Crime na Capital
MP denuncia homem que matou farmacêutico na orla do Guaíba por homicídio
Ambulante confessou ter assassinado Felipe Morais da Silva, 33 anos, mas alega legítima defesa
O Ministério Público (MP) denunciou por homicídio o ambulante que confessou ter matado um farmacêutico na orla do Guaíba, em Porto Alegre. O crime aconteceu em 16 de janeiro, quando a vítima, moradora da Serra, visitava a Capital. Durante uma briga, Felipe Morais da Silva, 33 anos, foi atingido por golpes de faca nas costas e não resistiu.
A denúncia foi encaminhada pela promotora Luciane Feiten Wingert à Justiça nessa segunda-feira (25). O denunciado é um homem de 26 anos, que admitiu o crime. Quando foi ouvido, acompanhado de advogado, o ambulante alegou que atingiu o farmacêutico com as facadas para se defender. O então investigado relatou que estava trabalhando na Orla no fim daquela madrugada, quando tentou fazer com que a vítima e seus amigos parassem de perseguir outros dois homens, e acabou sendo agredido. Em sua versão, pegou uma faca e atingiu a vítima em legítima defesa.
A polícia entendeu que o crime não se deu nessa circunstância, pela desproporcionalidade entre a agressão e o crime, e indiciou o ambulante por homicídio doloso com a qualificadora de impossibilidade de defesa da vítima.
Para o MP, o caso é de homicídio doloso, mas simples, sem a qualificadora. O ambulante, que não teve o nome divulgado, responde ao processo em liberdade. O processo está em segredo de Justiça. GZH entrou em contato com o Tribunal de Justiça para verificar o andamento do caso e aguarda retorno.
Apuração
Durante a investigação da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foram identificadas pelo menos 10 pessoas com envolvimento na briga que resultou no crime. No entanto, somente um dos envolvidos deve responder pelo assassinato. Os demais responderiam por lesão corporal, caso houvesse representação por parte dos agredidos.
Além dos envolvidos na briga, a Polícia Civil também apurou a conduta dos policiais militares que estavam na Orla no momento da confusão. Isso porque, inicialmente, houve relato por parte dos amigos da vítima — um grupo de motociclistas do qual ele fazia parte — de que os PMs não teriam agido para impedir a briga e o assassinato. Após analisar imagens de câmeras de segurança e de vídeos gravados por populares, além de ouvir todos os depoimentos, não foi constatada irregularidade.
O caso
Silva era morador de Farroupilha, na Serra, mas estava em Porto Alegre para um encontro com amigos, e pediu para que fossem até a Orla naquela madrugada — ele não conhecia o local. Ali, segundo o que a polícia apurou, um homem teria esbarrado na namorada de um deles. Em razão disso, iniciou-se uma discussão e perseguição. Na sequência, os ambulantes teriam tentado intervir, o que teria resultado em novo desentendimento e na briga.
A vítima foi atingida por pelo menos três golpes de faca durante a confusão — o objeto não chegou a ser entregue à polícia. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e uma técnica em enfermagem que estava no local ajudou nos primeiros atendimentos, mas o farmacêutico não resistiu. Quando ouvidos pela polícia, os ambulantes relataram que permaneceram no local até a chegada do socorro. Nenhum deles possui antecedentes.
Silva morava com o filho de seis anos — o menino já havia perdido a mãe em acidente de carro há quatro anos. Além de farmacêutico, ele era praticante de artes marciais e chegou a representar o Brasil em campeonatos internacionais, na Colômbia, no Japão e no Chile, em disputas de kudô (arte marcial japonesa), nas quais acumulou vitórias. O corpo dele foi sepultado em Paraí, município da Serra, de onde era natural.