Polícia



Guerra de facções

Cinco homicídios em 21 dias e morte de traficante mobilizam polícias na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre

Brigada Militar reforçou patrulhamento para evitar reações ao assassinato de Luisinho das Tamanca. Polícia Civil foca em investigações de execuções

12/11/2020 - 08h51min


Jeniffer Gularte
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A curva ascendente de homicídios na Lomba do Pinheiro e o assassinato de um criminoso envolvido com tráfico de drogas na região despertou o alerta das autoridades de segurança para o bairro da zona leste de Porto Alegre. A Polícia Civil vem analisando os indicadores criminais da área e tem focado nas investigações de cinco execuções que aconteceram entre os dias 4 e 25 de outubro, enquanto a Brigada Militar reforçou o patrulhamento na área. O policiamento ostensivo busca evitar reações a execução de um criminoso que, no passado, teria capitaneado o comércio de narcóticos no bairro.

Luis Fernando Rodrigues de Oliveira, 51 anos, conhecido Luisinho das Tamanca, foi morto com tiros de fuzil e pistola de calibre 9mm às 6h50min do último sábado (7). Dois veículos pararam em frente a casa, criminosos invadiram a residência e o executaram na Rua Vaticano, no bairro Agronomia. Segundo a polícia, Luisinho foi líder do tráfico na Lomba até a região ser tomada por uma facção com berço no bairro Bom Jesus. Na ficha criminal, tem seis homicídios, roubo e porte de arma. Até março deste ano, cumpria pena em regime fechado no Presídio Central. Desde então, recebeu o benefício da prisão domiciliar e estava com tornozeleira eletrônica.

— Ele deixou de residir na casa dos familiares na Lomba para se esconder em outra residência no Agronomia, também na Zona Leste. Olhando o contexto, ele pode ter sido morto por uma facção rival. Como era um cara representativo na comunidade, poderia vir a se tornar uma ameaça para a liderança atual. Vamos esclarecer melhor isso no curso da investigação — afirma o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira Neto.

Antes mesmo da execução de Luisinho, a polícia já estava com os olhos voltados para a Lomba do Pinheiro. O bairro registrou cinco homicídios em outubro. O número representa 45% das mortes no bairro em todo ano. Destoa da quantidade de assassinatos que vinha sendo registrada em 2020 na região, que chegou a ter quatro meses sem nenhum assassinato – janeiro, março, junho e setembro – e os demais com, no máximo, duas mortes. As execuções aconteceram nos dias 4, 12, 13, 22 e 25 de outubro, todos por disparo de arma de fogo. As duas primeiras já estão esclarecidas e, segundo Eibert, têm relação com o tráfico de drogas na região. As demais seguem em investigação na 1ª Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).

— Quando deu três homicídios na Lomba, já fizemos o alerta para a delegacia. Esses cinco inquéritos são prioridade da 1ª DHPP. Nossa equipe de inteligência está tentando correlacionar os fatos, buscando informações para entender a dinâmica dos crimes e fazer prognósticos de tendência.

No mês de outubro, nenhum outro bairro da Capital registrou tantos homicídios quanto a Lomba do Pinheiro. Entre os moradores, embora o clima seja de apreensão, duas pessoas ouvidas pela reportagem com a condição de anonimato disseram que a violência está concentrada em áreas específicas do bairro, principalmente a partir da parada 13, em direção ao bairro Restinga.

— Há poucas semanas um guri foi morto na esquina da minha casa. Tomamos todos os cuidados ao sair e chegar de carro, mas esse clima não é diferente do que era em outras épocas. A guerra é entre eles, mas têm muitos guris que a gente viu crescer, conhece desde pequeno, que estão perdendo a vida para o tráfico — afirma um homem de 58 anos, que mora há 30 no bairro.

Comerciante de 42 anos que trabalha há sete na Lomba do Pinheiro conta que nunca foi assaltada, mas admite que evita circular por determinados pontos devido a violência.

— A gente sabe que existe uma disputa, mas é entre eles, não com os moradores. Aqui onde trabalho não tenho medo pois não tem boca de fumo, mas tem muitas ruas que não recomendo ir. Melhor evitar.

Eibert ressalta que o aumento das mortes na Lomba do Pinheiro não refletiu no acréscimo do indicador de homicídio em Porto Alegre, que segue em baixa em relação a igual período do ano passado: foram 17 assassinatos em outubro de 2020 na Capital, frente a 23 em 2019.

— Dos 17 homicídios do mês em Porto Alegre, cinco foram na Lomba, que era um bairro que vinha calmo e com desempenho bem positivo. Mas sabemos que ali tem problemas e que há facções muitos próximas que se dividem entre as paradas de ônibus. Por isso que ligamos o alerta. A Lomba ainda não é um bairro de destaque de violência no contexto do ano de 2020, tem outros bairros na frente como Restinga, Partenon e Rubem Berta.

Na avaliação do delegado – a mesma da cúpula da Polícia Civil – a queda nos indicadores de homicídio, atingida ao longo de 2019 e confirmada no primeiro semestre de 2020, está relacionada a elucidação das mortes violentas:

— Isso tem dado bastante resultado. As lideranças do crime começam a receber diversas prisões preventivas, indiciamentos e isso acaba inibindo a prática do homicídio. Quando não tem resposta, fica fácil para eles. As organizações criminosas praticam delitos com objetivo financeiro. O homicídio não tem esse objetivo. Sai todo mundo perdendo. O assassinato é algo que não é lucrativo para o tráfico de drogas pois eles vão se tornar réus em diversos processos e isso reflete na inibição da ação deles. Gera custo e os mantêm presos. O atual líder do tráfico na Lomba há muitos anos não põe o pé na rua. E se eles são as lideranças e a facção deles está praticando homicídio na rua, acabamos por indiciá-los também. Eles são obrigados a se recolher.

O temor pela transferência para penitenciárias federais também reflete de forma pedagógica na redução de indicadores – na segunda-feira (9), nove presos perigosos foram transferidos para fora do Estado, em março o mesmo ocorreu com outros 18 líderes de organizações criminosas:

— Eles sabem que se continuar acontecendo é pior. Fora do Estado, eles perdem contato com a facção e a força de comando.

Reforço no policiamento para eventual reação

Desde o final de semana, o 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e as tropas especiais do Batalhão de Polícia de Choque estão monitorando a Zona Leste. À frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC), o tenente-coronel Rogerio Stumpf Pereira Junior afirma que BM está fazendo análises de inteligência para coibir eventuais reações ao assassinato do Luisinho das Tamanca. Se necessário, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e a aviação militar também poderão ser chamadas para deslocar para a região.

— Não temos notícia de novos fatos. Estamos com ações preventivas, qualquer fato novo podemos tomar medidas mais repressivas.

O comandante do 19º BPM, tenente-coronel Paulo Rogério dos Santos Alberti, explica que distribui o policiamento em locais em que se presume que podem acontecer reações. A tropa também atua na área de origem do crime e no berço dos grupos criminosos envolvidos no assassinato.

— Queremos passar a sensação de segurança para a comunidade mas isso não significa que não vão acontecer mais coisas. Sabemos que a origem desses homicídios está vinculada a rivalidade dos grupos criminosos. O grupo A faz questão que se reforce policiamento na área do grupo B para diminuir o núcleo financeiro do rival, já que fazemos apreensão de armas e drogas. Trabalhamos com estratégia, analisando riscos e probabilidades. E não fazendo aquilo que eles querem. Temos de cuidar para não tornar vulnerável um lado e fortalecer outro — afirma o comandante.

Homicídios na Lomba do Pinheiro em 2020

  • Janeiro: zero
  • Fevereiro: 1
  • Março: zero
  • Abril: 1
  • Maio: 2
  • Junho: zero
  • Julho: 1
  • Agosto: 1
  • Setembro: zero
  • Outubro: 5
  • Novembro*: zero

*Até o dia 11.


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