Em Charqueadas
Celulares em televisões e mel disfarçado de xampu: apreensões na segunda maior prisão do RS; veja vídeo
Na Penitenciária Estadual do Jacuí, materiais são revistadas semanalmente para tentar impedir ingresso de ilícitos ou itens proibidos
Todas as semanas, montanhas de materiais enviados por familiares para apenados da Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas, passam por revista minuciosa. São necessários de dois a três dias para vistoriar tudo que ingressa na segunda maior casa prisional do Estado, que abriga 2,1 mil presos.
No último dia 20 de janeiro, em uma das dessas buscas, policiais militares descobriram celulares escondidos dentro de televisões e até mel armazenado em embalagem de xampu – o produto está na lista dos itens proibidos. A revista foi acompanhada pelo repórter fotográfico Ronaldo Bernardi.
Para localizar os celulares, os policiais fizeram um procedimento habitual, que passa por desmontar os itens que ingressam na prisão, como televisões, rádios e ventiladores. De dentro das Tvs, foram retirados ao todo nove celulares. Na mesma revista, os policiais localizaram um modem para conexão de internet dentro de um rádio. Os eletrônicos revistados faziam parte dos materiais que são deixados todas as quartas-feiras por parentes de apenados para que sejam entregues ao longo da semana.
– Quase que uma vez por semana temos materiais apreendidos, seja ilícito ou não permitido – afirma o diretor da PEJ, major Fabiano Dorneles.
Durante a revista do dia 20, também foram localizados outros itens proibidos. Em uma embalagem onde deveria haver xampu, estava armazenado mel, e em outro frasco, havia bebida alcoólica. O mel é proibido porque pode ser usado para o preparo de caipirinhas. Há uma lista de itens permitidos e vetados para o ingresso no sistema. Roupas pretas ou de cor escura, por exemplo, não são recebidas, já que poderiam dificultar a visualização do preso durante uma fuga.
Diferentes estratégias
As formas de tentativa de ingresso desse tipo de produto são as mais diversas. Há casos de apreensões de drogas dentro de sabonetes, cocaína disfarçada de pasta de dente, e até mesmo entorpecentes escondidos nas costuras das roupas ou dentro de colchões.
– No caso dos sabonetes, se olhar somente por fora nem sequer desconfia porque parece que está tudo certinho. Precisa abrir para descobrir o que há dentro. Tem um scanner para a revista e também é feita a busca manualmente. Passa por esses dois procedimentos – explica ao major.
É o próprio apenado quem faz a requisição à administração da penitenciária para receber os produtos entregues pelos parentes. Há limite de número de eletrodomésticos que podem ingressar no local. Televisão, por exemplo, é permitido somente um aparelho por cela. Nos ventiladores, há maior tolerância no número de ingressos para facilitar a circulação de ar dentro do prédio. Como o preso que solicita o recebimento, quando os itens ilegais ou proibidos são descobertos, a visita é suspensa e o apenado também é penalizado.
– Se o item encontrado for ilegal, como drogas, ele fica um ano sem receber visita. Se não for ilícito, permanece 180 dias sem visitas – explica o diretor da casa prisional.
Há outros episódios em que apreensões são realizadas com familiares, como no momento das visitas – em média, os presos recebem ao todo cerca de 470 pessoas na unidade em dia de visitação. Neste caso, se o familiar for flagrado com os itens proibidos, pode ter o direito de visita suspenso ou mesmo responder criminalmente – depende do tipo de material levado. Caso seja produto ilícito, o familiar é detido e encaminhado para a Polícia Civil – se estiver com drogas, poderá responder por tráfico.
Além dessas formas de tentativa de ingresso, a penitenciária enfrenta outro dilema que afeta o sistema prisional, que é o uso de drones para entregar drogas e celulares. Em 2020, na cadeia, que é a maior de Charqueadas, foram detectados 72 sobrevoos de drones. Desses, três aparelhos foram interceptados e outros dois no ano passado.
AS APREENSÕES EM 2021
- 411 celulares
- 2,5 quilos de crack
- 3.6 quilos de cocaína
- 6,8 quilos de maconha