Morto por engano
Dois investigados pelo assassinato de entregador em Rio Grande estão presos
Denilson Silveira Cordeiro, 24 anos, foi executado enquanto trabalhava. O caso marcou a onda de violência que atinge o município do sul do Estado
Dois suspeitos de participação no assassinato do motoboy Denilson Silveira Cordeiro, 24 anos, estão presos. O jovem foi morto na noite de 22 de janeiro, em Rio Grande, enquanto realizava entrega nas proximidades da lanchonete onde trabalhava. O caso marcou a onda de violência que atinge o município do sul do Estado. Neste ano, já foram registrados 16 homicídios – corresponde a 57% dos fatos em todo ano de 2021, quando foram 28 no total, segundo dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública.
Três dias após o assassinato do jovem, o governo do Estado anunciou reforços no policiamento ostensivo e nas investigações no município, como forma de tentar frear o aumento dos crimes. A maioria, conforme a polícia, está vinculada às disputas envolvendo o tráfico de drogas. No caso do entregador, no entanto, a principal suspeita da apuração é de que ele tenha sido executado por engano, por um grupo criminoso.
Dentro dessa investigação, segundo a delegada Lígia Furlanetto, a polícia conseguiu obter imagens de câmeras de segurança e relatos de testemunhas que ajudaram a identificar um veículo usado no assassinato de Cordeiro. O proprietário deste carro, um Peugeot 405, foi preso na última segunda-feira. O homem de 27 anos, que já possui antecedente por homicídio, foi detido em casa após ter prisão temporária decretada. O carro dele já havia sido apreendido e encaminhado para a perícia.
— A casa dele fica nas proximidades da lanchonete onde a vítima trabalhava e também perto do local do homicídio. Ele foi identificado como um dos coautores. Além de ser o dono do carro, trabalhamos com a possibilidade de ele estar junto no momento do crime — explica a delegada.
O preso chegou a ser ouvido pela polícia, mas negou que tenha participação no assassinato do jovem. Antes dessa prisão na segunda-feira, um outro investigado já havia sido detido pela Brigada Militar. Um homem foi preso no bairro Getúlio Vargas no fim de janeiro, dias após a morte do motoboy, por estar com um revólver de calibre 38.
A polícia apura se essa arma apreendida pode ter sido usada no assassinato do entregador, que foi atingido por quatro disparos. O homem também foi ouvido pelos investigadores e, da mesma forma, negou ter envolvimento com o crime. Após ser detido por porte ilegal de arma de fogo, ele teve prisão preventiva decretada pela Justiça em 1º de fevereiro, a pedido da Polícia Civil. Os nomes dos presos não foram divulgados pela polícia, em razão da Lei de Abuso de Autoridade.
Até agora, acredita-se que pelo menos três criminosos tenham participado do assassinato de Cordeiro. Segundo a delegada, a investigação, que conta com apoio de agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), avançou no sentido de entender o motivo que levou ao crime, mas ainda há pontos a serem esclarecidos.
— Seguimos na mesma linha do início, de que a vítima não tinha nenhum envolvimento com o crime, mas há demais circunstâncias que ainda estamos investigando — diz.
Crime causou revolta
O motoboy trabalhava na lanchonete de propriedade de um dos irmãos. O rapaz já ajudava no comércio desde a adolescência, mas há cerca de três anos decidiu passar a fazer as entregas. Em 22 de janeiro, quando um pedido foi feito, rumou para o bairro Vila Maria. Quando chegou ao local, onde deveria deixar o lanche, foi morto a tiros.
Casado, o jovem residia nas proximidades da lanchonete, e era pai de uma menina de 11 meses. O entregador deixou tudo preparado para a festinha do primeiro aniversário da filha – a criança completa um ano nesta quarta-feira (9). O crime causou revolta no município que vem vivendo uma escalada na violência desde dezembro, e provocou série de manifestações.
— Era um pai de família, trabalhando. Deixou uma filhinha e uma vida inteira pela frente – descreveu o irmão Emerson Cordeiro, 37, em entrevista a GZH em 28 de janeiro.
No dia do enterro, em 24 de janeiro, motoboys fizeram um protesto pela cidade. Na manhã seguinte, enquanto era realizada reunião entre a cúpula da segurança pública no Estado e representantes locais, familiares também se manifestaram em frente à prefeitura, pedindo justiça pelo caso. Quando a morte completou uma semana, em 29 de janeiro, novamente foi realizado protesto, durante uma caminhada, levando faixas e cartazes.