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Após enchente

Falta de luz, reformas e perda de alunos: escolas estaduais da Capital enfrentam desafios para retomada 

No Estado, são 2.262 instituições da rede em funcionamento presencial (20 em espaço alternativo), 46 no sistema remoto e 12 em formato híbrido. Conforme a Seduc, 3.299 alunos estão em abrigos e 896 não foram encontrados na busca ativa. Dois meses depois, crise climática ainda provoca dificuldades

08/07/2024 - 20h31min


Kathlyn Moreira
Kathlyn Moreira
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Lucas Abati
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Mais de dois meses após a enchente, escolas gaúchas que sofreram inundações ainda estão com dificuldades para receber alunos e retomar as atividades. Segundo a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), 2.262 escolas da rede estão funcionando presencialmente (20 em espaço alternativo), 46 no sistema remoto e 12 em formato híbrido (presencial e remoto). Há ainda 13 em operação presencial com revezamento, porque não estão com todos os espaços recuperados para atender a totalidade dos estudantes.

Em entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta segunda-feira (8), a secretária da Educação do RS, Raquel Teixeira, afirmou que 3.299 alunos estão em abrigos e ainda há 896 que não foram encontrados na busca ativa, podendo ter mudado de Estado ou não voltado para escola.

— A gente ainda não sabe onde estão, muitos mudaram de Estado, de lugar. Então é muita gente, as pessoas precisam entender o tamanho do evento climático que se abateu sobre o Rio Grande do Sul — afirmou a titular da pasta, que projeta o retorno das aulas até o dia 5 de agosto na rede estadual.

Pelo Mapa da Reconstrução, ferramenta que a Seduc utiliza para divulgar os dados, Porto Alegre teria duas instituições estaduais que constam como se ainda estivessem sem operação, a Escola Estadual Primeiro de Maio e a Lions Club. No entanto, a Seduc dá outra informação e diz que a Primeiro de Maio está com atividades e atende por revezamento.

Sem luz e sem previsão de retomada

No bairro Humaitá, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Lions Club Porto Alegre Farrapos está sem conseguir retomar as atividades. Com paredes ainda mostrando que a água passou a metade das portas, a instituição que recebia cerca de 220 estudantes não tem como reativar o refeitório, porque ainda não pode testar as geladeiras.

Já os banheiros, que ficam no térreo, estão sem portas, porque as estruturas de madeiras ficaram inchadas pela água. Além disso, metade da escola segue sem luz. A secretaria e a sala dos professores não têm mais móveis, e documentos em papéis ficaram molhados e estão em caixas na frente da escola. Pela janela dos fundos, ainda é possível ver objetos que foram arrastados pela água e ficaram no chão.

A gente está preparando para ter o mínimo de condições para receber esses alunos. Não temos luz, porque o quadro daqui de baixo ficou embaixo d'água. Em cima (segundo andar), estamos preparando, mas não temos refeitório, não temos fogão. Vamos ter que fazer um lanche improvisado. Mas as nossas condições são essas, não temos mais armários, recebemos uma verba e estamos dando um jeito.

LÚCIA MUZA

Vice-diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Lions Club Porto Alegre Farrapos

A quadra esportiva, que fica na área externa, ficou danificada e não tem condições de uso, de acordo com a direção. Além disso, uma parte do muro caiu, fazendo com que suspeitos entrassem no pátio e furtassem panelas e prateleiras que haviam sido recuperadas em meio aos estragos.

Questionada sobre o retorno das aulas, a vice-diretora não deu uma data definida e explicou que é preciso avaliar com a comunidade.

— A partir da semana que vem, provavelmente, a gente vai conversar com os pais para ver o relato deles e ver se estão seguros para mandar, e daí vamos tomar todas essas providências de voltar as aulas presenciais — projetou a vice-diretora.

A Seduc, no entanto, afirma que a escola vai voltar às atividades de forma gradual, em dois dias.

Lucas Abati / Agencia RBS
A Escola Estadual Major Miguel José Pereira, no bairro Sarandi, é uma das que ainda mantém as aulas remotas para os 370 alunos.

90% dos alunos afetados pela enchente

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Major Miguel José Pereira, no bairro Sarandi, é uma das que ainda mantém as aulas remotas para os cerca de 370 alunos matriculados. A direção estima que 90% dos alunos foram afetados pela enchente e afirma que muitos não teriam condições de retomar as atividades presenciais, mesmo que a estrutura estiver apta.

— Muita gente está em outros bairros, em outras cidades, tem muita gente ainda na praia. Retornar presencial para nós, agora, também não seria o ideal, porque muita gente ia ficar completamente sem aula — disse a diretora Patrícia Bellato.

Desde maio, cerca de 40 alunos trocaram de escolas, alguns por mudarem de bairro e outros porque os pais preferiram, em vez de manter as aulas online. A expectativa é retomar as atividades em 5 de agosto, início do calendário do segundo semestre das escolas estaduais.

Após a enchente, a limpeza foi finalizada, mas ainda é necessário concluir a reforma da cozinha e mobiliário das salas de aula. A biblioteca também foi totalmente destruída pela água, com praticamente perda total dos livros. Por serem moradores do bairro, muitos alunos perderam seus materiais e a escola também conseguiu doações de cadernos e mochilas para serem distribuídos.

— As mães da Escola Dom Feliciano (de Gravataí) organizaram uma campanha através de uma professora nossa que trabalha conseguiram essa doação de material escolar. Cerca de 160 alunos ganharam essa mochila com material completo. E depois para nossa alegria, recebemos de uma papelaria, kits com material para todos os nossos alunos — comemorou a supervisora Tatiana Facchini.

Na rede municipal da Capital, duas escolas voltaram nesta segunda-feira

As escolas municipais de Porto Alegre estão voltando de forma gradual. Das 14 que ficaram alagadas, seis já retomaram em espaços alternativos, conforme a Secretaria Municipal de Educação (Smed). Ao todo, 91 escolas próprias e 198 conveniadas estão em funcionamento.

Nesta segunda-feira (8), as escolas de educação infantil Ilha da Pintada, do bairro Arquipélago, e de Ensino Fundamental Vereador Antônio Gíudice, do bairro Humaitá, retomaram as atividades. Com mais de cem alunos, a EMEI Ilha da Pintada, foi limpa por um agrupamento operativo de fuzileiros navais da Marinha do Brasil, vindos do Rio de Janeiro. 

Já o prédio da EMEF Vereador Antônio Giudice, que atende 988 alunos, foi recuperado com o apoio do Exército, e ainda passa por obras de recuperação. As atividades escolares na unidade estão ocorrendo no segundo andar do prédio.

A Smed informou que oito escolas próprias ainda não retomaram: EMEF Migrantes, EMEIs JPs Tio Barnabé, Humaitá, Patinho Feio, Passarinho Dourado, Meu Amiguinho, Vila Elizabeth, Miguel Velasquez. Elas estão em obras de recuperação e irão retomar em espaços alternativos até o final de julho.



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