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Área de risco

Muro de contenção começa a ser construído em trecho da Rua da Represa

Parte do talude da via desmoronou durante a temporal que atingiu a Capital em dezembro de 2023

30/01/2024 - 05h00min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Lauro Alves / Agencia RBS
Adriele Oliveira reside com o marido e três filhos na casa, que fica a poucos metros do talude.

Há anos a Rua da Represa, no bairro Coronel Aparício Borges, na zona leste de Porto Alegre, é um lugar que demanda atenção, tanto dos moradores quanto da prefeitura. Novamente, a região sofreu com recentes eventos climáticos. Desta vez, um talude cedeu próximo da casa onde mora a vigilante Adriele Oliveira, 33 anos, com o marido e os três filhos. A situação ocorreu durante as chuvas no mês de dezembro em 2023. 

Segundo a moradora, antes de acontecer o desmoronamento da terra, que fica a poucos metros da fachada de sua casa, ela já tinha alertado o poder público sobre o risco e pedido apoio. A parte que cedeu levou também um pedaço da rua, que ficou mais estreita. Atualmente, para um carro passar no trecho, subindo ou descendo a rua, o outro tem que esperar.  

— Vieram aqui (uma equipe da prefeitura) e falaram que, como era dentro do pátio, era comigo a (solução para a) situação. Eu pensei em juntar dinheiro para ver se conseguia fazer a obra. Aí, teve um dia em que eu estava cozinhando o almoço e deu um barulhão. Tinha chovido a madrugada toda e continuava no dia. Passou um carro e eu só vi que caiu metade da rua — recorda Adriele, que mora no mesmo pátio onde residem seus cunhados com um filho. 

Devido à gravidade da posição do talude que desmoronou em relação à estrada e às casas, a prefeitura trabalha no local para evitar que a situação piore. Desde o dia 3 de janeiro, equipes da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) fazem a construção de um muro de contenção. 

No entanto, o clima tem dificultado o trabalho, que é feito manualmente devido ao acesso complicado ao local. No dia em que a reportagem esteve no local, na quinta-feira (25), o engenheiro civil da prefeitura, Daniel Vonghon, da Divisão de Conservação de Vias Urbanas (DCVU), explicou que a equipe estava montando a armadura, mas a chuva fez com que enchesse de água a base da estrutura. Desta forma, os funcionários aguardavam um caminhão do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) ir até o local para drenar a água. 

— Eles estão parados agora porque aguardam o Dmae para bombear a água. Depois da armadura, tem a montagem das fôrmas e da caixa. Acredito que esteja pronta até no máximo final de fevereiro — explica o profissional.   

Segundo o engenheiro, houve no local a escavação no talude, que é o barranco natural. 

— Provavelmente para aumentar o terreno, os moradores escavaram. Com as chuvas de agora, desmoronou. A solução é a construção do muro — diz Vonghon. 

O muro terá 2,50 metros de altura por 7 metros de comprimento.

O muro de contenção é preventivo, para que não prejudique ainda mais a passagem dos carros e dos pedestres. Fizemos um projeto, estamos executando, vai aumentar um pouco a via e vai dar mais estrutura. É preventivo, para segurança de quem passa na rua e de quem mora nas casas. A obra tem uma complexidade porque tem que ser praticamente toda manual —  disse o secretário da SMSUrb, Marcos Felipi Garcia.

Rua está entre as áreas de risco

De acordo com a pasta, dependendo das condições climáticas, a programação pode ser alterada. Notícia que preocupa quem mora no pátio e também a líder comunitária e conselheira da Região Partenon, Maria Elisabete Marques Bones, 63 anos: 

— Os rapazes vêm trabalhar, mas a função da chuva e a demora para secar a água, deixam mais longe a finalização. Mas o medo é constante

Outro temor é que algo ocorra enquanto um carro passa pela rua. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Espaço em frente à porta da casa se tornou canteiro de obras para a construção do muro .

— Morro de medo dos carros que passam aqui, fora os caminhões pesados. Com o muro, vai ficar mais seguro — diz Adriele, que priva suas filhas de brincarem no pequeno espaço em frente à casa, pois agora é um canteiro de obras. 

A região é uma das classificadas como de risco "muito alto" para enxurradas e erosão do solo na margem do arroio (veja abaixo a classificação oficial utilizada pela Defesa Civil), de acordo com  relatório da prefeitura, que foi divulgado em abril de 2023. À época, o documento mapeou 119 pontos na Capital. 

Em menos de uma década, dois moradores da Rua da Represa perderam a vida em razão das enxurradas. A primeira vítima foi Carine Gonçalves, 35 anos, que em junho de 2017 foi arrastada pela água junto de sua casa para dentro do arroio. No caso mais recente, em agosto de 2022, Daner Hernandez Silva, 45 anos, ajudava familiares a deixarem suas casas em meio a um temporal quando caiu na água e foi levado pela correnteza.

Em busca de recursos

Ainda no ano passado, representantes do banco alemão KfW estiveram na Rua da Represa. A visita fez parte de uma rodada de negociações para a elaboração da carta consulta a ser apresentada ao Tesouro Nacional, visando a contratação de operação de crédito com aval da União. Conforme a prefeitura da Capital, o KfW atua em projetos relacionados a temas como mobilidade, cidades resilientes e desenvolvimento urbano e, além disso, presta apoio para implementação de projetos que comprovem a sustentabilidade técnica, financeira e ambiental.

O financiamento projetava, ano passado, a captação de 100 milhões de euros, e a prefeitura pretende utilizar esses recursos em projetos de drenagem urbana, com prioridade para três arroios: Moinho, Guabiroba e Cavalhada. A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Habitação e Regulação Fundiária (SMHARF), que estava responsável pelos trâmites do projeto. Conforme a pasta, no dia 12 de janeiro, "a segunda versão da carta consulta estava em análise na Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex). Agora, a secretaria aguarda para ver a possibilidade de contração do financiamento. "Caso seja aprovada, iniciamos os processos de contratação dos estudos, projetos para obras (execução) e trabalho social", diz a pasta. 

Enquanto isso, a conselheira da região continua a luta para que os diversos pedidos em relação a melhorias na rua sejam atendidos antes de uma nova tragédia:  

— Na parte da casa 505, lá em cima, está muito ruim. Pedimos muito para secretaria o patrolamento mais seguido, porque lá para cima não tem piche, não tem asfalto. Além disso, tem muito esgoto a céu aberto. Precisamos de mais limpeza no arroio. Já passei tudo (para as equipes) por vídeos e fotos. 

Entenda os tipos de risco para essa região

  • Enxurrada — Escoamento superficial de alta velocidade e energia, provocado por chuvas intensas e concentradas, normalmente em pequenas bacias de relevo acidentado. Caracterizada pela elevação súbita das vazões de determinada drenagem e transbordamento brusco da calha fluvial. Apresenta grande poder destrutivo.
  • Erosão de margem fluvial — Desgaste das encostas dos rios que provoca desmoronamento de barrancos.

Fonte: Tabela de Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade)









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