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Fisioterapia e apoio da família: como está a vida de menina de 10 anos baleada na coluna em Viamão

Três meses depois de ataque a tiros, família de Rafaella Freese da Silva tenta recomeçar com a garota em cadeira de rodas

28/07/2020 - 08h34min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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André Ávila / Agencia RBS
Rafaella e a mãe Valeria na casa onde a família vive atualmente

Um tiroteio na manhã de 17 de abril, em Viamão, na Vila Universal, transformou a vida de uma família. Rafaella Freese da Silva, 10 anos, assistia televisão com os dois irmãos, quando os disparos tiveram início do lado de fora. Um grupo criminoso tentava executar rivais, em disputa pelo tráfico de drogas. Tiros atravessaram a janela e um deles atingiu a menina nas costas. Valeria Freese Salvador, 26 anos, e o marido Carlos Rafael Matos da Silva, 29 anos, saíram em disparada, em busca de socorro para a filha. Por conta da lesão na coluna, a criança perdeu os movimentos das pernas. Três meses depois, os pais comemoram cada evolução de Rafa, como é chamada, e tentam um recomeço.

Há dois meses, após mais de um mês internada na Capital, a menina recebeu alta e pode seguir para casa — a família se mudou para Alvorada. A irmãzinha de sete anos esperava, com desenhos, ansiosa pelo reencontro. O retorno, no entanto, não foi fácil, especialmente nas primeiras semanas. A menina começou a se dar conta que, mesmo de volta à rotina que estava acostumada, ainda não havia conseguido voltar a andar. A fisioterapia, duas vezes por semana em Porto Alegre, e o atendimento psicológico têm sido essenciais. A cada progresso obtido com as sessões, ela se anima. Em casa, os pais ajudam a filha a ficar em pé, em exercícios diários.

— Quando sai da fisio, ela fica muito animada porque vê que consegue fazer algo. Melhorou bastante. O equilíbrio está super bem. A força nas pernas também. A sensibilidade está voltando e os movimentos involuntários estão bem altos — conta Valeria.

Quando aconteceu o tiroteio, a família de Rafa havia se mudado para a casa em Viamão há pouco mais de uma semana. Traumatizados com a violência, não retornaram mais para a moradia e nem para a cidade. O imóvel alugado em Alvorada precisou receber rampa na porta, para a menina entrar e sair. O banheiro foi adaptado, com barras na parede, para que ela possa tomar banho sozinha. Os pais tentam que ela tenha a maior autonomia possível. Em casa, além de brincar e fazer os temas da escola com a irmã, Rafa gosta de ajudar a cuidar do caçula, um bebê de seis meses, e nas tarefas domésticas, como lavar a louça e varrer a casa. Para isso, os pais precisam ajudar a adaptar cada atividade.

— Estamos aprendendo a ir adaptando. Acho que isso ajuda ela a sentir que, por mais que seja difícil, pode ter uma vida normal — diz a mãe.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Rafa ainda hospitalizada na Capital

Ainda no hospital, a menina passou a produzir vídeos para o seu canal no Youtube, onde aparecia empolgada com suas maquiagens. Rafa segue vaidosa, gosta de pintar as unhas e decidiu cortar os longos cabelos loiros. Guardou as madeixas para serem doadas. A expectativa da família agora é pelo retorno das atividades, como as aulas presenciais. Também planejam que ela frequente sessões de hidroterapia para auxiliar no período de reabilitação. Mas o que mais esperam é que a filha possa voltar a se locomover sozinha.  

— Ela vai conseguir se recuperar ainda mais. Está buscando isso. Por mais que não seja 100% ela andando, que precise usar algum adaptador, já será muito bom, ela poder ficar de pé — projeta Valeria.

Por conta do trauma, os pais ainda acordam a noite, assustados, quando escutam algum som semelhante a tiro, e vão até a cama da filha conferir se ela está bem. Naquela manhã, quando era carregada até a casa de um vizinho para ir de carro até o hospital, Rafa tentava tranquilizá-los.

— Calma, pai, eu bem — dizia a menina.

É nessa força da menina que os pais tentam encontrar a deles. Quando ajudam a filha a ficar de pé, Rafa brinca, amparada por eles, que está gigante.

— Temos fé que ela vai caminhar. É a mesma Rafa de sempre, com esse sorrisão — diz o pai.

Carro furtado

Em maio, quando deixaram o hospital, os pais lançaram uma vaquinha online para tentar arrecadar doações. Os dois já estavam desempregados e, após o episódio, precisam dar suporte para que a menina possa se locomover. Com a campanha, R$ 13,4 mil foram arrecadados até esta segunda-feira (27). Quem quiser contribuir com a família, basta acessar este link. Com parte do recurso, os pais adquiriram um veículo para transportar a filha para as sessões. Mas na última sexta-feira (24), o carro acabou sendo furtado. A Palio Weekend azul, de placas IHS-4770, de Alvorada, ainda não foi localizada.

— Gastávamos muito com corridas para levar e trazer ela. Por isso, decidimos comprar o carro. Dependíamos muito do veículo. Agora vamos ter de reorganizar nossa rotina, para que isso não atrapalhe a fisioterapia dela. A ajuda das pessoas tem sido fundamental — afirma Valeria.

A investigação

Polícia Civil / Divulgação
Local de tiroteio na Vila Universal, em Viamão, em 17 de abril

Segundo o delegado Guilherme Calderipe, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Viamão, até o momento seis pessoas foram presas por suspeita de participação no crime que deixou Rafaela em uma cadeira de rodas. Para o delegado, o objetivo do grupo, que estava armado com pistolas de calibre 9 milímetros, era executar rivais que vivem na Vila Universal. Atiraram em direção à casa porque pensaram que outras pessoas moravam nela.

— Foram atrás de traficantes e acabaram atingindo a menina — explica.

Os mesmos bandidos teriam sido responsáveis por executar um homem em outra casa próxima, com cerca de 20 tiros. A polícia acredita que até oito criminosos participaram da ação, além dos mandantes. A expectativa do delegado é de concluir o inquérito em agosto.


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