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Papo Reto 

Conselho de Manoel Soares: "Seja pai" 

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados 

12/08/2023 - 05h00min


GZH
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Paternidade não é passe de mágica, mas um processo acompanhado de escolhas

Neste domingo (13), vivemos mais um Dia dos Pais. Na minha família, temos alguns pais novos. Meu filho comemora seu segundo Dia dos Pais, e meu irmão caçula viverá o seu primeiro. Antes de tudo, é importante entender que paternidade não é um passe de mágica, mas um processo que nem sempre é poético e romântico, mas vem acompanhado de escolhas que definem também nosso caráter. No Brasil, mais de 15 milhões de crianças no últimos anos não tinham o nome do pai no registro, afora aqueles pais que apareciam no papel, mas não na vida.

Existem dois lados do exemplo: aquele que faz o oposto do pai ausente e decide ser para o filho aquilo que nunca recebeu, mas tem também aquele vê na irresponsabilidade paterna um caminho. Infelizmente, esse segundo exemplo é o mais seguido. 

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Nossa relação equivocada com a paternidade, quando falamos da periferia, está diretamente ligada às marcas sociais da escravidão. Ter filhos no período colonial e escravista era abrir a porta para a dor, pois seus filhos seriam sua responsabilidade caso a criança fizesse algo errado que afetasse a vida de seus donos. Quando ganhavam idade de venda, as crianças poderiam ser tiradas dos pais a qualquer momento. Quando esse processo iniciava, havia um fato cruel, pouco falado nas literaturas do seguimento: o amor era uma fraqueza. Imaginem vocês um filho cujo pai poderia ser vendido a qualquer momento, ele lutaria para ficar com o pai, e isso faria dele um escravo rebelde que precisaria ser castigado ou morto. 

Sendo assim, se o pai na época da escravização amasse seu filho, tinha que ensinar ele a não demonstrar ou nutrir esse amor, pois isso o deixaria vulnerável. Essa dureza é diferente da dureza masculinizada das comunidades do eurocentrismo. A rigidez emocional herdada do escravismo migrou para as comunidades negras libertas e, aos poucos, quem amava mesmo era mais forte. Assim, criamos a cultura do não amor paterno nas periferias. 

Quebrar esse ciclo exige dedicação e disciplina. Não amar nossos filhos com a intensidade necessária é mais fácil, mas é como chupar bala com papel, é uma experiência falha. Meu desejo é que você seja pai no resto do ano também, pois além de recuperar o que lhe foi tirado, vai viver algo mágico.


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