Homicídio no Diamantino
Polícia investiga se serralheiro pode ter sido morto por engano em Caxias do Sul
Vítima de 21 anos não possuía histórico criminal e tinha uma vida pacata com a esposa e filha de três anos
Assassinado dentro da empresa em que trabalhava em Caxias do Sul, o serralheiro Henrique Camícia, 21 anos, pode ter sido morto por engano. Esta é a crença da família, que descreve o rapaz como uma pessoa solidária, que estava sempre com um sorriso no rosto e não tinha desafetos. A Delegacia de Homicídios confirma que a vítima não possuía histórico ou ligações com o tráfico de drogas — o que é comum em casos de homicídios.
Camícia era casado e tinha uma filha de três anos. Ele trabalhava há cinco anos com serralheiro na empresa do bairro Diamantino em que foi assassinado. A execução aconteceu na tarde da última quarta-feira (24), por dois criminosos que invadiram a empresa, colocaram Camícia de joelhos e atiraram contra ele.
— Ele era um ótimo marido, um ótimo pai, um batalhador que não devia nada pra ninguém e nunca nos deixou faltar nada em casa. A vida dele praticamente era dentro daquela empresa. Ele amava trabalhar e era o braço direito do chefe dele — conta a esposa, Camila Silva, 21.
O casal estava junto há cinco anos e sonhava em comprar uma casa. Camila descreve o marido como uma pessoa positiva e religiosa. Em seu tempo livre, Henrique se dedicava à família e à paixão que tinha pelo seu Vectra.
— O Henrique era uma pessoa que, se precisasse tirar a roupa do corpo dele pra ajudar alguém, ele tirava. Não tinha tempo ruim com ele. Além da nossa casa, ele também queria comprar uma caminhonete L200. Mas, infelizmente, os sonhos dele foram interrompidos — lamenta Camila.
Esta vida pacata e a falta de desafetos que levam os familiares a crer que Camícia foi assassinado por engano. O jovem tinha quatro irmãos, inclusive um gêmeo. A Polícia Civil não descarta a hipótese que a vítima foi morta por engano e, por isso, também irar analisar a situação deste gêmeo.
— É precipitado fazer esta análise. É uma investigação complexa, que demanda uma série de diligências e estamos trabalhando. Ele possui um irmão gêmeo, mas se este estava envolvido em outras questões, não podemos falar — afirma o delegado Caio Márcio Fernandes.
A Delegacia de Homicídios, contudo, chama atenção para o modo que a execução foi realizada. Vídeos que circularam por redes sociais mostram dois criminosos, um de boné vermelho e outro de boné azul, invadindo a empresa do bairro Diamantino. A dupla rende os funcionários e coloca Camícia de joelhos. Logo depois, o rapaz é alvejado diversas vezes.
Além dos dois atiradores, a Polícia Civil aponta mais dois envolvidos na execução: um motorista e outro envolvido na preparação do crime.
— O modo de ação são de indivíduos que foram lá, analisaram e renderam (os funcionários). A sensação é que foram verificar a identidade da vítima (antes de atirar). Foi uma ação planejada, não uma situação em que dois desafetos se encontram e acontece uma briga — avalia o delegado Fernandes.
Por outro lado, a Delegacia de Homicídios aponta que a execução, em princípio, não tem relação com o tráfico de drogas ou crime organizado — o que costuma ser um padrão em casos de homicídios.
— Não vemos esta ligação com vida criminosa. É uma questão que em outros casos serve de ponto de partida, mas neste, em princípio, não existiam desenvolvimentos anteriores que pudessem dar início às investigações. Por isso, não descartamos nenhuma hipótese. Não há uma linha clara. É um contexto que dificulta as investigações — comenta o delegado.
No total, Caxias do Sul registra 14 assassinatos em 2021. Para comparação, foram 18 mortes por violência nos dois primeiros meses do ano passado. O delegado Fernandes exalta a redução de 22% nos crimes, mas chama atenção para os motivos das mortes.
— O mais importante é a percepção de que os homicídios acontecendo são frutos de desentendimentos pessoais entre os envolvidos. E não fruto do domínio ou prevalência de organizações do crime organizado, como acontecia em outros anos. (Este ano), são crimes pontuais, onde muito pouco a polícia pode fazer. É difícil prever e agir em conflitos interpessoais, como estes casos de filho matando a mãe ou um vizinho atirando em outro em virtude de uma discussão. São questões que não têm como a polícia prevenir, apenas investigar e apontar a autoria. Já contra o crime organizado, a polícia precisa influenciar de forma concreta para reduzir os homicídios, e isso foi feito nos últimos anos — explica o chefe da Homicídios.
Além do feminicídio citado pelo delegado Fernandes, este ano a Polícia Civil também esclareceu a morte de um metalúrgico golpeado por um sobrinho, de um homem que matou o filho para defender a esposa e de um idoso assassinado por moradores de rua.