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Santana da Boa Vista

"Foi uma monstruosidade", diz professora de menina de 12 anos morta no sul do Estado

Ana Carolina Moraes foi assassinada. Homem de 29 anos foi preso em flagrante e responde por feminicídio e estupro de vulnerável

12/06/2020 - 09h45min


Jeniffer Gularte
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Ana Carolina morava desde junho de 2019 em Santana da Boa Vista

Ana Carolina Moraes havia completado 12 anos há menos de um mês. Andava com top no cabelo castanho ondulado, ainda brincava de bonecas e era apaixonada pelo cãozinho da raça shih tzu. Aluna da turma 62 cursava o 6º ano da Escola Média Estadual Jacinto Inácio, e quase não saia de casa. Natural de Bagé, na Campanha, há um ano vivia em Santana da Boa Vista, no Sul, com a mãe e o padrasto.

No final da manhã desta quarta-feira (10), o destino da garota teve um desfecho trágico a poucos metros de casa. A menina foi morta a meia quadra de onde vivia, e o corpo foi encontrado machucado na residência de um vizinho. Doglas de Oliveira, 29 anos, foi detido em flagrante e está com prisão preventiva solicitada à Justiça. A Polícia Civil investiga os crimes de feminicídio qualificado por asfixia e estupro de vulnerável. Investigadores aguardam o laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) para confirmar a causa da morte da menina. Ana Carolina foi sepultada na manhã desta quinta-feira (11) na cidade natal.

No dia do crime, pouco antes das 11h, a menina havia ido até a casa do suspeito falar com a costureira, mãe dele, mas ela não estava. Minutos depois, a mãe da garota foi com uma vizinha até a casa saber da filha. Ambas gritaram na porta pelo nome da menina e não foram atendidas. Insistiram até que Oliveira abriu e disse que a garota não estava ali. Desconfiaram e chamaram a Brigada Militar. Quando os policiais chegaram, a mãe encontrou o corpo de Ana Carolina dentro de um roupeiro. O Serviço Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado para tentar reanimá-la.

À frente da investigação, a delegada Débora Dias afirma que a menina e o suspeito não tinham nenhuma relação de convívio. Oliveira tinha antecedentes por ato obsceno e duas ocorrências por ameaça. Em depoimento, manteve-se calado. Depois, foi encaminhado ao Presídio Estadual de Caçapava do Sul.

— A família disse que tudo aconteceu em 15 minutos, que ele teria agido muito rápido. Vamos continuar ouvindo outras pessoas para traçar o perfil do comportamento dele. Embora nunca tenha sido preso, tinha histórico de comportamento agressivo. Era solteiro e morava com a mãe. Este é um tipo de crime extremamente chocante, que abala qualquer ser humano, mas em uma comunidade menor, o impacto é ainda maior — afirma a delegada.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Protesto de professores da escola em que a garota estudava

A cidade de 8 mil habitantes vive o luto e a revolta. Pouco depois de o crime vir à tona, a comunidade protestou em frente à delegacia e integrantes da Escola Jacinto Inácio organizaram uma manifestação com uma faixa preta. Professoras e vizinhos da menina ouvidas por GaúchaZH descrevem Ana Carolina da mesma forma: meiga, educada, gentil e uma garota que ainda guardava todos os traços e comportamentos de uma criança.

— Não tem como explicar a dor que a cidade inteira está sentindo. Foi uma monstruosidade, queremos que não fique impune. Ela era inteligente, dedicada, ajudava os colegas, uma rica criança. Não tinha quem não gostava dela na escola — afirma Jaqueline Soares, 54 anos, vice-diretora da Escola Jacinto Inácio que, nos primeiros 15 dias do ano letivo de 2020, deu aulas de matemática para Ana Carolina.

A menina havia se mudado para a cidade com a família em junho de 2019 devido à transferência de trabalho do padrasto. Era comum vê-la brincando dentro do pátio, em uma casa segura, com câmeras e alarme.

— O trauma é grande. Era uma criança muito dócil, que adorava culinária, ia para cozinha, fazia brigadeiro, cuidava da mãe, fazia trabalhos manuais. Era vaidosa, bordava as roupas dela. Era só uma menina — afirma a vizinha, professora Naura Rosane Figueiredo, 57 anos.

Na descrição de pessoas próximas, mãe e filha eram inseparáveis. As professoras não lembram de ver Ana Carolina chegando sozinha na escola ou circulando sem companhia na rua. Na patinação e no pilates, a menina estava sempre acompanhada.

— A mãe era muito cuidadosa, levava e trazia todos os dias para a escola. Uma mulher doce que vivia para filha. Nunca vi essa criança andando sozinha na rua. Aqui é uma cidade calma, todo mundo se conhece. Essa barbárie chocou todo mundo. Com top na cabeça, ela parecia uma boneca. Não conseguimos dormir. Não consigo mais enxergar a casa onde isso aconteceu, é um crime tão bárbaro, só queria tirar essa dor de dentro de mim — afirma Rosemere Oliveira Freitas, 47 anos, vizinha da garota.


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