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Depois da bariátrica

Miss que perdeu 80kg fala sobre preconceito: "Fui ofendida da pior maneira possível"

Sabrina Sgarbi, gaúcha de Marau, precisou lidar com agressões de concorrentes em concursos de beleza

18/11/2016 - 17h07min

Atualizada em: 18/11/2016 - 19h07min


Ana Karina Giacomelli
Ana Karina Giacomelli
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Quem olha a elegância da miss Sabrina Sgarbi, gaúcha de Marau, município do Norte do Estado, não imagina o martírio que a jovem passou para chegar ao peso considerado ideal nos concursos de beleza. A loira de 25 anos e 1,70m de altura chegou a pesar 140kg, fez uma cirurgia bariátrica, perdeu 80kg e, desde então, conquistou 15 títulos de beleza na carreira.

Mas apesar de ter trilhado uma trajetória de sucesso, nem tudo foram flores nesse caminho. Além de ter que manter o foco na dieta e nos exercícios físicos, ela ainda precisou lidar com o preconceito.

– Depois que eu fiz a cirurgia e entrei para esse mundo das misses, passei a ouvir coisas absurdas como "o que essa ex-balofa está fazendo na passarela?" e "olha a miss pelanca chegando". É uma chuva de atrocidades. Fui ofendida da pior maneira possível – lamenta.

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Sabrina registrou um boletim de ocorrência na delegacia da sua cidade, na tentativa de frear as ofensas. Algumas pessoas chegaram a criar perfis falsos na internet só para fazer bullying com a jovem. No concurso Miss Mundial, realizado no Peru, em 2016, após conquistar o primeiro lugar, Sabrina ouviu de outras candidatas que era um absurdo dar o título a ela, já que havia tantas concorrentes com o corpo perfeito.

– Quase apanhei no camarim depois da cerimônia. Sei que muitas eram lindas e perfeitas, mas não é só isso que conta na disputa. A cultura e o conhecimento da cidade que representamos também é muito importante. Hoje em dia, graças a Deus, os concursos estão abrindo as portas para todo tipo de mulher – ressalta.

Cirurgia

Sabrina costuma participar de competições que não exigem trajes de banho. Ao pular do manequim 54 para o 38, ficou com pele sobrando e estrias, mas optou por não fazer plásticas. Ela conta que só fez a bariátrica por questões de saúde, não por estética, já que sofria com o efeito sanfona desde criança. Mas, dos 16 até os 21 anos, fase em que mais ganhou peso, passou a ter problemas de articulação, respiração, pressão alta e gordura no fígado.

– Nesta época, fiz várias dietas, tomei remédios e consegui chegar aos 100kg. Mas, quando interrompi o uso do medicamento, engordei 30kg.

Conforme o médico Fernando Rogerio Beylouni Farias, Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, a cirurgia bariátrica só deve ser realizada em casos como o de Sabrina, que estava obesa e possuía patologias graves comprovadas, ou em situações de obesidade mórbida.

– Ainda existem pessoas que não têm uma informação correta sobre a bariátrica. Quem passa pela cirurgia sofre uma transformação importantíssima no traço digestivo. É um procedimento que não pode ser banalizado – enfatiza o especialista.

Fernando explica, ainda, que, após a cirurgia, deve existir um acompanhamento continuado, porque o risco de voltar a engodar é muito grande:

– Neste caso, a escolha da equipe disciplinar que irá avaliar o paciente e acompanhá-lo durante o processo é decisiva.

Sabrina conta que, ao chegar ao ápice do seu peso, já não conseguia fazer coisas simples como subir escadas, usar salto, dirigir ou mesmo sentar em uma cadeira. Sem contar a autoestima que já não existia mais.

– Para não sofrer ainda mais, passei um bom tempo longe do espelho – relembra.

Cabeça no lugar

Segundo a psicóloga bariátrica Debora Gitman Gleiser, especialista em obesidade e membro do Grupo de Estudos das Cirurgias da Obesidade e Metabólica, a mudança do paciente após a cirurgia é enorme, não só pela perda de peso, mas pela melhora emocional, tendo em vista que muitas pessoas entram em depressão por conta do problema.

– Essa é uma das doenças que geram maior preconceito. Depois de emagrecer muitos quilos, o paciente volta a ter ânimo e autoestima. A pessoa opta por situações que lhe trazem mais benefícios, sentem-se mais seguras e disciplinadas. Isso traz um equilíbrio de vida – argumenta Débora.

A especialista afirma que é comum ouvir relatos de pacientes que são discriminamos no trabalho, na sociedade, entre amigos e, até mesmo, na família.

– Eles são vistos, erroneamente, como fracos, relaxados e preguiçosos. Mas, na verdade, não se trata de fraqueza e sim, de doença. Ninguém é obeso porque deseja ser assim – salienta.

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Mesmo sofrendo preconceito, Sabrina deu a volta por cima. Vegetariana desde os 16 anos, a jovem segue firme na dieta, mantendo o peso de 60kg. Fez mamoplastia para retirada de pele no seio e colocou prótese de silicone. Quanto à pele que ficou sobrando nas demais partes do corpo, diz não se incomodar:

– Sinto orgulho. As peles que sobram e as estrias mostram que eu venci a obesidade. A mudança de hábitos alimentares será eterna, mas não me importo. Gosto de cozinhar, faço receitas saudáveis e estou muito feliz com o meu corpo – avalia.

Futuro

Sabrina é exemplo para muitas pessoas que desejam aderir a uma vida mais saudável. Além de ser colecionadora de títulos de beleza, criou um blog e um canal de vídeos no YouTube onde dá dicas sobre bem-estar e como aumentar a autoestima. Em quatro anos, teve mais de sete milhões de visitas e 70 mil inscritos.

A cada vídeo postado, a gaúcha demonstra o orgulho pela transformação. A jovem também viaja o Estado para dar palestras sobre o tema. É noiva de um empresário que a conheceu há 12 anos e acompanhou todo o seu processo de ganho e perda de peso. Assim como a família, ele foi um dos maiores incentivadores de Sabrina durante o processo de emagrecimento. Tem planos de casar no próximo ano e lançar um livro – que está finalizando – sobre a sua história. Seu lema? Foco, força, fé e faça!

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