Zona Leste
Matador de aluguel suspeito de assassinar menina de 12 anos é preso em Porto Alegre
Foragido desde janeiro, Lucas Lopes Laureano, conhecido como Dumbinho, disse à polícia que já teria cometido 15 homicídios
Um jovem apontado como um matador de aluguel com atuação na Vila Maria da Conceição, na zona leste da Capital, foi preso na tarde desta quarta-feira por agentes da 1ª Delegacia de Polícia de Homicídios Proteção a Pessoa (DHPP). Lucas Lopes Laureano, conhecido como Dumbinho, 19 anos, estava foragido desde janeiro por suspeita de envolvimento na morte de uma adolescente de 12 anos. Raíssa Adriana Tim Farias foi assassinada dentro de casa em 28 de dezembro do ano passado quando tentava escapar dos tiros que tinham outro alvo.
A 1ª DHPP apurou pelo menos cinco homicídios nos quais Dumbinho é apontado autor ou coautor. Após ser preso, na casa de parentes da sua namorada no bairro Santo Antônio, na Zona Leste, disse à polícia que já teria matado 15 pessoas. Admitiu que executava por vingança e mediante pagamento. Foi capturado com uma pistola 9mm que afirmou ter comprado por R$ 10 mil com dinheiro recebido nos homicídios.
Dumbinho ainda não completou 20 anos mas já é investigado e responsabilizado por uma série de crimes. Nasceu e cresceu na Rua Paulino Azurenha, na Vila Maria da Conceição, no Partenon, e quando ainda era adolescente teria se aliado a traficantes locais. Segundo a polícia, antes de completar 18 anos, teve quatro registros por tráfico. Em 2017, o líder desse grupo, João Carlos da Silva Trindade, o Colete, foi executado dentro de casa, e os demais integrantes da organização foram expulsos da comunidade. Dumbinho ficou, mas a aliança com os novos traficantes não teria prosperado.
Em 2019, se envolveu em uma briga devido a um relacionamento e foi obrigado a sair do local, mas a sua família permaneceu. A partir daí, se aliou aos antigos traficantes que dominavam a Maria da Conceição no passado. Teria começado a matar por encomenda dos aliados e por vingança daqueles que o expulsaram, segundo o delegado Guilherme Gerhardt e o próprio, que admitiu à polícia.
O pano de fundo das disputas é a retomada do controle da venda de drogas na Vila Maria da Conceição que, segundo a polícia, chegou a render, no passado, lucro de R$ 100 mil por semana. O local é conhecido por ser um ponto de comércio de entorpecentes de fácil acesso.
Dentro do grupo, Laureano teria certo status por ser matador. Em vídeos publicados nas redes sociais, aparece ostentando armas, prometendo correr com os rivais e voltar para Paulino Azurenha. As investigações da 1ª DHPP mostram que foram diversas investidas para chegar a esse objetivo. Em 9 de julho de 2020, em um carro branco, Dumbinho, acompanhado de comparsas, teria matado Filipe Quadros Gomes com dezenas de tiros. Acabou indiciado por homicídio. Depois desse assassinato, a família de Dumbinho também foi expulsa da Vila Maria da Conceição. Poucos dias depois, em 22 de julho, participou de uma tentativa de homicídio na Rua Barão do Amazonas, crime pelo qual também foi indiciado.
Mais tarde, em 20 de dezembro de 2020, teria executado Cleberson Lino Pires, 19 anos, com 10 tiros no Morro da Cruz. Segundo a polícia, ambos estavam bebendo juntos em um boteco quando a vítima teria dito algo que Dumbinho não gostou na frente de outras pessoas. Contrariado, assassinou o interlocutor. Nesta terça-feira, a polícia pediu a prisão preventiva por este crime e aguarda decisão da Justiça.
Oito dias após o crime no Morro da Cruz, um novo assassinato ajudou a polícia a identificar a relação de Dumbinho com outros crimes. Na noite de 28 de dezembro de 2020, a vítima seriA Wellerson Rian Oliveira de Moura, que teria relação com o grupo do qual pretendia se vingar. No ataque, dentro de uma residência na Rua Paulino Azurenha, Moura foi alvo de 16 tiros, mas conseguiu sobreviver. Tentando escapar dos disparos, a menina de Raíssa Adriana Tim Farias, 12 anos, levou quatro disparos e não resistiu.
Ele estava desenfreado. Unia a vontade de vingança, de matar quem o expulsou, e também trabalhava como matador de aluguel. Não nos disse quanto cobrava, mas estava vivendo em razão dos homicídios que cometia, estava ganhando dinheiro com isso.
GUILHERME GERHARDT
Titular da 1ª DHPP
— Ele estava desenfreado. Unia a vontade de vingança, de matar quem o expulsou, e também trabalhava como matador de aluguel. Não nos disse quanto cobrava, mas estava vivendo em razão dos homicídios que cometia, estava ganhando dinheiro com isso — afirma o delegado Gerhardt.
A polícia também tem indícios de que o foragido está envolvido em um homicídio na madrugada do último sábado (20), também na Paulino Azurenha. Por todo esse histórico, Dumbinho passou a ser o principal alvo da área de atendimento da 1ª DHPP, que abrange toda zona leste da Capital. Até prendê-lo nesta quarta-feira, os agentes vinham o monitorando na Restinga, Morro da Cruz, Vila Maria da Conceição e até em Cachoeira do Sul, município no centro do Estado. Para evitar exposição, ele só saia do esconderijo à noite e foi pego quando se preparava para mais uma mudança de endereço. Os investigadores também contaram com o apoio do Cyber Lab (Laboratório de Inteligência Cibernética) do Ministério da Justiça, que fornece informações técnicas.
— Foi o maior número de diligências para pegar um foragido. Por isso ele era nosso número um. Embora ele não seja uma liderança de facção, era um matador. Foram muitos esforços para fazer essa captura. Virou uma questão de honra prendê-lo — explica o delegado.
O próximo desafio, salienta Gehardt, é que Dumbinho não seja encaminhado para uma prisão onde tenha acesso às lideranças do seu grupo e que não se articule dentro do presídio.