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Após decreto de obrigatoriedade, maioria das pessoas sai de casa com máscaras, mas uso correto ainda é desafio

Na Capital, parte da população ainda tem dificuldade em se habituar com o item

11/05/2020 - 21h16min


Jeniffer Gularte
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Fila à espera do transporte público na Avenida Salgado Filho, no Centro Histórico

No primeiro dia de obrigatoriedade do uso de máscaras em todo território gaúcho, medida prevista em decreto do governador Eduardo Leite, a maior parte dos porto-alegrenses saiu de casa com a proteção no rosto. O desafio daqui para a frente, porém, está no uso correto do item.

Por três horas, a reportagem circulou por oito bairros da Capital entre o final da manhã e o início da tarde desta segunda-feira (11). Em nenhum comércio foi identificada aglomeração de pessoas. Embora quem já tenha permissão de abrir as portas em Porto Alegre esteja se esforçando para cumprir as regras de distanciamento social, parte da população ainda tem dificuldade em se habituar com a máscara.

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Especialmente nos bairros Azenha e Centro Histórico, é comum ver pessoas colocando-a no queixo, com nariz e bocas desprotegidos, ou baixando a máscara ao falar ao telefone e gravar áudios no celular. Caminhando pelas calçadas, não resistem a tentação de coçar nariz ou até mesmo pendurá-la em uma orelha só.

— Está difícil as pessoas se conscientizarem que a coisa é séria. Tem muita gente de máscara, mas também muita gente usando de forma errada, principalmente abaixo do queixo. Todo cuidado é pouco. A máscara não nos imuniza do vírus, mas é uma forma de proteção — diz a dona de casa Marion Pinto Valejo, 49 anos, enquanto aguardava um lanche na calçada da Avenida Osvaldo Aranha, no bairro Bom Fim.

Na Avenida da Azenha, um dos pontos de comércio mais movimentados da Capital, poucas lojas abriram. Os pequenos estabelecimentos que atendem têm limitação para acesso de clientes e, alguns, impõem restrição de acesso já na porta. Enquanto as lojas do bairro estavam praticamente vazias, as calçadas tinham vaivém intenso. Filas se formaram em frente a bancos e lotéricas. Por volta das 11h30min, em um grupo de 30 pessoas que aguardava na calçada para entrar em uma agência bancária, apenas um homem estava sem a proteção, o que despertava olhares indignados dos demais clientes. Mesmo assim, quando chegou sua vez, entrou na unidade sem qualquer dificuldade.

Ainda que determine o uso obrigatório para todas as pessoas que circularem em vias públicas, na prática, a regra ainda não é cumprida à risca. Em frente à uma lancheria da Azenha, funcionários que distribuíam panfletos do estabelecimento na calçada não tinham proteção alguma, nem respeitavam o distanciamento na hora de entregar o folder. Por pressa ou apreensão, quem passava não aceitava a abordagem.

Nas paradas de ônibus da Avenida Salgado Filho, no Centro, em meio à fila de espera do transporte, a maioria dos passageiros não abria mão da proteção. Mas o cumprimento da norma ainda não é total: há quem segure a máscara na mão e só a coloque no momento de embarcar no ônibus. Em vias como a Rua Doutor Flores, idosos e gestantes também se arriscavam sem máscaras, enquanto outros a utilizavam com o nariz para fora.

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— A gente percebe que poucos usam de forma certa e alguns, nem usam — descreve a funcionária de uma lancheria na Avenida Salgado Filho, que prefere não se identificar.

Mesmo com a maior parte dos estabelecimentos já abertos, o cliente entra com receio e em alguns casos pergunta antes se pode mesmo acessar o estabelecimento. Na Salgado Filho, as lojas de produtos de beleza, acessórios para celular, lancherias e óticas impõem distanciamento entre o atendente e o público e oferecem álcool gel na entrada. Uma loja de doces e guloseimas tem um cartaz com letras vermelhas logo na entrada: só entram três pessoas por vez.

Em bairros como Moinhos de Vento, Rio Branco, Bela Vista e Petrópolis, a circulação de pessoas, mesmo próximos a pontos comerciais abertos, é quase inexistente. Quem sai de casa, está com máscara. A única exceção flagrada pela reportagem foi em um canteiro de obras na Rua Quintino Bocaiúva, onde trabalhadores descansavam na calçada durante o intervalo sem proteção. Ao longo de quase toda Avenida Protásio Alves, o fluxo por volta das 13h era semelhante ao de um domingo. O mesmo cenário na Avenida Nilópolis. Na via que faz divisa entre os bairros Bela Vista e Petrópolis, a máscara não era usada apenas por quem corria ou andava de bicicleta.

— É muito raro ver alguém sem máscara. É todo mundo se cuidando. Uso desde o dia 15 de março e carrego outras três comigo, já me acostumei — afirma a auxiliar de serviços gerais Ana Viessuava, 64 anos.

Integrante do grupo de risco, ela vem de Cachoeirinha duas vezes por semana para trabalhar em um condomínio no bairro Bela Vista.

Para o infectologista da Santa Casa de Misericórdia, Cláudio Stadnik, é natural que haja dificuldade de adaptação à máscara, uma vez que isso já acontece com os próprios profissionais de saúde:

— Para eles já é extremamente difícil, leva meses de treinamento e de insistência no uso adequado dos EPIs (equipamentos de proteção individual), imagina para a população em geral. Não me surpreende essa dificuldade. Ela incomoda, coça, dá vontade de mexer e de arrumá-la.

É necessário tempo até que as pessoas se habituem ao uso correto e valorizem todos os cuidados necessários, avalia Stadnik:

— Não se pode levar a mão na máscara, mesmo que incomode. Não se pode tocar nela. Mas isso vai da insistência das pessoas no uso, é uma questão de costume, de automação. Se for colocar a mão na máscara, é preciso higienizar a mão antes e depois de mexer nela — ensina.



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