Polícia



Campos de Cima da Serra

Vídeo mostra brigadiano matando a tiros homem imobilizado com as mãos para trás

Caso ocorrido em março em Bom Jesus, registrado pelos PMs como "oposição à intervenção policial", é investigado por Polícia Civil e Brigada Militar

09/07/2025 - 15h33min

Atualizada em: 09/07/2025 - 15h33min


Adriana Irion
Adriana Irion
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A gravação que mostra um policial militar (PM) baleando duas vezes um homem algemado com as mãos para trás causou reviravolta em uma investigação de suposto confronto policial em Bom Jesus. O caso ocorreu em 4 de março e, até junho, era investigado com base no que os brigadianos haviam relatado em ocorrência: que Geovane Matias Maciel, 19 anos, havia sido alvejado e morto em decorrência de "oposição à intervenção policial", ou seja, por supostamente ter reagido durante a abordagem. Uma faca, que teria sido usada por Maciel para reagir, foi levada pelos PMs para a delegacia.

No final de junho, no entanto, o Ministério Público (MP) recebeu a gravação do momento em que Maciel, já algemado, recebe, ao menos, dois tiros de um dos quatro PMs que aparecem na imagem (veja acima). O vídeo foi enviado pelo MP à Polícia Civil com pedido de nova apuração. O caso segue sendo investigado pela polícia e pela Brigada Militar. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados, mas a reportagem apurou que são os policiais militares Emerson Brião — o PM que atira na vítima, segundo apurado pelo GDI —, Bruno Moogen Souza Ramos, Geremias Pezzi Paim e André Remonti.

O coronel Vladimir Luís Silva da Rosa, corregedor-geral da BM, explicou as medidas tomadas após a descoberta do vídeo.

— Por ser grave, assim que soubemos da gravação, avocamos (solicitamos) o Inquérito Policial Militar para a corregedoria e afastamos os quatro policiais. Pedimos buscas nas residências e a prisão preventiva do PM identificado como sendo quem atirou. As buscas foram cumpridas semana passada. Sobre a prisão, estamos aguardando manifestação da Justiça — declara.

O grupo de Investigação da RBS (GDI) teve acesso à gravação. A reportagem apurou que Maciel era passageiro de um carro de aplicativo. O veículo foi parado em uma blitz e os PMs, ao conferirem os documentos, constataram que havia um mandado de prisão contra ele — era suspeito de incendiar a casa da ex-companheira.

A gravação feita no local mostra um veículo cinza parado entre duas viaturas da BM. Junto a Maciel estão três PMs (um quarto aparece mais distante). A pessoa que fez a gravação estava atrás de carros estacionados a alguns metros de onde está o grupo. O vídeo mostra o momento em que Maciel está sendo algemado com as mãos para trás por um dos policiais. Em seguida, um segundo PM faz um disparo quase à queima-roupa contra Maciel (esse tiro teria acertado a cabeça), que começa a cair. Já com parte do corpo no chão, ele recebe mais um tiro. A gravação acaba neste momento.

O GDI apurou com a Polícia Civil que esses dois disparos teriam causado a morte do homem, já que atingiram, segundo a perícia do Instituto Geral de Perícias, a cabeça e o tórax da vítima. 

Mas a necropsia também indicou que Maciel foi ferido com um total de quatro tiros. Ou seja: ele já havia sido baleado duas vezes antes de a gravação começar a ser feita. Os dois primeiros disparos atingiram o abdômen. Perícia a ser feita nas armas dos brigadianos vai indicar se todos os tiros partiram de uma única arma.

Os quatro policiais do 10º BPM estão afastados das funções desde 23 de junho, quando a corporação teve conhecimento do teor da gravação. 

Contraponto

Procurado pela reportagem, o advogado Fábio Silveira, que responde pela defesa de Emerson Brião, divulgou a seguinte manifestação:

"A defesa do Soldado investigado no fato ocorrido em Bom Jesus informa que está contribuindo para com a investigação e que a prova coletada deve trazer a íntegra do ocorrido e sobre o contexto completo nos reservamos o direito de somente falar nos autos do inquérito."

O advogado Maurício Custódio, responsável pela defesa de Bruno Moogen Souza Ramos, Geremias Pezzi Paim e André Remonti, divulgou nota por meio da qual declara que o vídeo é um recorte isolado de prova que, embora impactante, não revela a integralidade dos fatos ocorridos. Leia abaixo:

Caso Bom Jesus/RS

A defesa dos Policiais Militares envolvidos que não efetuaram disparo, esclarece que o vídeo recentemente divulgado pela imprensa retrata apenas o desfecho de uma ocorrência policial complexa, que se estendeu por cinco dias e envolveu a prática de diversos crimes. Trata-se de um recorte isolado de prova que, embora impactante, não revela a integralidade dos fatos ocorridos.

É precipitado promover qualquer julgamento público com base em uma imagem descontextualizada, sobretudo quando há elementos robustos nas investigações conduzidas pela Brigada Militar e pela Polícia Civil que evidenciam a ausência de vínculo direto dos policiais com o desfecho apresentado no vídeo.

Importa destacar que os três policiais representados por esta defesa não efetuaram qualquer disparo durante a ação. Foram surpreendidos pela dinâmica do momento, conforme se verifica pelo posicionamento divergente de cada um, com atenção voltada a outros aspectos da ocorrência, sem possibilidade de prever, impedir ou influenciar a conduta individual de outro agente.

A defesa acompanha atentamente o andamento das investigações e atua de forma ativa na produção de provas que confirmam a inexistência de nexo causal e de coautoria em relação ao resultado final da ocorrência.

Caxias do Sul, terça-feira, 8 de julho de 2025

Mauricio Adami Custódio
OAB/RS 84.920

Ivandro Bitencourt Feijó
OAB/RS 79.779

Inquérito da Polícia Civil

Em nota (leia a íntegra abaixo), a Polícia Civil informa que, a respeito do homicídio de Geovane Matias Maciel, inicialmente apresentado como morte decorrente de oposição à intervenção policial, o caso tomou novos rumos em 23 de junho com uma denúncia anônima acompanhada de vídeo e decidiu abrir novo inquérito para investigar o caso.

A Polícia Civil informa em relação ao homicídio de Geovane Matias Maciel, ocorrido em Bom Jesus-RS, no dia 4 de março de 2025.

Inicialmente apresentado como morte decorrente de oposição à intervenção policial, o caso tomou novos rumos.

O Inquérito Policial inicial foi concluído e remetido à Justiça de Bom Jesus dentro do prazo legal, fundamentado nos depoimentos dos quatro policiais militares envolvidos e de uma testemunha, os quais relataram resistência à prisão e agressão de Geovane com uma faca contra um dos policiais, que reagiu a tiros. Entretanto, em 23 de Junho, a Polícia Civil recebeu do Ministério Público uma denúncia anônima via Internet, acompanhada de vídeo. Essa nova informação alterou substancialmente o curso das investigações, pois a imagem indica que o jovem já estava detido e algemado no momento em que foi atingido por dois disparos de arma de fogo.

Diante desses elementos, a Polícia Civil instaurou novo Inquérito Policial, extraordinariamente pela DP Vacaria, sob a presidência do Delegado Anderson Silveira de Lima.

É fundamental ressaltar que a Polícia Civil tem a atribuição legal para investigar crimes dolosos contra a vida praticados por militares em serviço.

A Justiça de Bom Jesus foi prontamente comunicada sobre a existência dos novos fatos e da instauração do novo Inquérito Policial. Diversas diligências já foram realizadas na nova Investigação e outras estão em curso. O vídeo crucial para a investigação foi encaminhado ao Departamento de Criminalística para perícia, assim como as armas utilizadas pelos policiais e projéteis extraídos no exame de necropsia.

Informa-se ainda que os quatro Policiais Militares envolvidos são lotados na Organização Policial Militar (OPM) de Bom Jesus, e foram afastados de suas funções pelo Comando Regional.

Geovane, de 19 anos, possuía Mandado de Prisão Preventiva por violência contra sua ex-companheira, sendo suspeito de incendiar a casa dela dois dias antes do homicídio, fogo que consumiu totalmente a moradia da mulher e a de um vizinho. Também foi apontado como autor de furto de uma motocicleta e a uma propriedade rural na véspera de sua morte. Enquanto adolescente foi investigado por diversos atos infracionais, incluindo ameaças, furtos e roubos, sendo o mais grave o latrocínio de um morador do Governador, 2º Distrito de Bom Jesus, então com 39 anos, que foi morto com tiro de espingarda durante um roubo.

O novo Inquérito Policial deve ser concluído em trinta dias, quando será remetido à Justiça.

Vacaria, 07 de Julho de 2025.

Carlos Alberto Defáveri Delegado de Polícia Regional


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