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Seu Problema É Nosso

No aniversário de 10 anos, grupo de balé luta por uma sede

Mantido por doações, iniciativa voluntária fará um espetáculo comemorativo no dia 2 de outubro

29/09/2022 - 16h16min

Atualizada em: 29/09/2022 - 20h06min


Lauro Alves / Agencia RBS
Cláudia (D) fundou o grupo e tem a irmã, Juliana (E), atuando como uma das professoras do grupo

De um lado, meninas do bairro Maria Regina, em Alvorada, recebem a oportunidade que muitas outras gostariam de receber: a de mudar suas vidas por meio da dança. De outro, Cláudia Souza Malta Costa, 22 anos, dedica-se, junto a outras professoras, a fazer o que muitos gostariam de fazer: ser agente dessas transformações. Só que manter o trabalho voluntário não é fácil e, hoje, a principal batalha dela e do grupo, que ensaia em um espaço cedido pela Escola Estadual de Ensino Médio Maurício Sirotsky Sobrinho, também no bairro Maria Regina, é por uma sede própria. Ou seja, um estúdio que conte com a infraestrutura necessária para o desenvolvimento e prática do balé.

– A escola não é o espaço mais adequado. Não é um lugar em que possamos instalar espelhos, por exemplo, ou que seja tão ventilado quanto precisaríamos – aponta.

Batizada de Independance, a iniciativa chega aos 10 anos de existência e coleciona batalhas. Momentos de glória e de dificuldades, muitas vezes, retratados nas páginas do Diário Gaúcho. Apesar disso, uma coisa nunca deixou de ser constante: a vontade de Cláudia, a fundadora, de dar cada vez mais condições para o aprendizado de suas mais de 80 alunas.

Jornada

Atualmente, todos os sábados, Cláudia deixa de lado o figurino de coordenadora administrativa de uma rede de escolas privadas para vestir collant e sapatilhas. Junto a ela, mais sete professoras – grande parte, ex-alunas que, depois de anos no grupo, trocaram de lado e foram compartilhar conhecimento.

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Cláudia, inclusive, é também uma ex-aluna, só que de outro projeto de balé, dentro do Escola Aberta do Colégio Estadual Erico Verissimo, de Alvorada. Foi o fim dessa iniciativa e, ao mesmo tempo, a morte do pai que encorajaram a então menina de 12 anos a dar início ao  Independance:

– Eu, minha irmã e minha mãe estávamos vivendo o luto pelo meu pai e pelo fim do balé no Escola Aberta. Então, a diretora do Sirotsky (em que ela e a irmã estudavam) me convidou para criar essa oficina, aos sábados, e ver se isso nos animaria.

Não só animou como se tornou um propósito, tanto para Cláudia quanto para a irmã, a auxiliar pedagógica Juliana Souza Malta Costa, 18 anos, que é uma das professoras do grupo. A paixão pela iniciativa é um dos laços que une a família.

– Vejo nas nossas alunas o que via em mim, a sensação de pertencer a um grupo. Sentir o que sentimos não tem dinheiro que pague – conta Juliana, que, antes de dar aulas, começou como aluna.

Além dela e de Cláudia, a mãe delas, Marlene de Souza Costa, 56 anos, também envolveu-se. É dela a responsabilidade de cuidar dos figurinos e da parte artística.

Celebração

Mantido por doações e pelas receitas obtidas com eventos e outras ações, o Independance se prepara para um momento marcante. No dia 2 de outubro, o grupo sobe ao palco de um teatro da Capital para o espetáculo que irá comemorar os seus 10 anos de existência.

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– Planejamos dois grandes ensaios gerais antes do fim de semana da apresentação e estamos com muita expectativa. Será a primeira vez delas em um teatro – diz Cláudia.

Ela conta que jamais imaginou que o projeto seria tão longevo e, nas palavras dela, “iria dar tão certo”. Um resultado que a professora atribui, em grande parte, ao apoio que recebeu e ao envolvimento da comunidade. E é assim que pretende alcançar novas metas:

– Espero que, nos próximos 10 anos, já tenhamos uma sede, para podermos atendê-las (as alunas) mais vezes na semana, como seria o ideal.

Mais que dança, família

– É cultura, é união, é saúde. Eu me emociono de falar – resume Janaina Furtado Gomes, 41 anos.

Ela é responsável por duas alunas do Independance: a filha, Ana Jullya Gomes Alves, 10 anos, e a sobrinha Lana Gomes Garcia, 11 anos. Janaina conta que o grupo funciona para ela e para as meninas como uma família e diz, ainda, que todas são tratadas sem qualquer tipo de diferenciação.

Isso, destaca, faz com que o envolvimento extrapole o balé.

– Ana Jullya foi para o balé de fralda, muito novinha, e elas me ajudaram a tirar. Quando minha irmã faleceu, de câncer, elas nos ajudaram muito e nos deram muito apoio – conta.

Destacando como Cláudia e a equipe de professoras apoiam na construção da maturidade das crianças, Janaina conta que a filha e a sobrinha se importam muito com a opinião das instrutoras. Segundo ela, o grupo se preocupa em cuidar das alunas além da dança, pensando no bem-estar, na situação familiar e social e até no desempenho escolar.

– Não é apenas chegar lá, dançar e ir embora. É um projeto muito importante, e deveriam existir outros, porque não tem interesse político, não tem interesse financeiro, não tem interesse nenhum. É só troca de carinho e de cultura – finaliza.

Como ajudar

/// O grupo aceita doações financeiras. Interessados devem entrar em contato pelo telefone (51) 99376-5943. 

Espetáculo de 10 anos

/// Quando: dia 2 de outubro (domingo), às 17h
/// Onde: Teatro do Ciee (Avenida Dom Pedro II, 861, bairro Higienópolis), em Porto Alegre
/// Ingressos: de R$ 20 a R$ 25
/// Como comprar: por meio do WhatsApp (51) 98612-7111

Produção: Guilherme Jacques



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