Polícia



Boletim de Ocorrência

Renato Dornelles: "Rio, São Paulo e Santa Catarina são logo aqui"

02/12/2015 - 15h27min

Atualizada em: 02/12/2015 - 15h27min


Lembram dos acontecimentos do verão passado em Santa Catarina, com ônibus (inclusive de turistas) queimados em várias cidades, em ações articuladas dentro de presídios? Lembram dos inúmeros ataques do autointitulado Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo? Lembram do Comando Vermelho (CV) também incendiando ônibus, mandando fechar o comércio em várias regiões do Rio de Janeiro?

Pois é. A triste realidade é que o Rio Grande do Sul, principalmente a Capital e a Região Metropolitana, estão seguindo no mesmo rumo. Sei que não faltarão opiniões de que estou sendo alarmista ou sensacionalista.

Foi assim quando, há uns 20 anos, iniciei as pesquisas e as entrevistas que resultaram no livro Falange Gaúcha, lançado em 2008. Algumas autoridades diziam, entre outras coisas, que eu estava fora da realidade, pois "aqui não existia crime organizado".

Hoje, não há como não admitir a existência de tais organizações, uma vez que o próprio Estado, através do Executivo, Judiciário,  Ministério Público, Defensoria Pública, entre outros poderes e instituições, admite sua existência e, em alguns casos, até negocia com elas.

Mas, mesmo admitindo a formação de facções, algumas autoridades e parte da sociedade ainda relutam em reconhecer o seu poderio. É bem verdade que não há no Rio Grande do Sul uma organização hegemônica como o PCC, o Primeiro Grupo da Capital (PGC), de Santa Catarina, ou o CV.

Por aqui, são várias facções atuando. Dentro do Presídio Central, há pelo menos sete. Se, por um lado, isso aparentemente pode ser favorável - pois, divididas, as organizações não são tão poderosas -, por outro lado, é um problema maior, uma vez que, além da guerra com a polícia e com o restante da sociedade, as disputas entre elas não raras vezes atingem inocentes. Principalmente com balas perdidas.

Além disso, recentes operações policiais comprovaram que os grupos gaúchos estão com muito poder de fogo (comprovado pela apreensão de armas de uso restrito, como fuzis, submetralhadoras, entre outras), e movimentando e lavando milhões de reais.

Outros ônibus já haviam sido queimados por aqui, em datas diferentes e em decorrência de episódios diversos. Desta vez, foram cinco e um lotação em uma única noite.

Portanto, está mais do que na hora de o Estado, enquanto instituição, admitir a existência de um forte crime organizado e combatê-lo de forma eficiente, com trabalho de inteligência, antecipando-se e reprimindo as ações criminosas. Caso contrário, a sociedade seguirá refém.


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