Tribunal do júri
Padrasto que matou enteada asfixiada em Porto Alegre é condenado a 30 anos de prisão e seis meses de detenção
Gabrielle França, 18 anos, foi assassinada por estrangulamento na residência onde morava, no bairro Agronomia, em abril de 2021
Niel Mateus da Rosa Alves, 44 anos, acusado de assassinar a enteada dentro de casa, na zona leste de Porto Alegre, foi condenado a 30 anos de prisão e seis meses de detenção no início da noite desta terça-feira (21). O julgamento, que foi presidido pela juíza Cristiane Busatto Zardo, teve início às 9h30min, na 4ª Vara do Júri de Porto Alegre, e se encerrou por volta de 20h.
Gabrielle França, 18, foi assassinada por estrangulamento e asfixia na residência onde morava, no bairro Agronomia, em abril de 2021. O réu foi preso em abril de 2021 após se jogar de uma ponte no Guaíba, em Eldorado do Sul, e confessou a autoria do crime à Polícia Civil. Alves, que seguia preso preventivamente na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan), foi condenado pelos crimes de feminicídio qualificado e falsa identidade. Ele vai continuar no mesmo estabelecimento prisional para cumprir a pena.
A vítima vivia com o padrasto e mais três irmãos, filhos de Alves. Na noite do crime, no domingo, 11 de abril, o pai pediu que os dois filhos, de 16 e 10 anos, fossem dormir na casa de amigos. A filha de 15 anos estava com a mãe. Sozinho com Gabrielle, matou a menina e escreveu uma carta justificando que o crime foi motivado por vingança.
No começo da manhã de 12 de abril, ligou para mãe pedindo que fosse ver a filha. Alves estava separado da esposa desde 2018, mas, durante este período, o relacionamento teve idas e vindas e a última delas havia sido pouco mais de um mês antes do crime.
O promotor Eugênio Amorim indicou cinco pessoas para falarem no plenário. A primeira a falar foi a mãe de Gabrielle, que manteve relacionamento com o réu ao longo de 16 anos. Da relação, nasceram quatro filhos. Quando o crime aconteceu, havia dois anos que eles tinham se separado. Durante esse período, a mãe da jovem chegou a fazer boletim de ocorrência relatando ameaça do ex. Eles acabaram reatando o relacionamento algumas vezes.
A mãe de Gabrielle confirmou que era ameaçada pelo ex-companheiro em seu depoimento nesta terça-feira. O promotor Amorim sustenta que Alves matou a enteada como forma de se vingar da ex, por não aceitar o término do relacionamento, e diz que o Ministério Público (MP) vai buscar a condenação por homicídio qualificado.
Durante a manhã, também foram ouvidos uma policial militar, uma irmã do réu, uma vizinha e um jovem com quem Gabrielle se relacionou. Logo depois, o júri entrou em intervalo para almoço.
No começo da tarde, iniciaram as oitivas das cinco testemunhas de defesa, entre elas uma ex-namorada de Alves, um ex-colega de trabalho e vizinhos. Após o interrogatório do réu, ocorre a fase dos debates. Inicialmente, cada parte, acusação e defesa, tem duas horas e meia para apresentar seus argumentos.
Pelo Ministério Público, o promotor Amorim utilizou 38 minutos para apresentar a acusação nesta tarde. Por volta de 16h, o advogado Semarino Alves Nunes, que representa o réu iniciou a apresentação da defesa. O advogado alega que o cliente, embora tenha cometido o crime, não tinha a intenção de matar a enteada.
Depois, o promotor retornou para a réplica. Por volta de 18h30min, os jurados se reuniram para a votação que definiria se o réu é culpado ou inocente.
A GZH, o advogado do réu, Semarino Alves Nunes, diz que vai recorrer da decisão pois entende "que a pena aplicada foi um tanto quanto exagerada." Nunes aponta que "há lacunas na aplicação da lei que a Dra. Cristiane exacerbadamente aplicou e por isso vamos recorrer pedindo que de uma forma significativa isso venha a atenuar a situação do réu".