentados, não fizemos a digitação de nenhum produto. Acessamos a ferramenta apenas como meio de comprovar que ali poderia ser selecionado o seguro associativo da Centrape para fazer descontos de um idoso de forma fácil e rápida. Não revelamos nossas fontes para evitar represálias a elas.



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