Polícia



Sensação de insegurança

Polícia vai abrir inquérito para investigar denúncia de assédio e importunação sexual contra corredora no Parque da Redenção

Homem teria feito atos obscenos enquanto observava mulher que treinava no espaço na semana passada. Vítima denunciou caso junto à Polícia Civil e divulgou nas redes sociais, quando outros relatos surgiram. Protesto por segurança para as mulheres ocorre no sábado

12/07/2024 - 12h02min


Jean Peixoto
Jean Peixoto
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Caso foi registrado na semana passada próximo ao chafariz da Redenção, em Porto Alegre.

Pelo menos quatro mulheres que praticam esportes em parques da Capital relataram que foram vítimas de assédio ou importunação sexual na última semana. Um dos casos aconteceu com a assistente social Aline Ferreira D’ávila, de 37 anos, que treina corrida há três anos e meio no Parque da Redenção.

Ela conta que estava correndo no parque, às 6h40min da quarta-feira da semana passada (3), quando percebeu a presença de um homem próximo ao chafariz. Aline lembra que o homem assoviou quando ela passou por ele.

Na sequência, ela o ouviu emitindo um som parecido com um gemido e percebeu que ele estava tocando as partes íntimas enquanto a olhava. Ela gritou pedindo ajuda ao seu treinador e aos agentes da Guarda Municipal que têm uma base no parque e estavam próximos ao arco. O homem se assustou e recuou.

Ela registrou um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil e compartilhou o caso em suas redes sociais. Aline comenta que se sente insegura em alguns espaços públicos.

— Enquanto houver violência contra a mulher nas ruas, a gente tem medo. A situação é de revolta, de extrema violência e de invasão. Nós, mulheres, temos que passar por isso, em qualquer lugar da nossa cidade — comenta Aline.

A corredora diz que após compartilhar sua experiência nas redes sociais, duas mulheres relataram vivências semelhantes. Uma delas contou que, na terça-feira (2), um dia antes do ocorrido com Aline, um homem também fez atos obscenos direcionados a ela na Redenção, também por volta de 6h. As mulheres suspeitam que seja o mesmo homem

Em outro relato, uma mulher contou ter sido abordada por um homem por volta de 18h do dia 1º de julho, enquanto corria na Orla. A mulher conta que um homem estava encostado em uma bicicleta, tocando as partes íntimas. O quarto caso teria acontecido na Redenção, também.

Apesar dos relatos, apenas Aline denunciou às autoridades. Segundo a delegada Fernanda Campos Hablich, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), a Polícia Civil recebeu a denúncia e vai abrir um inquérito para investigar o caso. Até o momento, nenhum suspeito foi identificado.

BM diz que reforçará segurança

O Tenente-Coronel Fábio Schmitt, comandante 9° Batalhão de Polícia Militar, responsável por fiscalizar a Redenção, diz que ficou sabendo do caso e que entrou em contato com a vítima. Ele afirma que a Brigada Militar vigia o parque 24 horas, sete dias por semana. Com o ocorrido, ele diz que reforçará o policiamento no local a pé, com viatura e com motocicletas.

— Eu já fiz contato com ela para me solidarizar e ver o que aconteceu realmente, quais foram os dias, quais são os dias que ela e outras pessoas treinam. A gente já faz o policiamento, mas não conseguimos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Ali, com certeza, é um ponto importante para nós — afirma.

160 casos em Porto Alegre em 2024

Conforme a Polícia Civil, de 1º de janeiro até 10 de junho deste ano, Porto Alegre teve 160 registros de importunação sexual. No mesmo período, o RS teve 1.092 casos.

A delegada Fernanda Campos Hablich explica que, ao receber as denúncias, a polícia atua na identificação dos envolvidos e faz a investigações para comprovação da autoria do crime e coleta de provas.

Desconforto

Aline relata que, ao pedir ajuda para a Guarda Municipal, foi informada que eles só poderiam efetuar o registro junto à Polícia Civil. Ela diz também que se sentiu desconfortável, pois um dos agentes teria direcionado o olhar para as suas pernas enquanto ela relatava o ocorrido, uma vez que ela vestia bermuda de corrida.

Em nota, a Guarda Municipal informou a  Zero Hora que "o procedimento legal para vítimas de violência contra a mulher é o registro junto à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, da Polícia Civil" e que "não há possibilidade de registrar ocorrências policiais no Posto Avançado da Guarda Municipal na Redenção, criado para intensificar a presença da corporação no parque e facilitar o deslocamento de guarnições". O texto diz que "esta é a orientação dada pelos agentes no local".

A guarda diz ainda que "denúncias sobre a conduta de servidores municipais devem ser formalizadas junto à Ouvidoria".  O órgão acrescenta que "possui uma corregedoria independente, que não tem conhecimento de nenhuma ocorrência do tipo".

Câmeras de Segurança

A Guarda Municipal tem 26 câmeras de videomonitoramento operando na Redenção. No trecho 1 da Orla, há 36 dispositivos. No trecho 3, há mais 34 câmeras. Conforme a Secretaria de Segurança da Capital, todos os equipamentos estão em funcionamento.

A pasta informa que "as câmeras de videomonitoramento administradas pelo Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic-POA), incluindo os equipamentos da Redenção, estão à disposição da Polícia Civil." 

Em nota, a secretaria explica que "o responsável pela investigação solicita as imagens ao órgão, que atende prontamente o pedido" e diz que "nenhum arquivo é compartilhado diretamente com o cidadão, em razão das restrições importas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)".

Protesto e abaixo-assinado

Mediante as denúncias de assédio, o grupo de corridas decidiu convocar uma manifestação que ocorre no próximo sábado (13), às 6h30min, partindo do arco da Redenção e seguindo até a orla do Guaíba. O grupo cobra medidas mais efetivas de segurança do Poder Público nos espaços de convívio da Capital. 

Também foram coletadas quase 3 mil assinaturas em um abaixo-assinado online pedindo por mais segurança para as mulheres nos espaços públicos da Capital.

Como se proteger

A delegada Fernanda Campos Hablich dá algumas dicas para mulheres se protegerem deste tipo de situação:

  • Evitar realizar atividades físicas em locais isolados e escuros 
  • Praticar tais atividades acompanhadas
  • Se observar pessoas em situação suspeita, sair imediatamente do local
  • Assim que possível, buscar ajuda das autoridades policiais

Como denunciar

  • 190: Brigada Militar
  • 180: Central de Atendimento à Mulher
  • (51) 98444-0606 - WhatsApp ou Telegram
  • Pela Delegacia da Mulher online
  • Presencialmente em qualquer delegacia



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