Seu problema é nosso
Repasses atrasados interrompem atendimentos de fisioterapia em Sapucaia do Sul
Segundo os proprietários de três clínicas que atendem via Sus na cidade, os repasses estão atrasados desde janeiro
Há mais de um ano, a costureira Iolanda Moreira Melo, 73 anos, de Sapucaia do Sul, sofre com desgastes nas cartilagens da coluna. Para minimizar o problema, no início de 2018, recebeu orientação médica para fazer 30 sessões de fisioterapia, conciliando com uso de analgésico.
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Quando procurou o serviço via SUS, descobriu que as três clínicas conveniadas à prefeitura estão sem receber repasses de verbas e, por isso, paralisaram as atividades.
— Não posso ficar sem fisio, minha médica diz que eu tenho que me movimentar para não piorar o meu problema — lamenta Iolanda.
Como ela, a confeiteira desempregada Michele Pacheco da Silva, 28 anos, também sente as consequências da falta de atendimento. Ela fraturou uma das pernas há quatro anos, o que causou um encurtamento de tendão e limita seu caminhar.
— Fiquei mais de um ano em cadeira de rodas por causa da perna atrofiada. As sessões de fisioterapia me ajudaram muito. Hoje consigo ficar de pé. Além disso, as sessões diminuem as minhas dores e o inchaço — explica.
Proprietária da Unifisio, a fisioterapeuta Laíse Gonzalez, 29 anos, avalia como muito prejudicial aos pacientes o corte nos atendimentos, porque muitos necessitam de tratamentos contínuos. Ela lembra que, no ano passado, as clínicas não receberam no prazo determinado referente aos meses de outubro, novembro e dezembro. Segundo ela, os valores foram recebidos em janeiro.
— Agora, novamente, estamos desde janeiro sem receber. Não houve pagamento dos meses de janeiro, fevereiro e março — diz.
Laíse esclarece que há um documento, intitulado empenho, referente aos valores que cada clínica tem direito a receber. A cada ano, um novo documento deve ser feito e liberado pela prefeitura.
— Nos enrolam desde janeiro, dizem que não há previsão de sair. Sem os documentos, as clínicas não podem entregar as notas. Ou seja, é como se as clínicas não tivessem vínculo nenhum com a prefeitura — explica.
Greve
No dia 2 de abril, as clínicas se reuniram e entregaram um ofício à prefeitura. Nele, exigiam pagamento imediato, ou dariam início a uma greve — e foi o que fizeram, quatro dias depois. Neste dia, a prefeitura liberou o empenho e pediu, com urgência, as notas fiscais das clínicas.
— Até hoje, após uma semana de paralisação, nenhum pagamento foi feito. Só nos dizem que não há previsão, mas que está para sair. São em torno de 800 pacientes, de todas as clínicas, que estão sem atendimento. E cada paciente faz, em média, dez sessões. Ou seja, são 8 mil sessões — lamenta Laíse.
Por meio de redes sociais, a clínica Serfisio também se manifestou a respeito da paralisação:
— Estamos atendendo o povo sapucaiense há mais de 90 dias sem receber um centavo da prefeitura. Só ouvimos a frase: "Sem data de previsão de pagamento".
As três clínicas conveniadas confirmaram o atraso nos repasses de verba por parte da prefeitura.
Prefeitura fará pagamentos até amanhã
Segundo o secretário de Saúde de Sapucaia do Sul, Neio Lúcio Pereira, o valor referente à verba que a prefeitura deve às clínicas já está no caixa do município. Neio informou, via assessoria de imprensa da prefeitura, que os valores serão liberados conforme as clínicas forem apresentado "as notas fiscais que comprovam a prestação dos serviços de fisioterapia".
O secretário disse ainda que a clínica Serfisio já apresentou os documentos e deve receber os repasses ainda hoje. As outras duas clínicas, assim que entregarem a comprovação dos atendimentos, terão os valores liberados. A previsão é de que a situação esteja regularizada até amanhã, segundo Neio.
A administração municipal não confirmou se o dinheiro que está sendo repassado corresponde aos três meses de atrasos nos pagamentos.
*Produção: Eduarda Endler