Papo Reto
Manoel Soares: "Como eu quero"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Eu espero que minhas palavras aqui demorem para fazer sentido, mas me sinto na obrigação de dividir com você, que há quase 20 anos me lê semanalmente. Todos morreremos um dia, eu acho um pouco delicado tomar decisões quando não mais poder decidir, mas aqui vai.
Quem puder não chorar a partida, não chore, sei que a ausência é algo estranho que assusta, mas, por favor, contem minhas gafes, minhas mancadas hilárias e ajudem meus filhos através de suas histórias a conhecerem uma versão de Manoel que o papel de pai não permitiu que eles tivessem acesso. Por favor, não deixem faltar vinho, de preferência vinhos da África do Sul.
Gostaria de música, na playlist nomes da música negra brasileira e mundial. Se puderem ter uma galera do Slam declamando poesia eu aceito, seria bacana também uma galera da velha guarda trazendo Olavo Bilac, Machado de Assis, Castro Alves entre outros.
Sobre rituais religiosos, me abstenho de exigir, quem tiver que pedir algo que peça para si, como já estarei do outro lado, eu mesmo acerto os detalhes de minha chegada. Só por favor não façam missa de sétimo dia, como nunca fui na de ninguém, acho deselegante pedir para que vão na minha.
Acho charmoso a cerimônia de cremação, mas não quero muitos presentes, só aqueles que sentirem a necessidade mesmo, que acredito que não sejam muitos. As cinzas podem ser misturadas em terra preta e adubo para alimentar um bonsai de baobá, esse último pedido provavelmente ninguém atenda, mas não custa pedir, né? Como disse, não se animem, ficarei aqui por muito tempo ainda, mas, se perguntarem como que eu queria, está registrado.