Região Metropolitana
Criminosos coagem comerciantes para vender cigarros clandestinos e pagar "taxa" a facção em Canoas
Donos de mercados e bares contam estar sendo ameaçados há duas semanas por homens que se identificam como vinculados a grupo criminoso da zona leste da Capital
Há duas semanas, comerciantes de Canoas convivem com o medo de se tornarem alvos de criminosos. O motivo, segundo o relato de moradores, são ameaças recebidas por mensagens no telefone e também pessoalmente. Donos de bares e mercados contam que estão sendo coagidos a venderem cigarros contrabandeados para homens que se identificam como integrantes de facção. Além disso, também afirmam terem sido alertados sobre a cobrança de uma taxa por parte dos traficantes.
Proprietário de um comércio há três décadas no município, um homem, de 58 anos, conta que está com medo de manter o estabelecimento aberto. Ele e os funcionários teriam sido ameaçados pelos criminosos nos últimos 15 dias. O comerciante diz que no início não deu crédito às ameaças, mas ao longo dos dias, com as mensagens repetidas e novos relatos de outras pessoas, começou a ficar com medo.
— Querem que trabalhe para eles. Estão me ameaçando, se não fizer o que eles pedem. Não é somente eu que estou sofrendo. Não estou conseguindo mais trabalhar. É a única coisa que sei fazer da vida. Estou em desespero. Tenho família e não sei pra onde ir — afirma o comerciante, que pediu para não ser identificado, assim como os demais.
Uma mulher, de 44 anos, relata que o primeiro contato foi feito por um homem, que chegou ao local em uma motocicleta. Ele teria indagado uma das funcionárias sobre a venda de cigarros contrabandeados no estabelecimento. Depois disso, teriam passado a receber as mensagens por WhatsApp. No texto, os criminosos afirmam que quem não encomendar o produto deles não venderá mais cigarros.
— Ele chegou e perguntou se vendia cigarro do Paraguai. Ela disse que não. Agora, vão vender", ele respondeu. Disseram que vamos ter de trabalhar para eles e que vão cobrar R$ 50 por dia. O que vou fazer? Estou sempre com medo. A gente não dorme mais — conta a mulher.
A comerciante diz que os empregados também estão assustados e com medo de continuar no local. Ela afirma que outros comerciantes passam pela mesma situação.
— Uma das funcionárias me ligou apavorada. Queria ir embora. É um pânico para chegar e sair do trabalho. Quando entra alguém aqui, não sabe se é um deles, se está armado. Ou a gente trabalha para os bandidos e corre da polícia, ou fica nesse medo.
Um morador, de 43 anos, afirma também ser alvo de ameaças para substituir a venda de cigarros legais pelos ilícitos. Além disso, ainda relata o anúncio da cobrança da mesma taxa aos traficantes. Seria uma parcela dos criminosos pelos lucros obtidos com as vendas. Em troca disso, não teriam sua segurança ameaçada. Em alguns casos, os integrantes de facção teriam realizado inclusive uma chamada em vídeo com outros traficantes para amedrontar os proprietários.
— Nunca mexi com esse tipo de coisa. Estão nos forçando. E querem cobrar essa taxa. Pago imposto, tudo certinho. Chegam esses bandidos e querem cobrar de quem está trabalhando. Não quero trabalhar para bandido. Alguém precisa nos ajudar — pede.
Durante as ameaças, segundo os comerciantes, os criminosos chegaram a afirmar que recebem apoio da Brigada Militar (BM) e da Polícia Civil. E que, por isso, não adiantaria denunciar o caso. Para o comandante da BM em Canoas, isso é parte da estratégia para aumentar o medo da população.
— Tanto não somos coniventes com isso, que BM e Civil fizeram apreensões recentes relacionadas ao mercado ilegal de cigarros. Apreendemos grandes quantidades. Eles usam isso para intimidar — afirma o major Jorge Dirceu Filho.
No dia 26 de julho, a Polícia Civil realizou a maior apreensão de cigarros clandestinos dos últimos anos no Estado justamente em Canoas. No bairro Niterói, foi descoberto um depósito com insumos para fabricação ilegal do produto. O prédio, abarrotado com mais de 20 toneladas de fumo, rótulos de carteiras e cigarros prontos, foi encontrado por agentes da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) do município. Em maio, a BM apreendeu em Nova Santa Rita R$ 450 mil maços de cigarro. A carga, localizada por policiais do 15º Batalhão de Polícia Militar (BPM), que atua nos dois municípios, foi avaliada em R$ 1,5 milhão.
BM e Polícia Civil contam com denúncias de moradores
A Brigada Militar e a Polícia Civil afirmaram, neste domingo (4), que até então não tinham conhecimento dos casos de ameaças. O comandante da BM diz que não havia sido informado até este data sobre esse tipo de coação.
— Fazemos policiamento normal no bairro. Mas é importante que os comerciantes nos informem o que está acontecendo. Esse tipo de extorsão não é algo que se possa detectar quando passamos na rua. Não é visível. É uma cifra oculta. Averiguamos tudo o que chega, até para que delitos menores não ganhem maiores proporções. Por isso, precisamos dessa colaboração das pessoas — explica.
Segundo moradores, o caso foi denunciado na última sexta-feira, pelo Disque Denúncia (181). Conforme o delegado Mário de Souza, as informações que chegarem ao conhecimento da Polícia Civil serão investigadas. Ele pede ainda que os moradores encaminhem informações diretamente à Delegacia Regional, por WhatsApp ou telefonema. Não é preciso se identificar (leia abaixo).
Por meio de nota, a prefeitura de Canoas afirmou que também não recebeu denúncia deste tipo. E que se coloca à disposição para colaborar com o combate desse tipo de crime.
Leia a nota:
"A Secretaria Municipal de Segurança Pública e Cidadania não recebeu nenhuma denúncia deste tipo. No entanto, se coloca à disposição para colaborar com a Brigada Militar e com a Polícia Civil no trabalho de combate aos ilícitos. O Município vem trabalhando de maneira integrada com os órgãos de segurança estaduais em Canoas, desde janeiro de 2017."
DENUNCIE
As polícias Civil e Militar garantem anonimato a qualquer informação repassada
Polícia Civil:
(51) 3425-9056
Whats - (51) 98414-7814
Inteligência - Delegacia Regional - (51) 98459-0259
Brigada Militar:
(51) 3477-8833
Whats - (51) 98585-6243