Polícia



Negócio familiar

Três irmãos sócios das barbearias El Cartel são réus por associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro

Na sexta-feira (13), uma loja da rede, no centro de Porto Alegre, foi alvo de buscas da PF e da Receita Federal por suspeita de comércio irregular de bebidas e de perfumes importados sem o recolhimento de tributos

19/09/2024 - 10h26min


Adriana Irion
Adriana Irion
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Polícia Federal em uma das unidades da barbearia na Capital.

Desde o ano passado, a rede de Barbearias El Cartel Fernandes foi alvo de duas investigações da Polícia Civil por suposta ligação com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Em operação feita em março, dois irmãos que são sócios da rede foram presos. Um terceiro irmão está foragido desde aquela data. Na sexta-feira (13), uma unidade do grupo sofreu buscas da Polícia Federal e da Receita Federal.

Neste caso, é investigado Gabriel Luiz Wawruch de Oliveira por suposto descaminho de bebidas e de perfumes. Ele consta como sócio de cinco das 10 barbearias da rede. Oliveira foi preso pela PF em flagrante por descaminho e pagou fiança de R$ 5 mil para ser solto, ainda na sexta-feira.

Em março deste ano, a 3ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico deflagrou a Operação El Patron, que investigou lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Barbearias da rede teriam sido usadas para lavar dinheiro que seria proveniente da telentrega de drogas no Litoral Norte, especialmente, em Torres, Capão da Canoa e Tramandaí, e na Região Metropolitana. 

O esquema teria movimentado em torno de R$ 20 milhões no período de um ano e meio de investigação, segundo a polícia. Nesta operação, os três irmãos donos da El Cartel Fernandes – Erick, Allan e Nicholas –tiveram prisão preventiva decretada. Erick e Allan estão presos até hoje. Nicholas não foi encontrado no dia da operação e é considerado foragido.

Com base no inquérito do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), os três irmãos e mais 18 pessoas foram denunciados pelo Ministério Público (MP). Para o MP, os Berkai Fernandes concorreram para os delitos porque teriam emprestado suas contas bancárias para movimentar valores oriundos do tráfico e teriam agido para dissimular a origem, a propriedade e a movimentação de valores vultosos. Os Berkai Fernandes são réus por associação para o tráfico de drogas e por lavagem de dinheiro.

A primeira investigação envolvendo a rede El Cartel Fernandes foi a Operação Xerxes, da Delegacia de Combate à Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), ocorrida em maio de 2023. A polícia suspeitava que valores de criminosos - ligados a extorsões e ao tráfico de drogas - estava sendo usados para fomentar o crescimento do negócio familiar de barbearia que se transformou rapidamente em uma conceituada rede. A El Cartel tem hoje oito lojas em Porto Alegre e duas no Rio de Janeiro.

O principal sócio do empreendimento, Erick, era apontado pela polícia como um dos articuladores da lavagem de dinheiro e operador de contas bancárias. Ele e os irmãos Allan e Nicholas chegaram a ser presos na ação. Durante as buscas, a polícia encontrou grande estoque de bebidas importadas. O material foi encaminhado à Receita Federal. O inquérito do Deic ainda não foi concluído. A polícia teve de pedir nova ordem judicial para que as administradoras de máquinas de cartão enviem extratos para análise.

Contraponto

O que diz Higor Arantes, advogado de Gabriel Luiz Wawruch de Oliveira

"O escritório assumiu a defesa de Gabriel na terça-feira (17). Assim que tivermos acesso a todas provas da investigação, iremos nos manifestar sobre o caso."

O que diz Daniel Escalona Garcia, que defende Erick Berkai Fernandes, principal sócio das barbearias

"Todos os produtos em exposição em loja da rede são de propriedade de GW, empresa do Sr Gabriel, e possuem notas fiscais. A Rede El Cartel Fernandes composta por 10 lojas em dois Estados e mais de 50 colaboradores, vem a público esclarecer que a operação deflagrada pela PF em conjunto com a RF nada tem a ver com suas operações. A empresa investigada é ocupante de parte do complexo localizado na Rua Sete de Setembro, 1096, no centro de Porto Alegre, na condição de sublocatária, e suas atividades nada tem a ver com as atividades da rede de Barbearias El Cartel Fernandes. A rede El Cartel Fernandes está apurando os fatos e tomará todas as medidas cabíveis para preservação da sua marca e do seu bom nome comercial. Reitero que não há nenhuma prova concreta da ligação dos meus clientes com qualquer organização criminosa. Na operação El Patron, a prova material contra o Erick são duas transferências de R$ 9 mil relativas ao pagamento da promessa de compra e venda de um imóvel. Na operação Xerxes, a prova apresentada pela acusação são 'movimentações financeiras suspeitas', que serão plenamente justificadas pelo movimento financeiro das barbearias. Inexiste qualquer movimentação financeira de Erick com qualquer traficante ou pessoa com atividades ilícitas. A verdade é que as provas são incipientes e frágeis para justificar tamanha agressão contra a imagem de uma empresa e de seus sócios."

O que dizem Andrey Moreira e Ygor Pedroso, advogados de Allan Berkai Fernandes

"No tocante aos fatos imputados a Allan Berkai Fernandes, relacionados à Operação El Patron, não correspondem à realidade. Os elementos investigativos são absolutamente frágeis no que tange ao nosso constituinte, não restando dúvida de que após o encerramento da instrução processual a inocência do Sr Allan será demonstrada e reconhecida. Contudo, lamentavelmente, os danos causados à imagem, à honra e ao psicológico de Allan são irreversíveis, sendo que nem mesmo a absolvição será capaz de restaurar tudo o que foi destruído por acusações infundadas e pela desnecessária segregação cautelar, que já se estende por longos seis meses."

O que diz a defesa de Nicholas Berkai Fernandes

A reportagem tenta contato com a defesa de Nicholas Berkai Fernandes.


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