Na Restinga
Homem apontado como autor do primeiro homicídio de 2022 em Porto Alegre foi morto minutos depois
Os dois assassinatos registrados na Capital neste ano até o momento ocorreram na Zona Sul
Com a mesma idade, 29 anos, dois moradores do bairro Restinga, em Porto Alegre, tiveram desfecho trágico idêntico: foram mortos a tiros no primeiro dia do ano. Ao entardecer de 1º de janeiro de 2022, Claiton Souza foi alvejado no meio da rua e não resistiu. Já Willian da Silva Luz foi executado minutos depois, a poucos metros de casa. Teria sido morto, segundo a Polícia Civil, por um grupo criminoso local em represália por ter assassinado Claiton.
O cenário do primeiro homicídio do ano registrado na Capital foi a esquina entre as ruas Salem e Malvinas, no bairro da Zona Sul. Os dois estariam conversando na rua, por volta das 18h de sábado, próximo a um campo de futebol, quando teriam se desentendido. Willian teria sacado uma pistola e atirado duas vezes na direção de Claiton.
— Eles estariam ali há um bom tempo, conversando. Se conheciam. Houve essa discussão entre eles e, do nada, o Willian teria puxado a arma. As razões, as motivações, ainda estamos apurando — detalha o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, titular da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital, que investiga ambos os casos.
Atingido no pescoço e nas costas, Claiton tombou no meio da via. Sem tempo de ser socorrido, morreu ali mesmo. Logo após o crime, Willian teria escapado em direção a um beco próximo, cercado de casebres de madeira, onde residia com parentes.
— Teria pedido ajuda para familiares, para tentar fugir porque havia matado uma pessoa — relata o delegado.
Ao sair da residência, Willian teria sido chamado por outros três homens. A poucos metros de casa, chegaram a conversar por alguns instantes, antes de ele ser alvejado repetidas vezes. Os criminosos utilizaram pistolas de calibre 9 milímetros. Foram recolhidos pelo menos nove estojos do armamento no beco onde aconteceu o crime.
— Ao que tudo indica, foi morto em consequência do crime que ele cometera poucos minutos antes. A primeira morte aconteceu próximo de um ponto de tráfico. Essa ação de cobrança com o Willian, por algo que ele fez, parte já de um grupo com mais capacidade de armamento e de movimentação de pessoas — analisa Pohlmann.
Para o delegado, a apuração realizada até o momento indica que Willian teria sido mesmo o autor do assassinato de Claiton, de acordo com relatos obtidos logo após os crimes. Mas o motivo ainda não está claro.
— Os dois foram vistos juntos conversando e ele pediu ajuda para fugir porque havia matado uma pessoa. Só houve um crime ali antes disso. Vamos ouvir familiares deles para buscar entender o que pode ter motivado essa desavença entre eles — diz o delegado.
Investigação
A polícia busca identificar também quem foram os bandidos que executaram Willian. Os três seriam vinculados a um dos grupos criminosos que atua na região.
Uma das características da Restinga é que diversas quadrilhas exploram o tráfico de drogas no local, numa espécie de “colcha de retalhos” do crime. A suspeita é de que o jovem tenha sido morto como forma de represália, por ter cometido o crime sem autorização do grupo local.
— Sabemos qual grupo atua ali e estamos concentrando a investigação em cima disso. Vamos identificar quem foram os autores desse segundo homicídio — afirma Pohlmann.
As armas utilizadas no crime também não foram encontradas até o momento. Quando os atiradores foram até a casa de Willian, teriam também tentado recuperar a pistola usada por ele. No entanto, a arma não teria sido localizada pelo grupo. Os dois mortos tinham passagem pela polícia pelo crime de tráfico de drogas, conforme o delegado.
O tráfico é justamente o pano de fundo da maioria dos assassinatos investigados pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Porto Alegre. Cerca de 80% das mortes apuradas pela polícia têm como contexto o comércio de drogas, seja em razão de disputas de territórios ou desavenças entre os próprios integrantes dos grupos criminosos. Os dois homicídios são os únicos registrados até o momento na Capital no ano de 2022.