Papo Reto
Manoel Soares: "Terapia cura"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Terapia. Sei que uma galera já abandonou esse texto só por ler essas sete letras. Existe uma resistência muito grande de quem mora nas quebradas quando o assunto é começar um processo terapêutico. Primeiro, porque nos ensinaram que quem vai ao psicólogo ou psiquiatra é quem tem problema mental, nosso preconceito não nos deixa entender muito além disso.
Só que todos temos problemas mentais, ricos ou pobres, o que muda é o perfil do problema. A maioria acha que, se vasculhar a cabeça, vai ter que acessar memórias e fatos do passado que são muito dolorosos e que não vai resolver em nada mexer. Essa visão é muito equivocada, pois temos que entender que nosso psicológico não conhece o tempo. Nossa mente entende que as dores da infância vivem em nosso inconsciente e encontra formas de se manifestar de maneiras que, sem acompanhamento, não sabemos interpretar. Um homem que apanhou aos três anos, por mais que não se lembre das surras, quando se torna pai usa a violência como forma de educar, isso porque não tratou o trauma de infância e sua criança interior que ainda sofre com o que viveu tenta mostrar que, agora, ela é quem tem o poder.
Leia mais colunas de Manoel Soares
Luísa e Heloísa
Ser um bom pai tem que ser algo normal
Quando o sol chegar
Às vezes, o trauma que nos impede de ser fiel em um relacionamento está ligado a uma relação conturbada com a mãe, às vezes nosso desejo de ter roupas, tênis, telefones e carros caros está ligado ao medo de ser abandonado, então mostramos que somos valiosos através de objetos. Tem aquelas pessoas que foram rejeitadas na infância e que, quando crescem, ficam tratando quem os ama com agressividade, porque têm a necessidade de testar o amor. Geralmente, pessoas que ficam se afirmando o tempo todo, são pessoas que têm baixa autoestima e medo de que descubram que elas não são tudo o que vendem.
Óbvio que tudo que você leu são possibilidades, pois nada é exato na psicologia. Começar um tratamento, inclusive quando estamos bem, é o caminho mais válido, pois não temos feridas abertas. Se estamos frágeis, com pensamentos ruins na cabeça, temos que buscar ajuda. Assim como vamos a um ortopedista quando quebramos o pé, ao oftalmo quando não enxergamos bem, temos que ir a um terapeuta quando nossas emoções e pensamentos começam a criar sofrimento.
Quando vejo um amigo fazendo terapia, não penso que ele não está bem da cabeça, pelo contrário: por estar se cuidando, ele deve estar bem melhor que eu.