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Estrelas da Periferia

“Não vamos deixar a cultura morrer”, diz Lombrado, artista de Eldorado do Sul

Pedro Lenz planeja fortalecer a cena musical e ajudar a comunidade após enchente que atingiu o Rio Grande do Sul

18/06/2024 - 16h23min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
reprodução / instagram
Foi pauta do “Estrelas” no dia 19 de março

Em março deste ano, o Estrelas da Periferia contou a história de Pedro Lenz, o Lombrado. Repetimos o que foi dito na época sobre ele: é uma figura única no cenário musical. Nascido e criado no bairro Sans Souci, de Eldorado do Sul, ele se destaca como músico, compositor e produtor. 

O artista organizava eventos e projetos sociais na comunidade, levando, através da arte, uma nova perspectiva para a criançada. 

Quando o nome do bairro começou a ser citado com frequência no jornal, como um dos mais afetados pela enchente do Rio Jacuí, Lombrado voltou à nossa mente: “Como estaria, agora, o artista que demonstrava tanta preocupação e carinho com a sua comunidade?”  

A coluna demorou alguns dias para ter retorno de Pedro. Quando conseguimos entrar em contato, ele contou contente que havia voltado para os palcos.

Questionamos sobre a enchente e se ele havia sido atingido. A resposta foi “sim”, mas ele não estava preocupado com isso. 

Naturalmente, respondeu que o que importa é que a família estava bem e que ele está conseguindo ajudar quem precisa.  

Pedro então contou que teve sua casa inundada durante três semanas. Chegou a ir para a Capital, ficar com a irmã, mas a cabeça continuava em Eldorado. Acabou voltando depois de poucas horas, e não saiu mais de lá. Ficou ilhado no segundo andar de sua residência por 20 dias.  

Segundo o artista, não foi só a coluna que se preocupou com seu sumiço:  

— Me isolei de tudo, fiquei sete dias sem contato com ninguém. As pessoas começaram a postar minhas fotos, dizer que eu estava desaparecido — lembra.  

Ele, na verdade, estava focando no trabalho. Escrevendo e ensaiando. Para sobreviver, recebeu mantimentos de alguns amigos.  

Mas, mesmo ilhado em casa, Pedro não deixou de lado seu espírito comunitário: 

— Eu moro aqui há 26 anos e nunca tinha visto algo parecido. Foram vários dias separando alimento, colchão, roupa, mas não conseguimos ajudar nem metade das pessoas que eu queria ajudar. 

Ele diz ter acompanhado bem de perto como foi o retorno das pessoas, a limpeza, o recomeço — o que ele chamou de “a passagem do caos para algo mais calmo”:

— Isso me inspirou também a escrever muita coisas, ter muitas ideias. 

Mas, segundo Pedro, a vida em Eldorado ainda não voltou ao normal. Ele explica que a situação está bem complicada.  

— Principalmente o pessoal que mora na região perto da prainha da Sans Souci, muitos nem puderam voltar para suas casas direito ainda e a chuva já voltou a alagar — conta Lombrado, que complementa:

— É muito triste não saber quando vão se ajeitar as coisas. 

Volta aos palcos 

Para voltar aos palcos e continuar ajudando, Pedro disse que quer focar em eventos beneficentes.  

O primeiro foi a Caravana Solidária, em Camaquã. Cerca de 30 artistas se apresentaram no teatro da cidade para arrecadar mantimentos para as vítimas. Segundo Lombrado, o ônibus voltou lotado de donativos.  

No evento, ele apresentou uma música nova chamada Deixa os Meninos Sonhar. Na letra da faixa que será lançada em breve, a meta de levantar e fortalecer a comunidade a partir da sua arte permanece explícita. 

"Os menorzinho na quebrada joga no campinho
Buscando seu lugar ao sol trilhado o seu caminho
Uns sonhando em ser jogador, outros ser MC
Fugindo da mira do crime pra progredir” 

Depois da apresentação alguém relatou que chorou ouvindo a música. Este é o seu combustível, garante o artista.  

— Quero ajudar a manter o sonho vivo — diz Lombrado.  

Para isso, está sendo organizado um sarau beneficente em Guaíba. Além de arrecadar donativos, Pedro que dar a oportunidade de artistas novos se expressarem. 

O evento terá microfone aberto e, até uma hora antes, qualquer um pode se inscrever para participar. 

— O mais difícil pro artista é não fazer arte, não poder expor seu trabalho — afirma. 

A preocupação dele não é só com os cantores, mas com outros trabalhadores que dependem da cena artística para seus sustentos: 

— Nosso setor todo é prejudicado, a casa de show, o técnico de luz, de som... Todos precisam voltar a trabalhar aos poucos. 

E para a gurizada, Lombrado afirma que em agosto vai ter a segunda edição do Flow das Ruas, uma ação que leva cultura e entretenimento para a comunidade. Com workshop de grafite, apresentações artísticas e aula de breakdance, Pedro afirma outra vez: 

— Não vamos deixar a cultura morrer.  

Como ajudar Lombrado 

Doações podem ser feitas pela chave Pix: 026.233.340-64 (CPF)
Para contratar: contatohazevison@outlook.com
Siga nas redes sociais: @eleolombrado, @hazevisionoficial

* Produção: Camila Mendes


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