Polícia



Operação Litus

Facção usa aluguéis via Airbnb para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas

Grupo criminoso, que também revende armas com alto poder de destruição, é alvo de 75 mandados judiciais executados pela Polícia Civil nesta terça-feira

06/05/2025 - 10h07min

Atualizada em: 06/05/2025 - 10h07min


Humberto Trezzi
Humberto Trezzi
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Ronaldo Bernardi
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A Polícia Civil cumpre 75 mandados judiciais na manhã desta terça-feira (6), sendo 13 de prisão preventiva. Os alvos são integrantes de uma facção criminosa com duas características incomuns: revenda de armas de alto poder de destruição (incluindo lança-foguetes antitanque) e lavagem de dinheiro por meio de aluguel de apartamentos em sites.

O alvo é uma facção da zona leste de Porto Alegre, dominante na Região Metropolitana, com grande penetração em Canoas e no Litoral Norte. A investigação de mais de um ano, realizada pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) de Canoas, constatou que a quadrilha adquiriu imóveis em algumas das principais praias gaúchas, como Capão da Canoa e Tramandaí, no intuito de lavar dinheiro. Muitos desses apartamentos são alugados via Airbnb, plataforma pela internet que faz locação por curtos períodos de tempo. Para não despertar desconfianças, o grupo usa "laranjas" sem antecedentes criminais para realizar os contratos. A ação policial leva o nome de Operação Litus, que significa Litoral em latim.

Cerca de 150 policiais civis cumprem as medidas, de forma simultânea, nos municípios de Canoas, Alvorada, Portão, Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa e no Estado de Santa Catarina, nas cidades de Palmitos e São José. Até as 7h, 11 indivíduos foram presos e três veículos blindados, apreendido. Os crimes investigados são lavagem de dinheiro, organização criminosa, comércio ilegal de armas de fogo, tráfico de drogas, homicídios, extorsões e agiotagem.

A investigação começou há um ano em Osório, com a prisão de dois indivíduos por posse de arma de fogo de uso restrito. Eles tinham antecedentes por homicídio, tráfico de drogas e extorsão, sendo ligados à facção do bairro Bom Jesus, em Porto Alegre.

Como funcionava o esquema

O trabalho da polícia aponta que, além de armas, os investigados vendem drogas e praticam agiotagem. Os devedores são extorquidos mediante violência. A facção também adquiria imóveis no litoral gaúcho em nome de terceiros. As residências eram colocadas na plataforma de locação por temporada (Airbnb).

Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Veículo blindado foi apreendido.

Em diálogos pelo WhatsApp, um dos que foram presos nesta terça-feira (6) afirma que já teria quatro casas na praia, alugadas por meio de diárias. Ele teria melhorado os imóveis, colocando piscina e banheira de hidromassagem, com o que conseguiu faturar R$  2 mil por dia entre todos os imóveis alugados.

Um dos líderes da facção, em conversa com subordinados, calcula que a organização fatura R$ 150 mil mensais com aluguel de casas colocadas em nomes de laranjas pelo Airbnb. Isso inclui litoral gaúcho e também o catarinense.

Esse investigado teria comprado um terreno em condomínio de luxo em Tramandaí, por R$ 1,2 milhão, no qual residem autoridades políticas gaúchas. Ali ele pretendia construir e estabelecer residência, mas não chegou a começar a construção.

Até pela presença de autoridades naquele condomínio, a Polícia Civil decidiu apressar a operação.

— A Polícia Civil não permitirá que criminosos se espalhem livremente pelo litoral gaúcho e desfrutem das suas benesses no convívio de pessoas de bem — avisa o responsável pela investigação, delegado Gustavo Bermudes, da Draco/Canoas.

De acordo com o Delegado Regional, Cristiano Reschke, a operação é um duro golpe no crime organizado. Além dos presos, serão indisponibilizados diversos veículos e imóveis,  incluindo terreno e casa de luxo em condomínios do litoral norte gaúcho.

Arsenal inclui arma de guerra

A negociação de armas era prática rotineira no grupo investigado. Nos celulares apreendidos foram encontrados vídeos nos quais eles oferecem para outros bandidos um lança-foguetes antitanque M72 Law, usado pelo Corpo de Fuzileiros dos EUA e também pela Ucrânia na guerra contra os russos. O armamento  ainda não foi encontrado pelos policiais.

Quanto isso?questiona um dos bandidos, referindo-se à arma como "bazuca".

26 (mil)responde o vendedor.

Em outro vídeo, uma pistola calibre 9 mm novíssima é mostrada, montada e desmontada, para convencimento do possível comprador. Em vários diálogos os criminosos fazem menção ao porte de armamento, como nesse:

Aí, cupincha, eu tava com uma 9 (mm), linda...passei adiante, mas agora tô com um "oitão" (revólver calibre .38). Não dá para ficar sem carregar nada, o bagulho é sinistro.

Em outros diálogos, um criminoso fala de trocar de pistola e outro fala em adquirir espingarda:

Vou ver se troco minha Glock ali.

O outro responde:

É bom uma doze, né, meu...Uma doze! É que eu não (me dou) com meu cunhado, senão nós se arrumava em força de brique de arma. Bah, Os Manos estão sempre briqueando.

Eles também relatam compra de munição. "

Precisava de um pente de 10 para largar ali pro piá, diz um criminoso.

O outro responde:

Na real ele só tá com um pente na pistola, de 17 (projéteis). Será que os pentes de Glock servem nela? Ou é da Ramon que serve na Glock? Um gurizão aqui me ofereceu um pente de 30, de acrílico (um tipo que dispara rajada).


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