Polícia



Mistério na Região Metropolitana

Como está o processo que apura morte de casal de Cachoeirinha desaparecido há mais de um ano

Rubem Affonso Heger e Marlene dos Passos Stafford Heger foram visitados pela filha e pelo neto do idoso e nunca mais foram vistos; eles viraram réus e suas defesas sustentam inocência

15/05/2023 - 12h54min

Atualizada em: 15/05/2023 - 12h54min


Luiz Dibe
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Arquivo Pessoal / Divulgação
Rubem e Marlene Heger foram vistos pela última vez no fim de fevereiro de 2022

A Justiça dará prosseguimento nesta quarta-feira (17) aos depoimentos no processo que analisa se Claudia de Almeida Heger, 51 anos, e o filho dela Andrew Heger Ribas, 29 anos, são responsáveis pelas mortes de Rubem Affonso Heger e Marlene dos Passos Stafford Heger. Em 27 de fevereiro de 2022, o casal foi visitado por Claudia e Andrew - filha e neto de Rubem - em sua residência localizada em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Depois deste dia, o idoso que estava com 85 anos e sua esposa, à época com 53 anos, nunca mais foram vistos.

Imagens registraram a chegada e a permanência dos visitantes na casa do bairro Vila Regina por mais de quatro horas. O desaparecimento verificado no mesmo dia, algumas horas depois da visita, desencadeou mobilização de familiares. Buscas foram realizadas pela Polícia Civil para determinar o paradeiro do casal. Não houve sucesso. A investigação concluiu que Rubem e Marlene foram assassinados. Claudia e Andrew tornaram-se réus pelos crimes.

A audiência desta semana, a qual será presidida pelo juiz Marco Luciano Wätcher, terá a oitiva de duas testemunhas relacionadas pela defesa de Andrew, que se somarão a outras cinco pessoas que se pronunciaram no processo em favor do denunciado. Depois delas, serão ouvidas dez testemunhas apontadas pela defesa de Claudia. Doze testemunhas convocadas pelo Ministério Público já depuseram.

A expectativa do promotor de Justiça Tomaz De La Rosa é de que, na mesma audiência, possam ter início os interrogatórios dos réus, momento em que serão confrontadas as versões de defesa com os elementos constituídos como provas no processo.

— Esperamos poder confirmar os termos da denúncia apresentada em 28 de maio do ano passado e levar os réus ao Júri Popular pelos homicídios de Rubem e Marlene — argumenta De La Rosa.

O promotor afirma ter convicção sobre a responsabilidade dos acusados e diz não acreditar em eventuais revelações surpreendentes que possam indicar um novo rumo ao processo.

— Não creio na mínima possibilidade de que a esta altura sejam apresentados elementos capazes de ocasionar a impronúncia dos denunciados — define o promotor.

De La Rosa avalia que as falas em defesa dos réus têm se concentrado em abonar índoles e determinar a inimputabilidade de Andrew, que está internado no Instituto Psiquiátrico Forense, com diagnóstico de transtorno mental. Já Claudia permanece em privação de liberdade em regime domiciliar e sob monitoramento por tornozeleira eletrônica.

— Até a atual etapa do processo não ocorreram contestações sobre as provas apresentadas pelo Ministério Público. Temos um conjunto probatório robusto, composto por testemunhos e uma série de elementos que nos levam a acreditar, de forma muito segura, na responsabilidade dos réus pelo assassinato do casal — conclui o promotor de Justiça.

Para a família, a expectativa é de que o caso seja concluído com a condenação dos acusados.

— Queremos que a justiça seja feita. Dói muito pensar como as coisas aconteceram e que jamais teremos a oportunidade de uma despedida — desabafa Vanessa Stafford, nora de Rubem e Marlene.

Imagens de monitoramento embasam acusação

Os réus são apontados pela autoria do que, até o presente momento, é considerado um duplo homicídio. Para o caso de Rubem Heger, há três agravantes qualificadoras: traição, dissimulação e motivo torpe. Já sobre Marlene incorrem as mesmas qualificadoras, acrescidas de feminicídio como quarto elemento majorante da acusação contida na denúncia.

Claudia e Andrew passaram a ser qualificados como suspeitos dias depois do sumiço, sobretudo em decorrência de imagens produzidas por câmeras existentes nas proximidades da casa onde residia o casal. Elas foram incorporadas ao inquérito policial e, posteriormente, incorporadas como evidências no processo de apuração criminal que está em andamento.

A gravação mostra Rubem e Marlene saindo e voltando para casa na manhã de 27 de fevereiro de 2022. Eles estão em casa quando recebem a visita de Claudia e Andrew, por volta de 11h20min. Marlene abre o portão da grade frontal da residência. O carro no qual chegam os visitantes é manobrado de frente para a garagem. Todos entram na casa.

Horas depois, por volta de 15h20min, o carro aparece em movimento, sendo manobrado dentro do pátio e é estacionado de ré, ao fundo da mesma garagem. Em seguida, um colchão e a estrutura de uma cama box são colocados em frente ao automóvel. A visão ao carro fica prejudicada. Em seguida, em torno de 15h40min, o vizinho da casa à esquerda da imagem parece chamar Claudia. Ela atende e conversa por alguns instantes de dentro do pátio com o homem.

Conforme a apuração, este vizinho havia recebido dos réus, naquele dia, uma garrafa de conserva alcoólica de butiá. Ele teria dormido depois de consumir a bebida. A gravação em vídeo mostra Claudia abrindo a fechadura do portão, saindo e trancando o dispositivo de segurança novamente. Dirige-se até o pátio do vizinho, conversa e deixa o local.

Concomitante à movimentação da mãe, Andrew surge na imagem e se aproxima do muro que divide os terrenos. Caminha até a edificação divisória e se posiciona como quem ouve a conversa. Ao retornar, Claudia abre a fechadura, entra e a chaveia de novo. Eles voltam para o interior do imóvel.

Às 15h48min, o carro é manobrado por Andrew para a rua e posicionado diante da calçada. Claudia sai da residência, tranca o portão, entra no veículo e vão embora. Depois disso, nenhum familiar volta a ter contato ou notícia do casal, que é dado por desaparecido.

Mãe e filho dizem às autoridades que o casal teria ido à Canoas acompanhá-los para passar a noite e, no dia seguinte, teriam uma agenda social naquela cidade. Depois de despedirem-se, segundo declararam, não foram mais vistos nem deram notícia de onde estariam. Esta versão foi considerada inconsistente e deu início à suspeição sobre os réus.

Defesas sustentam inocência e buscam impronúncia

De acordo com o criminalista Jean Severo, representante de Claudia Heger no processo, sua cliente garante ser inocente e afirma estar bastante abalada pelas acusações. Um dos argumentos da defesa é o fato de que os corpos jamais foram localizados para comprovar que as vítimas foram mortas.

Severo assegura que Claudia responderá ao interrogatório sob expectativa de esclarecer sua visão sobre os fatos, provando assim sua inocência.

 —  Ela está passando um momento muito difícil, impedida de ver o único filho e sem poder exercer trabalho ou atividade social. Claudia quer muito falar e espera por esta oportunidade  —  aponta Jean Severo.

Já o advogado André Von Berg, representante de Andrew, sustenta que seu cliente é acometido de psicopatologia e, portanto, na avaliação do advogado, seria incapaz de assumir responsabilidade penal.

Von Berg não revela se Andrew falará em juízo ou silenciará diante das perguntas que lhe serão dirigidas na audiência da quarta-feira.


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