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"Nosso plano era passar a vida inteira juntos", diz marido de jovem assassinada em Santa Maria

Gabriela Dalenogare Cogo, 25 anos, estava na garagem de casa, com amigos e familiares, quando disparo atravessou portão de ferro

16/12/2020 - 08h48min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Gabriela e o companheiro, com quem estava há sete anos

Gabriela Dalenogare Cogo, 25 anos, passou os últimos seis meses decidindo como seria a casa que dividiria com Luís Eduardo Bittencourt, 31. Até então, o casal morava com os pais dele em Santa Maria, na Região Central. Como os familiares se mudaram para outro imóvel, eles permaneceram na mesma residência, que agora seria só deles. Só houve tempo para instalar o fogão e a geladeira. Na noite do último sábado (12), a jovem estava na garagem, quando foi atingida por um disparo, que atravessou o portão de ferro, e não resistiu.  

Natural de Nova Esperança do Sul, município a cerca de 140 quilômetros da cidade onde aconteceu o crime, Gabriela havia se mudado para Santa Maria havia dois anos. Na cidade natal, já morava com o marido, com quem mantinha relacionamento há sete anos. O casal decidiu se mudar acreditando que encontraria novas oportunidades, tanto ela na área de farmácias, onde já trabalhara antes, quanto ele, que é mecânico. Assim, passaram a viver com os pais de Luís Eduardo, no bairro Noal, em Santa Maria, onde ele montou sua oficina.  

Determinada, Gabriela se empregou novamente em uma farmácia. A jovem tinha uma rotina atribulada. Começava a trabalhar no fim da manhã, e só retornava para casa à noite. Naquele sábado, não foi diferente. Às 20h30min, deixou o serviço e seguiu de volta para a residência. Telefonou para o marido, que havia ido ao mercado. Aquela seria a primeira noite dos dois sozinhos na casa, após os pais de Luís Eduardo se mudarem para outro imóvel na mesma rua. Por isso, eles ainda estavam organizando tudo.   

— Como não tinha nada montado, só a geladeira ligada, fui pegar pão, margarina, essas coisas que ela gostava, para ela tomar café no outro dia, antes de ir trabalhar. Ela trabalhava muito, tinha uma folga na semana — recorda o marido.  

Na volta, Luís Eduardo sugeriu que eles saíssem para comer um lanche com dois casais de amigos. Gabriela titubeou diante da ideia, animada para organizar as coisas em casa. 

 — Será? Vamos ficar em casa, e arrumar nossas coisas. Pede delivery — sugeriu.  

O marido concordou com a proposta e desmarcou a saída. Os amigos decidiram então comprar os lanches e ir até a casa deles. Luís Eduardo diz que, por volta das 21h, os dois casais chegaram. Eles estavam entrando na residência, quando tudo aconteceu.  

— Estava dentro de casa, apertando a mangueira do gás do fogão, e ela foi receber as pessoas na oficina. Tinha um vão do portão aberto. Nosso amigo estava fechando o portão, quando o cara cruzou, levantou o braço e começou a atirar. O tiro cruzou muito perto da cabeça dele, e pegou na parede no lado de dentro. O outro atravessou o portão e pegou nela — descreve.  

Mais dois tiros atingiram um veículo e a parede da oficina pelo lado de fora. Gabriela foi baleada no braço e correu para os fundos, onde ficava a casa deles. Ao mesmo tempo, Luís Eduardo ouviu os disparos, os gritos e saiu para fora. Foi quando deparou com a mulher ferida.   

— Amor, pegou no meu braço — ela disse, antes de entrar na sala de casa e cair desacordada.  

Como Gabriela estava de lado no momento do disparo, o tiro transfixou o braço e atingiu o tórax dela. Luís Eduardo levou a mulher até um posto de saúde, que fica a cerca de 700 metros da casa. Mas não houve tempo para que ela fosse socorrida.  

— Foi tudo muito rápido. Não deu tempo de nada, nem de me despedir. Ainda não consigo acreditar, sabe. Uma pessoa única, boa, interessante, incrível. Nunca fez mal para ninguém. Todo mundo queria bem. Todo mundo amava ela — diz o marido.  

No Natal, o casal planejava ir visitar novamente o pai de Gabriela, em Nova Esperança do Sul. Dias antes, o casal aproveitara uma folga para que ela fosse vê-lo. A jovem tinha um irmão caçula. Foi no município de 5 mil habitantes que o corpo de Gabriela foi enterrado às 18h30min de domingo (13), no mesmo local onde está sepultada a mãe da jovem, falecida há sete anos.

— Nosso plano era passar a vida inteira juntos. Um era a base do outro. Um era a motivação do outro. Ela era tudo para mim, tudo. Esperava viver a vida toda com ela. Aceitar, de repente, que perdi, é muito difícil — diz o marido.  

O motivo  

As câmeras da própria oficina gravaram o momento em que um homem passa atirando em frente à residência do casal e segue caminhando pela rua. Luís Eduardo afirma que a versão contada inicialmente de que Gabriela teria discutido com o autor dos disparos antes do episódio, por ter assustado o cachorro dela com bombinhas, não é verdadeira. 

Embora a jovem fosse realmente apaixonada pelo cãozinho Taz, um bulldog que ela tratava como filho, o mecânico diz que ele ficava dentro de casa, sem acesso à rua, por conta do portão de ferro. Sobre a pessoa que passou atirando contra a casa, diz que não é um vizinho próximo, mas que em outras oportunidades já teria feito disparos na rua.  

— Era comum ele dar tiros no meio da rua. Às vezes escutávamos os tiros à noite, e era ele. É inacreditável que alguém faça isso. Ele não cometeu só um crime, cometeu vários. Poderia ter atingido outras pessoas que estavam ali. Nosso amigo disse que sentiu os cacos do tijolo pegar no rosto dele, de tão perto que foi o tiro. Seria mais uma vítima também — afirma.  

Conforme o delegado de Homicídios de Santa Maria, Gabriel Zanella, o suspeito do crime é um jovem de 19 anos, que reside nas proximidades de onde a jovem foi atingida. O suspeito, que não tem antecedentes, sumiu logo depois do ocorrido, o que impossibilitou uma prisão em flagrante. A Polícia Civil está ouvindo testemunhas e outras pessoas para tentar compreender as circunstâncias do crime.  


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