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Mais da metade das estações do trensurb apresenta problemas em escadas rolantes, elevadores ou banheiros

Blitz de GZH identificou serviços inoperantes em 12 de 22 locais

30/11/2022 - 22h13min


Bibiana Dihl
Bibiana Dihl
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Deslocar-se de trem pela Região Metropolitana e Vale do Sinos pode ser uma tarefa com muitos obstáculos, dependendo do itinerário dos passageiros. GZH fez uma "blitz" nas 22 estações da Trensurb e encontrou problemas que se repetem há anos e ainda aguardam solução: escadas rolantes paradas, elevadores que não funcionam e banheiros interditados são alguns deles.

A equipe de reportagem circulou pelos terminais no último dia 22, saindo da estação Novo Hamburgo às 7h10min e chegando à estação Mercado, em Porto Alegre, por volta das 13h. Em todos os 22 locais, GZH desceu e conferiu as condições dos espaços (veja, abaixo, o mapa com a situação de cada um). A blitz considerou a situação do lado de dentro das catracas, depois que o passageiro paga a passagem e ingressa na estação, em direção à plataforma.

Em oito locais, equipamentos usados para acessibilidade e que dão mais agilidade ao deslocamento dos passageiros estão estragados. Nas estações São Luís, em Canoas, e Mercado, na Capital, os elevadores que conectam a plataforma à estação não estavam funcionando — o que impossibilita, por exemplo, que cadeirantes transitem de uma a outra por conta própria. No caso da São Luís, inclusive, há apenas uma escada rolante em um dos sentidos.

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— Fizeram esse elevador novo (na estação São Luís), mas funcionou poucos dias e não funciona mais. Eu, por exemplo, viajo muito para Erechim. Vou com mala e, quando chego aqui, preciso puxar pela escada. Não tem escada rolante para descer também. Na estação Rodoviária, também tem um elevador velho que às vezes funciona, às vezes não — relata o aposentado Olívio Goncherenco, 73 anos.

Outras seis estações também apresentam uma ou mais escadas rolantes fora de operação: Novo Hamburgo, Santo Afonso, Unisinos, Sapucaia, Canoas e Rodoviária. Em alguns casos, os equipamentos estão apenas parados e, em outros, fechados por tapumes. Uma blitz semelhante feita por GZH em 2019 também encontrou seis escadas nessa situação.

— O problema das escadas rolantes é o que mais afeta em termos de mobilidade, porque às vezes tu precisa ter acesso à plataforma de forma mais ágil. Já aconteceu de eu perder o trem porque a escada não estava em funcionamento e não consegui subir a tempo — lamenta o engenheiro de aplicações William Lemos, 34, que pega o trem todos os dias na estação Santo Afonso.

A estudante de Psicologia Thais Borges dos Santos, 23, também reclama do mau funcionamento das escadas rolantes, principalmente na Rodoviária.

— Nunca funcionam. Os elevadores também têm falhas. Eu não preciso, porque não sou uma pessoa com deficiência, mas fico pensando nas pessoas que têm alguma deficiência e não conseguem se locomover. Fora que atrapalha no dia a dia: a gente utiliza só uma escada, então tem que esperar o pessoal descer para poder subir, e às vezes acaba perdendo o trem.

Banheiros interditados

Um outro problema percebido é a falta de banheiros disponíveis para uso ao longo do trajeto. Em seis locais, os sanitários estão totalmente interditados, tanto o masculino quanto o feminino: nas estações Sapucaia e Luiz Pasteur, em Sapucaia do Sul, Petrobras e São Luís, em Canoas, e Anchieta e Farrapos, em Porto Alegre.

Na Farrapos, uma placa informa que eles estão indisponíveis devido a vandalismo. Em outros locais, há faixas ou placas informando apenas que os banheiros estão interditados, sem explicação sobre o motivo.

— O banheiro faz muito tempo que não utilizo. Ou está quebrado, ou interditado como está agora. Até houve uma reforma, mas continua interditado. Mas as tampas sempre foram quebradas, portas abertas, nunca consegui trancar — relata a analista de transportes Vitória Lara, 23.

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Quem precisa usar os sanitários encontra também outros problemas. Espaços acessíveis para pessoas com deficiência não estão disponíveis nas estações Mathias Velho e Mercado.

Em alguns locais, é possível visualizar tampas quebradas ou problemas nas trancas das portas, o que não inviabiliza o uso. Há ainda casos em que o mau cheiro chama a atenção — como na estação Rodoviária, por exemplo.

Já na estação Unisinos, não há banheiros do lado de dentro das catracas. Assim, seria preciso pagar nova passagem para sair da estação e utilizar os sanitários.

Em ao menos três locais, há placas informando que as estações estão passando por obras para melhorias — é o caso da Unisinos, da Petrobras e da São Pedro. Dentre as melhorias previstas, estão adequação de corrimão, colocação de piso podotátil e reforma de sanitários para pessoas com deficiência (caso das duas últimas estações). Na Fátima, próximo aos banheiros, operários trabalhavam na colocação de piso podotátil — quem passava pelo local no dia 22 podia ouvir o barulho de uma britadeira.

Goteiras e falta de segurança

No dia em que GZH visitou as 22 estações, chovia na Região Metropolitana e no Vale do Sinos. Com o mau tempo, um outro problema ficou evidente: as goteiras.

Seja na estação ou na plataforma, a chuva transpassava o teto na Novo Hamburgo, Santo Afonso, São Leopoldo, Unisinos, Esteio, Canoas, Anchieta e Farrapos.

Na estação Unisinos, cinco baldes estavam dispostos para conter as goteiras. Mesmo assim, parte do chão estava bastante molhada. Na Santo Afonso, eram oito baldes de lixo na plataforma e outros cinco na estação. Na Esteio, eram 11 reservatórios tentando conter as goteiras.

Também chama a atenção a ausência de seguranças nas estações. A reportagem visualizou um profissional identificado como "segurança metroviário" em apenas um local, na estação Rodoviária. Na estação Mercado, há uma central de monitoramento, mas não foram encontrados agentes.

Circulando ao longo de todo o trajeto, também é possível perceber alguns fios soltos e estragos nas paredes, mas que não atrapalham o deslocamento dos passageiros. No período do dia 22 verificado por GZH, os trens circulavam sem atrasos.

Dentro dos vagões, a reportagem encontrou ainda ao menos sete pessoas vendendo produtos como comidas ou itens diversos, o que não é permitido. Sobre isso, a Trensurb afirma que age pontualmente ou quando há denúncia, e que depende da colaboração dos usuários, que não devem incentivar os comerciantes.

O que diz a Trensurb

Procurada por GZH, a Trensurb se manifestou a respeito de cada um dos problemas citados na reportagem. Em relação às estações sem elevadores, o que prejudica a acessibilidade, a empresa disse utilizar plataformas portáteis em escadas fixas para realizar o transporte de cadeiras de rodas.

O elevador da estação São Luís é novo e deve ser consertado dentro da garantia do equipamento, mas a Trensurb verificou uma possível infiltração no local que precisa ser solucionada primeiramente. Já na estação Mercado, os elevadores são considerados plataformas elevatórias, que ficaram sem condições de uso por falta de empresa que preste o serviço de manutenção — não houve interessados na licitação aberta. Assim, está sendo elaborado projeto para substituição dos equipamentos por elevadores convencionais.

Em relação às escadas rolantes, os problemas são diversos. Nas estações Canoas e Rodoviária, os equipamentos passam por inspeção e manutenção geral, processo realizado regularmente e que envolve limpeza e recuperação de todos os dispositivos que compõem a escada. A previsão é de conclusão em até 120 dias (quatro meses).

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Nas estações Novo Hamburgo e Unisinos, o motivo para as escadas paradas envolve infiltração — na primeira, a solução deve vir em até 45 dias e, na segunda, o problema "está sendo corrigido no momento", segundo a Trensurb. Na Santo Afonso, é necessária troca de corrimão, cuja fabricação sob medida foi encomendada — mas ainda não há previsão de retorno. Já a escada rolante da estação Sapucaia voltou a funcionar, conforme a empresa.

Sobre os banheiros, a Trensurb informou que os sanitários das estações Anchieta e Farrapos estão em manutenção e devem ser liberados nesta semana. Nos demais, o motivo da interdição são obras de acessibilidade nas estações — os banheiros devem ser liberados definitivamente nos próximos dias, após alguns ajustes. Nesses casos, segundo a empresa, "as únicas alternativas para o usuário são utilizar banheiros de uma estação em que estejam abertos ou usar um sanitário fora do metrô".

Ainda segundo a Trensurb, as pias que estavam interditadas durante a blitz de GZH já passaram por manutenção e podem ser utilizadas. Na estação Mercado, os banheiros adaptados para pessoas com deficiência estão em obras, que devem ser concluídas até o fim do ano. Já na Mathias Velho, não há banheiro adaptado — há projetos de melhorias na estação, porém a empresa ainda busca recursos para viabilizá-los em 2023. Em relação à estação Unisinos, onde não há sanitários do lado de dentro das catracas, não há previsão de instalação — a opção é um banheiro na área comercial da estação.

Sobre as goteiras, a Trensurb informou que há previsão para conserto de alguns problemas pontuais na cobertura da estação Novo Hamburgo em até 45 dias — depois disso, estuda-se fazer o mesmo na Santo Afonso. Nas demais, há necessidade de reformas das coberturas, o que traria a necessidade de uma licitação específica. A empresa busca viabilizar recursos no orçamento de 2023.

A empresa se manifestou ainda sobre a falta de seguranças metroviários nas estações. Conforme a Trensurb, a segurança metroviária trabalha com rondas móveis e monitoramento de circuito fechado de TV, além de postos fixos. Segundo a empresa, "se não há efetivo disponível em determinadas estações em determinados momentos, isso não significa necessariamente que não há postos fixos nesses locais, uma vez que a equipe de segurança pode ter que se deslocar para atender a alguma ocorrência ou prestar assistência a um usuário". A Trensurb não dá mais detalhes sobre a distribuição do efetivo por questões de segurança.


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