Seu problema é nosso
Prefeitura começou, mas não terminou construção de escola em Cachoeirinha, frustrando moradores
Obras começaram em 2013, com promessa para conclusão em um ano. Entretanto, cinco anos depois, prédio está abandonado
Em 2013, a promessa de construção de uma escola na Rua Manoel Cândido da Rosa entusiasmou a comunidade do bairro Moradas do Bosque, em Cachoeirinha. Porém, com a paralisação das obras em 2016, essa expectativa foi frustrada.
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Mãe de um menino de dois anos, a dona de casa Giovana Rodrigues Leal, 42 anos, sente os efeitos da demora na finalização da escola. No ano passado, Giovana tentou matricular o filho numa creche no bairro vizinho ao Moradas do Bosque, mas não conseguiu. Por enquanto, a criança está sem ir às aulas, e a dona de casa não sabe como serão os próximos anos:
— É um absurdo. Eu fico revoltada não só com o fato de ter essa obra parada, mas também pelo fato de que nunca tivemos um retorno dos órgãos responsáveis.
O motorista Luis Eduardo da Silva Cachapuz, 43 anos, que mora há cinco anos no bairro, também lamenta a situação. Mesmo sabendo que seus filhos de 14 e 20 anos não frequentariam a instituição, ele sente a decepção de muitos vizinhos que poderiam estar sendo favorecidos:
— Tentamos fazer do bairro um lugar melhor para viver. Ter a escola aqui facilitaria a vida de muitas famílias. Muitos outros moradores torcem pela finalização da obra.
Paulo Cezar Ribeiro, 32 anos, é motorista e pai de uma menina de sete anos e de um menino de nove anos. Em 2013, quando foi colocada uma placa no terreno com dados sobre a obra, no começo da construção, a promessa era de que a instituição ficaria pronta em um ano. Entretanto, cinco anos já se passaram, e nada foi concretizado.
— É muito frustrante. Temos que caminhar cerca de um quilômetro para ir e voltar até a escola dos meus filhos. Ter essa opção aqui perto seria melhor para a rotina dos pequenos e dos pais, também — relata Paulo.
Retomadas, interrupções e nada de conclusão
Paulo lembra que a obra foi iniciada e interrompida mais de uma vez. Numa das retomadas, acreditou que a promessa seria cumprida. Porém, não foi o que aconteceu:
— A cada nova tentativa, mudava a construtora e, com o tempo, as placas que sinalizavam o projeto foram sendo retiradas. Agora, é puro abandono.
O sentimento de desamparo também é o de Luis. Em março deste ano, ele percebeu alguma movimentação no local, mas, em menos de um mês, tudo parou.
— Não sabemos se é municipal ou estadual, se vai ser terminada. Quando cobramos um retorno dos órgãos públicos, a resposta é sempre evasiva. Eles vão passando de setor em setor, sem ninguém ter uma palavra final — desabafa Luis.
Patricia Damaceno, 40 anos, é jornalista e tem uma filha de quatro anos, que frequenta uma creche privada.
Ela sente-se lesada pelo desperdício dos impostos pagos, uma vez que todo o investimento caiu no abandono.
Sem previsão para a finalização
A Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Cachoeirinha informou que, em dezembro de 2016, foi rescindido o segundo contrato feito para a realização da obra. A decisão foi tomada, segundo a prefeitura, por "falta de comprometimento da empresa" e acarretou aplicação de uma multa contratual.
Para combater atos de vandalismo após a rescisão do contrato, a prefeitura construiu um gradil na área — no qual foram investidos R$ 72.546,52. A Smed garantiu que a obra está em fase de "orçamento junto à Secretaria do Planejamento, Governança e Gestão (Seplan) para que seja realizado um novo processo", visando sua conclusão.
O município declarou que a previsão de término dos trabalhos da Seplan é até o final deste mês. Em seguida, a nova licitação será aberta. A prefeitura se responsabiliza pela obra enquanto não há nova empresa contratada. Quando estiver pronta, a escola deverá atender em torno de 180 alunos da Educação Infantil.
A assessoria de comunicação de Cachoeirinha explicou que a obra foi iniciada e paralisada duas vezes. Nos contratos feitos em 2013 e 2014 — com pagamentos de R$ 541.899,89 e R$ 528.016,90, respectivamente, com verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), mais R$ 162.086,23 de contrapartida do município —, alega que não houve atrasos nos pagamentos às empresas responsáveis.
*Produção: Leticia Gomes