Polícia



Investigação

 Polícia irá confrontar versão de PM para apurar o que motivou discussão que resultou em quatro mortes em pizzaria

Todas as vítimas eram da mesma família e foram veladas nesta segunda-feira em Porto Alegre

15/06/2021 - 07h00min

Atualizada em: 15/06/2021 - 07h00min


Jeniffer Gularte
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Reprodução / Reprodução
Vídeo de câmeras internas da pizzaria mostra momento dos disparos que deixou quatro mortos

A Polícia Civil trabalha para confrontar a versão do policial militar que matou quatro homens dentro de uma pizzaria no final da madrugada de domingo (13), na zona norte de Porto Alegre. O depoimento do soldado, que se apresentou na delegacia e alegou legítima defesa, será comparado com imagens de câmeras de segurança e o relato de testemunhas – familiares das vítimas e funcionários do delivery.

O desentendimento que resultou em quatro homicídios se iniciou fora do estabelecimento, em uma casa onde ocorria uma festa. Do local, o policial afirma que saiu correndo e foi perseguido por um grupo de pessoas até o delivery. A ação dentro da pizzaria foi filmada por câmera de vigilância. O vídeo mostra o PM se escondendo do grupo em um banheiro da pizzaria e sendo perseguido por quatro homens e duas mulheres. Os homens abrem a porta, invadem o banheiro, e os disparos se iniciam. As duas mulheres se afastam ao ouvir os tiros e após os quatro homens serem atingidos, o PM sai apontando a arma para as duas. Nenhuma delas se feriu. Um dos focos da investigação é entender o que motivou o começo da discussão.

— O início deste evento ainda precisa ser esclarecido. Cada testemunha apresentou uma versão e estamos analisando todas elas. Preliminarmente, são versões distintas e diferentes da confissão do policial. Isso será esclarecido ao longo desta semana. Vamos coletar outras possíveis imagens de onde aconteceu a primeira discussão e verificar se a versão do policial se confirma com as demais. É importante frisar que essas divergências são somente em relação ao que teria provocado toda essa confusão — explica o titular da 5ª Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital, delegado Gabriel Lourenço.

As quatro vítimas, que estavam desarmadas quando foram mortas, são da mesma família e foram veladas nesta segunda-feira (14) em Porto Alegre: Alexsander Terra Moraes, 26 anos, Cristiano Lucena Terra, 38 anos, Christian Lucena Terra, 33 anos, e Alisson Corrêa Silva, 28 anos. Cristiano e Christian eram irmãos. Alexsander era sobrinho deles e Alisson, primo. Eles estavam em uma residência comemorando o aniversário de um dos familiares. Cristiano trabalhava como servente de pedreiro, Christian era vendedor, Alisson, estudante universitário e Alexsander era instalador de janela. Nenhum deles tinha antecedentes.

Os agentes deverão ouvir oficialmente as duas mulheres que acompanhavam os quatro homens mortos. Também serão coletadas imagens dos locais por onde os envolvidos passaram. O depoimento da família das vítimas está marcado para terça-feira (15). Após a oitiva dos parentes, o policial será ouvido pela segunda vez.

Outro ponto a ser analisado pelo inquérito é se haveria outra forma de o soldado sair daquela situação, em que foi perseguido pelo grupo, sem matar os quatro homens. Testemunhas disseram à polícia que o grupo entrou na pizzaria dizendo que iria matá-lo.

— Analisando as circunstâncias, vamos verificar se de fato foi o meio adequado e necessário para ele repelir aquela agressão. É complicado agora, de dentro de um gabinete de delegacia, um ambiente tranquilo, fazer uma análise dessa situação concreta. Só o policial sabe o que ele passou e o que sentiu no momento em que quatro pessoas foram para cima dele e ele avisou que era policial. Ainda assim, as vítimas continuaram indo em direção a ele — afirma Lourenço.

Integrante do 20º Batalhão de Polícia Militar (BPM), o soldado também terá sua conduta investigada em Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela Brigada Militar. Nesta segunda-feira, passou por atendimento psicológico no Hospital da Brigada Militar e está afastado das funções. Para o advogado, Roger Lopes da Silva "não resta outra tese, se não a de legítima defesa" para o cliente.


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