Centro Histórico
“É muito difícil conviver com a ausência dela”, diz a avó de adolescente desaparecida há 10 meses em Porto Alegre
Letícia Torquato Pereira, à época com 15 anos, saiu da casa dos avós, com quem morava, para ir até a Usina do Gasômetro e não retornou mais
Desde o último Natal, Dirlei Torquato, 67 anos, guarda embalados os presentes que seriam entregues à neta Letícia Torquato Pereira. Mantém intacto também o quarto onde a garota dormia no apartamento dos avós no Centro Histórico de Porto Alegre. Há 10 meses, a família busca respostas sobre o paradeiro da adolescente, desaparecida desde setembro do ano passado, à época com 15 anos. O caso segue sob investigação da Polícia Civil, mas, até o momento, sem pistas sobre o que aconteceu.
— Mantemos tudo, como se ela tivesse saído para voltar em seguida. Nada foi alterado. O quarto, as roupas, calçados. Foi o primeiro Natal sem ela. Os presentes estão numa caixa, esperando por ela. Estamos ansiosos, como família, pelo retorno dela — diz a avó materna.
A adolescente, segundo a família, saiu de casa na tarde de 18 de setembro e nunca mais retornou. Dirlei relata que dias depois recebeu um telefonema de Letícia dizendo que estava bem e que regressaria em breve. Desde então, nenhum outro contato foi feito, conforme a avó. A garota não levou documentos, roupas ou qualquer pertence de valor.
Apesar do tempo sem respostas, a avó diz que ainda tem esperanças de que a neta retorne para casa. A família contratou advogado e um investigador particular para acompanhar o caso. Quando sumiu, Letícia cursava o 1º ano do Ensino Médio, na Escola Técnica Estadual Parobé, mas desde o início do ano estava sem aulas presenciais por conta da pandemia.
— Temos esperança. Se ela estiver com receio de voltar para casa, por sofrer restrições, castigos, saiba que isso não vai acontecer. Não importa em que circunstância ela esteja, a família está esperando de braços abertos. Só queremos que acabe essa situação. É muito difícil conviver com a ausência dela. Não existe coisa pior do que essa situação de impasse de desaparecimento. A angústia, tristeza, sofrimento é constante — desabafa.
A avó paterna Valéria Beatriz de Carvalho, 67 anos, também diz ainda ter esperanças de que o desaparecimento da adolescente seja desvendado. Ela teme que a garota possa estar sendo mantida em algum lugar contra a vontade.
— É uma coisa muito terrível. É uma situação que modifica a vida da gente radicalmente.
Caso é exceção, diz polícia
À frente da investigação do caso, a delegada Sabrina Dóris Teixeira, da Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca), diz que nenhuma hipótese é descartada para o sumiço e que o caso segue sendo investigado, embora ainda não haja pistas do paradeiro da garota.
— Não descartamos tanto que ela esteja desaparecida, por conta, ou que possa ter sido vítima de um crime. Continuamos bastante empenhados no caso. O tempo transcorrido também é um desafio. Mas todas as informações que chegam, seja por denúncia ou familiares, são apuradas. Nos angustia muito não ter respostas para dar à família. Queremos dar essa reposta — afirma.
A delegada diz que a polícia teve dificuldade até o momento para precisar o momento do desaparecimento da adolescente, já que os relatos são desencontrados. Há informações de que ela teria participado de um churrasco com amigos e o telefonema para a avó. Alguns detalhes não são revelados pela polícia, para não prejudicar o andamento do caso.
Foi realizada coleta de DNA de familiares, para eventual comparação genética, caso seja localizado algum corpo que se suspeite que possa ser da adolescente. Em maio, no Dia Internacional da Criança Desaparecida, foi lançada campanha com divulgação de cards com imagens de crianças e adolescentes desaparecidos no Instagram da Polícia Civil. A fotografia de Letícia foi uma das divulgadas na ação.
Casos como o de Letícia são considerados exceção pela polícia, já que, via de regra, os desaparecimentos de adolescentes são momentâneos e costumam ser desvendados em horas ou dias. Muitos deles, conforme a delegada, envolvem problemas com a família, como desentendimentos, namoros ou mesmo rebeldia.
A delegada enfatiza a importância de pais e familiares orientarem crianças e adolescentes, e também terem o maior número de informações sobre pessoas com quem os filhos se relacionam. Conhecer a rede de pessoas que podem contribuir com pistas é essencial em caso de desaparecimento.
— Quando a criança é menor, é preciso que ela saiba dizer nome do pai e da mãe, que se saiba com que roupa ela está, quais são seus melhores amigos, isso tudo ajuda. São informações valiosas, especialmente no começo da investigação —explica a delegada.
Dicas de como agir em desaparecimentos
- Procure a delegacia mais próxima e registre o caso imediatamente
- Leve fotos atualizadas do desaparecido na hora de registrar a ocorrência
- Avise amigos e familiares sobre o sumiço
- Percorra locais de preferência da criança
- Saiba informar quem são os amigos dela e com quem pode estar
- Esteja atento às roupas que a criança ou o adolescente está usando e, em caso de sumiço, descreva para a polícia
- Mantenha alguém à espera no local de onde ela sumiu. É comum que ela retorne para o mesmo ponto
- Ensine as crianças, desde pequenas, a saber dizer seu nome e o nome dos pais
- Quando a criança ou adolescente for localizada, informe à polícia