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Medo da violência

Um terço dos postos da Capital tem botão do pânico

Unidades de saúde de Porto Alegre instalaram aparelho que denuncia situação de risco e outras 40 devem receber alarme até dezembro

30/09/2015 - 07h03min

Atualizada em: 30/09/2015 - 07h03min


Luiz Armando Vaz / Agencia RBS
Botão no PA da Cruzeiro é acionado em situações de risco

O medo da violência disseminada fez com que as estruturas de saúde de Porto Alegre começassem a adotar medidas para tentar diminuir a falta de segurança que ronda os bairros. Até o final do ano, das 141 unidades da Capital - Pronto-Atendimento, Unidades de Saúde e UPAs, 85 devem contar com o "botão do pânico" para que seja acionado toda vez que funcionários se sentirem ameaçados. Até o momento, 45 postos já possuem a tecnologia.

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O sistema começou a ser instalado no município em 2013. Nos dois primeiros anos, a prefeitura investiu R$ 510 mil na tecnologia. Apenas este ano, o valor será de R$ 640 mil, uma média de R$ 14 mil gastos com alarme por unidade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o valor condiz com a necessidade de segurança dos postos.

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Estão sendo atendidos, primeiramente, as unidades situadas em regiões de conflito. Durante o dia, quando o botão é acionado, é emitido um sinal de luz, sem som, aos vigilantes ou porteiros. À noite, com a unidade fechada, o alarme deve disparar automaticamente para a Guarda Municipal em caso de invasão.

Humanizar atendimentos

De acordo com o secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter, o investimento nos alarmes deve evitar, principalmente, furtos e arrombamentos, mas não age diretamente na prevenção da violência. O órgão está mapeando as principais regiões de conflito.

- Estamos mudando as formas de acesso aos postos, principalmente em regiões onde a comunidade não tem tanta participação na gestão e propostas da unidade de saúde, que são onde geralmente ocorrem os casos de violência - disse o secretário.
Segundo ele, o problema não deve ser resolvido com alarme, grades ou policiais, mas com diálogo.

- Estamos investindo também na humanização do atendimento. Nossos profissionais precisam estar preparados para lidar com a população, pois, muitas vezes, por não entenderem que determinado caso não necessita de atendimento imediato, as pessoas acabam perdendo a paciência - defende.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), 73% dos estabelecimentos de saúde não possuem guardas terceirizados. A grande maioria - 123 postos - possuem porteiros em frente aos prédios.

Botão aciona vigilantes

Um dos locais que possuem a medida é o Pronto-Atendimento Bom Jesus, na Zona Leste. Desde junho, foi instalado um botão em cada mesa de técnicos e médicos para ser utilizado, por exemplo, quando um paciente estiver se exaltando. Ao ser acionado, uma luz vermelha acende próximo aos vigilantes. De acordo com o coordenador do PA, Roibison Monteiro, o sistema foi instalado depois de uma sucessão de confusões que ocorreram em maio dentro da unidade. 

- Nós tivemos três agressões, uma física e duas verbais, no espaço de uma semana. Depois disso é que solicitamos um botão para alertar os vigias. Em junho, depois de instalado o sistema, uma recepcionista foi ameaçada. Se não fosse o botão, poderiam ter quebrado o vidro que separava ela do paciente - fala o coordenador.

Segundo ele, a equipe de vigilância e portaria foi treinada para lidar com situações de estresse de pacientes e há um maior controle da portaria.

Medo de trabalhar

No Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul, mesmo com todo o investimento, o botão do pânico não chegou a ser acionado pelos funcionários no tumulto da última sexta-feira. De acordo com uma das técnicas em enfermagem que estava no momento do ocorrido, não deu tempo de apertar o botão, que fica na Sala da Odontologia, onde já ocorreu violência.



- Nós ficamos encurralados nas salas de atendimento, sendo agredidos e sem ter o que fazer. Foi um dos piores momentos da minha vida. O que tem de novidade é que a população está no limite do estresse - aponta a profissional.

Segundo ela, são frequentes os casos de agressão verbal no PA, mas físicas são raras. Mesmo com um hematoma no braço, por conta do empurrão que levou, a técnica voltou ao trabalho logo que reabriu o local.

- Eu continuo trabalhando porque acredito na profissão que escolhi. Atendemos a qualquer pessoa, independentemente de quem for ou do que fez. Voltei ao serviço porque não quero ser vencida pela violência - diz a funcionária.

Afastamentos

Após o ocorrido na Cruzeiro, dois profissionais pediram afastamento por estarem traumatizados com a situação. De acordo com a  SMS, no primeiro semestre deste ano foram 154 solicitações de afastamento por acidente de trabalho de todos os profissionais da saúde relacionados à prefeitura. Destes, pelo menos nove casos envolveram violência. Nos 12 meses do ano passado, a Secretaria registrou 393 atestados médicos por acidentes de trabalho, destes, 15 identificados como casos de violência.

De acordo com o coordenador geral do PA Cruzeiro do Sul, Luis Henrique Tarragô, diversas medidas de segurança estão sendo tomadas para evitar conflitos dentro da unidade. O promotor em saúde da população negra, Jair Fortes Rodrigues, aponta que o que está acontecendo é uma perda de valores da sociedade.

- A violência aumentou em toda a cidade e em todo o Brasil. Na Cruzeiro, foi o povo quem exigiu atendimento médico na região. Eles fizeram manifestações e ganharam. Precisamos recuperar na comunidade a vontade de cuidar e proteger o que é deles _ disse Jair.

Oito medidas em um ano

- No Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre, em um ano, oito medidas de segurança foram adotadas.
1. No ano passado, o PA começou a instalar câmeras pelo local.
2. Em fevereiro deste ano, o botão de pânico foi instalado na Sala de Odontologia.
3. Desde abril, as portas laterais ficam sempre fechadas e as pessoas não podem utilizar o PA como corredor para chegar na Unidade de Saúde, é preciso dar a volta por fora.
4. Em julho, o controle da entrada de pacientes ficou mais rigoroso. Quem chega para atendimento no local recebe uma ficha para aguardar ser chamado.
5. Após triagem, a pessoa recebe uma pulseira, indicando o grau de gravidade da doença.
6. Em agosto, a ala de Saúde Mental ganhou um detector de metais. Agora, a unidade quer ampliar o número de vigilantes terceirizados.
7. O PA solicitou mais dois vigilantes terceirizados para trabalhar no local, além dos funcionários existentes.
8. Desde o início do ano, não são passadas mais informações sobre estado de saúde de pacientes por telefone.

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Atendimento com restrições

Ontem, quatro dias após a confusão que fechou o PA Cruzeiro, o atendimento ao usuário ocorreu com algumas restrições. Dos 12 médicos que estavam escalados, 11 compareceram ao trabalho.

A Brigada Militar segue fazendo a ronda no entorno, enquanto a Guarda Municipal realiza a segurança em frente ao PA. Até às 16h30min, 222 pessoas foram atendidas, o que corresponde à metade da média normal, segundo a SMS.

A ala psiquiátrica deve reabrir apenas hoje, pois, aproveitando a saída dos pacientes, o espaço passou por uma reforma. Hoje pela manhã o Conselho Regional de Medicina deve fiscalizar e coletar informações do Pronto Atendimento para avaliar se o exercício ético da medicina está sendo mantido no ambiente ou não. A decisão pode ocorrer até o início da semana que vem.

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