Alvo de operação do MP
Justiça condena ex-funcionário da Carris que usou nome de criança morta para desviar dinheiro
Ivsem Gonçalves recebeu condenação de 15 anos de prisão por peculato e lavagem de dinheiro. Ele também deverá devolver à companhia R$ 1,7 milhão corrigido
A Justiça condenou o ex-funcionário da Carris que usou o nome de uma criança morta para desviar valores da companhia a 15 anos de prisão por ter cometido, conforme acusação do Ministério Público (MP), 45 vezes o crime de peculato e lavagem de dinheiro em 43 situações. Ivsem Gonçalves também terá de devolver à empresa R$ 1,7 milhão — valor total desviado, segundo o MP — corrigido.
O juiz Marcos La Porta da Silva, da 17ª Vara Criminal do Fórum Central, decidiu que Ivsem pode recorrer da condenação de primeiro grau em liberdade, mas determinou a apreensão do passaporte dele. Bens apreendidos durante a investigação do MP — carros e joias — foram declarados perdidos na sentença e terão o valor revertido para cobrir o que ele deve ressarcir.
A história do homem que assumiu a identidade de Alexandre Marc Klejner, criança que morreu em 1961, para obter pagamentos ilegais da Carris, onde atuava como coordenador da Unidade de Finanças, foi contada por GZH em 2018.
Os restos mortais de Klejner estavam sepultados no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre. A reportagem também revelou a confissão de Ivsem, feita ao MP em depoimento gravado em vídeo (veja acima).
A investigação foi coordenada pelo promotor Flávio Duarte, da Promotoria Especializada Criminal. As suspeitas foram levantadas pela então gestão da Carris, que estava revisando processos de pagamento de indenizações por acidentes de trânsito que envolviam veículos da companhia.
Foram descobertos documentos falsificados e pagamentos até para pessoas já falecidas. Os cheques emitidos pela empresa acabavam direcionados a contas bancárias abertas em nome de Klejner, mas que eram, na verdade, de propriedade de Ivsem.
A fraude descoberta consistia em falsificar informações sobre ações e sentenças judiciais para justificar os pagamentos, que acabavam sendo direcionados ao fraudador. Como beneficiários, Ivsem usou nomes de pessoas já mortas, de pessoas que realmente estavam envolvidas em ações com a Carris ou pessoas ligadas a ele, segundo o MP.
A investigação também mostrou que o então funcionário da companhia emitiu carteira de identidade em nome de Klejner, usando a própria foto e impressões digitais. O nome da criança também foi usado para Ivsem se passar por advogado, comprar carro e doar dinheiro em campanhas eleitorais do MDB — partido do qual foi expulso à época.
Em 2018, o MP deflagrou a Operação Antares. Encontrou, na casa de Ivsem, documentos em nome de Klejner, por exemplo.
Ao depor na promotoria, o ex-funcionário admitiu os crimes. Contou ter se inspirado em um filme para escolher o nome que usaria.
Ivsem se apropriou da identidade de Klejner muito antes de chegar à Carris, ainda nos anos 1990, quando passou a usar documentos em nome da criança morta para abrir conta e obter crédito em meio a uma alegada crise financeira. Ao falar ao promotor Flávio Duarte, contou ter se encorajado a praticar os desvios por conta da "fragilidade" que detectou nos processos de pagamentos da empresa pública à época.
Contraponto
O que diz Cesar Peres, advogado de Ivsem Gonçalves:
"Vou me manifestar depois de analisar o teor da sentença. Mas vamos apelar."